Suzana
Kahn
Só os alinhados à quarta revolução passarão para a “próxima fase”, o
que pode ser entendido como ‘darwinismo’ tecnológico
Várias revoluções foram moldando o mundo no decorrer dos séculos.
Somente aqueles que mais bem sobreviveram a elas, tal como em um jogo,
conseguiram passar para a fase seguinte. O livro “Sapiens”, de Yuval Noah
Harari, apresenta três revoluções que definiram o rumo da História: a
Cognitiva, há 70 mil anos; a Agrícola, há 12 mil anos; e a Científica, iniciada
há 500 anos, que, de acordo com o autor, pode colocar um fim à História e dar
início a algo bem diferente.
Em menor escala de tempo, costumamos segmentar nosso desenvolvimento
econômico e social em quatro fases. A Revolução Industrial, no século XVIII,
com a máquina a vapor substituindo a energia humana. O uso da eletricidade e do
petróleo, entre outros avanços tecnológicos, propiciou a manufatura em massa,
caracterizando a Segunda Revolução Industrial, na segunda metade do século
XIX.
A eletrônica, a tecnologia da informação, a biotecnologia, as
telecomunicações, o intenso uso de computadores pessoais e da internet
alteraram fortemente a economia e as relações sociais, a partir de meados do
século XX, configurando a Terceira Revolução Industrial.
Atualmente, presenciamos a Quarta Revolução Industrial, com uma
convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Esta mudança
provocará profundas alterações nos sistemas econômicos, que passarão a ter como
objetivo a melhoria das condições globais de vida e bem-estar da sociedade, em
vez do mero crescimento na produção de bens e serviços demandantes de energia e
outros recursos naturais. Só aqueles alinhados a essa nova revolução serão
capazes de passar para a “próxima fase”, o que pode também ser entendido como
“darwinismo” tecnológico.
Neste momento, em que a sociedade brasileira escolherá seu presidente
e representantes legislativos; a fluminense, o seu governador, é fundamental
avaliarmos os compromissos relativos à inclusão do Brasil e do Estado do Rio de
Janeiro na Quarta Revolução.
O Estado do Rio tem todas as condições de não apenas participar desse
movimento, como de ser uma de suas lideranças. Concentra importantes
universidades, institutos e centros de pesquisa, que poderão ajudar a promover
essa revolução, por meio da inovação tecnológica, alinhada com soluções que
contribuam para o desenvolvimento econômico e social, respeitando os limites dos
recursos naturais, e promoção de ações para redução dos impactos ambientais e
dos gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global.
A tecnologia digital deve estar incluída em todos os setores de
governo, promovendo eficiência e transparência. A tecnologia da informação
exigirá cada vez mais profissionais qualificados, trazendo como impacto
negativo a perda de muitos postos de trabalho. No entanto, vale ressaltar que
também são as inovações que produzem novos serviços, novas estruturas organizacionais,
novas formas de financiamento e novas práticas de consumo. Como o setor de
serviços é muito significativo em nosso estado, e este setor é intensivo em
capital humano e intelectual, trata-se de oportunidade para a compensação dos
postos de trabalho cada vez mais reduzidos por conta da automação e das novas
tecnologias.
Mas precisamos nos preparar, em termos de planejamento e soluções,
para que possamos equacionar essa transição. Basicamente, as áreas com grande
potencial de inovação e geração de empregos nas próximas décadas envolvem bens
e serviços associados a uma economia de baixo carbono, serviços de alta
tecnologia, modelos avançados de produção e indústrias criativas. E cada região
do Estado do Rio possui uma ou mais dessas potencialidades. É preciso estar
atento que, para participar desta revolução, o Rio precisará fortemente da
ciência e tecnologia, que são as bases de sustentação para trilharmos o caminho
do desenvolvimento e crescimento sustentável e responsável, garantindo o
compromisso com a qualidade de vida da população. Urge a necessidade de
política pública fundamentada em inteligência, ética e responsabilidade.
Para os descrentes na política, vale uma reflexão de
Toynbee: “o maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que
serão governados
pelos que se interessam .”
Suzana Kahn
é professora da Coppe/UFRJ e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ
O
Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário