quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Conversas com economistas

ALMIR PAZZIANOTTO PINTO

No livro “Conversas com economistas”, que traz como subtítulo “Os Novos Economistas Clássicos e seus Opositores Falam Sobre a Atual Controvérsia em Macroeconomia” (Livraria Pioneira Editora, 1983), o autor, professor Arjo Klamer, após entrevistar economistas do calibre de Robert Lucas, Franco Modigliani, James Tobin, Thomas J. Sargent, Alan Blinder, indaga:

“Pode o governo ajudar a estabilizar a economia através de políticas intervencionistas ativas?” Segundo Arjo Klamer “a pergunta é particularmente relevante num mundo suscetível a dolorosas oscilações do nível de atividade econômica e no qual está havendo uma elevação dos níveis de desemprego”.

A observação é certeira para o Brasil, onde as atividades econômicas entraram em curva descendente há mais de 30 anos, com breves espasmos de crescimento, e o desemprego alcança o alarmante índice de 13%, remetendo mais de 13 milhões para filas de espera de empregos inexistentes.

Os candidatos à presidência da República dão eloquentes demonstrações de silêncio diante do assunto. Assessorados por doutores em economia priorizam a reforma da Previdência, o ajuste fiscal, hipotéticas privatizações, o sistema tributário. O massivo desemprego é citado em mantras como “geração de emprego e renda”, na suposição de que o efeito mágico de algumas palavras será capaz de resolver o mais desafiador dos problemas sociais.

A crise no mercado de trabalho aprofunda-se há anos. Explodiu no governo de Dilma Roussef, e permanece sem esperanças de soluções com o presidente Michel Temer. Não surgiu do nada. É produto da falta de planejamento, da corrupção e de erros acumulados ao longo de décadas, agravados por fatores externos como a globalização, informatização, robotização, além da insegurança causada pelo envelhecimento de legislação que a reforma trabalhista não consegue modernizar.

Geração de empregos exige pesados investimentos em setores de utilização intensiva de mão de obra, como na construção civil, de rodovias e de ferrovias. Conhecemos a precariedade das redes ferroviárias e rodoviárias e os gargalos da infraestrutura portuária e aeroviária. Recente matéria publicada pelo jornal “O Estado” revela, com dados da ANTT, que “dos 28 mil km. de malha ferroviária no Brasil, 8,6 mil estão deteriorados e não podem ser usados por empresas”. Informa que 63% do transporte de cargas no Brasil é feito por rodovias, 21% das cargas são transportadas por ferrovias, 13% por hidrovias e 3% por dutos (ed. 7/6, pág. B6). Segundo o mesmo jornal a velocidade das ferrovias caiu para o menor nível em 15 anos. Em longos percursos os comboios circulam a menos de 10km/hora (ed. 2/1, pág. B1).

A paralisação dos caminhoneiros provocou prejuízos irrecuperáveis. Não teria havido ou sido tão grave se o Brasil contasse com malha ferroviária compatível com a extensão do território e as necessidades dos setores produtivo. Os países do primeiro mundo construíram sistemas ferroviários de transporte de passageiros e de cargas para não dependerem maciçamente de caminhões movidos a diesel. A moderna China conta com 124 mil quilômetros de ferrovias normais, para passageiros e cargas, e 24 mil quilômetros de ferrovias onde trens de passageiros circulam a velocidades superiores a 200 km/h. Não satisfeito o governo chinês investiu, nos últimos dois anos, US$ 19 bilhões na construção de ferrovia e de um porto destinados a conectá-la com a União Europa.

Recuso-me a traçar paralelos entre realidades distintas, como as que temos no Brasil e o pouco que sei da China. Pergunto, porém, como compreender o salto gigantesco dado pelos chineses nos últimos 30 anos, período no qual o nosso País mergulhou na crise cujos principais resultados consistem na desindustrialização, no endividamento, no empobrecimento e no desemprego? O problema estaria na falta de coragem, criatividade e dinamismo dos economistas, dos planejadores, dos executivos, ou na péssima qualidade dos políticos “democraticamente” escolhidos pelo povo?

Diário do Poder


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