FEDERICO RIVAS MOLINA
Macri anuncia que o
acordo garante o pagamento dos vencimentos de dívida até 2019
A Argentina não
entrará em default. Nem neste ano, nem no ano que vem. Em uma mensagem de
menos de dois minutos transmitida pela televisão antes da abertura dos
mercados, o presidente Mauricio Macri anunciou
um acordo com o Fundo
Monetário Internacional (FMI) para “antecipar todos os recursos
necessários” ao cumprimento do programa financeiro até dezembro de 2019. O
dinheiro é parte do resgate de 50 bilhões de dólares (206 bilhões de reais)
assinado com o Fundo em junho. Agora, porém, o envio desse montante a
Buenos Aires não dependerá nem do calendário nem do cumprimento das metas
fiscais. Macri tentou assim neutralizar a desconfiança dos mercados quanto à
capacidade de pagamento da Argentina, refletida neste mês numa alta de 23% do
risco país e numa depreciação de 14% do peso em relação ao dólar.
A
Argentina sofre com o fortalecimento do dólar em nível global, como outros
mercados emergentes. Mas sente muito mais a tormenta por sua
vulnerabilidade, fruto da necessidade de financiamento de um déficit fiscal que
supera 4% do PIB. Em maio, quando os mercados fecharam a torneira do dinheiro
externo, Macri recorreu ao FMI, um “prestamista de última instância”. O Fundo
forneceu 15 bilhões de dólares na primeira parcela do acordo, mas não foi
suficiente. Depois de algumas semanas de calmaria, a incerteza voltou à
economia argentina, e cresceram os rumores de uma eventual suspensão de
pagamentos. O anúncio de Macri buscou eliminar essas dúvidas, embora sem
apresentar cifras ou datas precisas.
“Esta decisão busca eliminar qualquer incerteza gerada ao
nosso redor diante da piora do contexto internacional. Garantir o financiamento
para 2019 irá nos permitir fortalecer a confiança e retomar o caminho do
crescimento o antes possível”, disse Macri. Em troca, a Argentina se compromete
a cumprir as metas de redução do déficit definidas com o FMI, que preveem o
equilíbrio em 2020 e superávit em 2021. “Da nossa parte, acompanharemos este
apoio com os esforços fiscais necessários, trabalho no qual vamos avançando
muito bem”, acrescentou Macri.
O acordo prevê a liberação dos recursos do acordo segundo
as necessidades argentinas. Segundo o Ministério da Fazenda, o dinheiro deste
ano já está coberto, e para 2019 serão necessários oito bilhões de dólares para
pagar dívidas. O montante final é pura especulação, porque dependerá da atitude
dos investidores com relação aos títulos em pesos que mantêm em carteira. O cálculo
da Fazenda parte de uma renovação de 40% dos papéis, mas uma corrida ao dólar
pode multiplicar as necessidades de financiamento, num cenário cada vez mais
refratário às turbulências dos emergentes.
O problema para a Argentina é que a chegada de novos recursos
do FMI depende de auditorias que seus técnicos realizam sobre variáveis como a
inflação e o déficit fiscal. O ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, passou
pelo primeiro teste nesta semana e conseguiu a liberação de uma nova parcela de
três bilhões de dólares, mas sem eliminar as dúvidas sobre os futuros
desembolsos. Com este novo acordo, a Argentina poderá dizer aos investidores
que conta com o dinheiro suficiente para enfrentar qualquer tormenta, ao menos
durante os próximos 16 meses.
A economia é a
principal dor de cabeça de Macri. A Argentina terá eleições em 2019, e os
números não podem ser piores para os planos de reeleição do presidente. O
orçamento de 2018 previa uma inflação de 15,7%, e hoje os cálculos mais
otimistas falam em 32%; o dólar deveria se estabilizar em torno dos 19 pesos, e
já rompeu a barreira dos 32; o PIB, ao invés de subir 3,2%, como dizia o
Governo em dezembro, cairá 1%, na melhor das hipóteses. Todas as previsões
viraram papel picado, e a ajuda do FMI até agora não bastou para deter a curva
descendente nem para acalmar os nervos dos investidores.
O PESO, EM QUEDA
LIVRE
O anúncio de que o FMI irá liberar os recursos
necessários para cobrir os custos da dívida argentina não foi o bálsamo que
Mauricio Macri esperava para os mercados. O dólar saltou mais de dois pesos nas
casas de câmbio de Buenos Aires, sendo cotado a 34,45 pesos por unidade, 7% a
mais do que ontem, e seu maior valor desde o fim da paridade cambial, em
janeiro de 2002.
Tampouco o leilão de 300 milhões de dólares pelo Banco
Central conseguiu deter a depreciação da moeda argentina. Foi a terceira venda
consecutiva de reservas pela instituição nesta semana.
Também não alcançou para parar a depreciação da moeda
argentina a oferta de 300 milhões de dólares que fez o Banco Central, a
terceira venda consecutiva de reservas que realiza nesta semana.
EL PAÍS
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