sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Futuro jogado fora

Editorial

É muito oportuna a pesquisa do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) segundo a qual seis em cada dez crianças e adolescentes brasileiros até 17 anos vivem na pobreza. A vergonhosa estatística, com base em dados de 2015, escancara o tamanho da falácia lulopetista, repetida exaustivamente pelo departamento de agitação e propaganda do PT, segundo a qual no tempo em que Lula da Silva e Dilma Rousseff presidiram o Brasil trinta e tantos milhões de pessoas deixaram de ser miseráveis, por obra e graça do “pai dos pobres” ora recolhido à carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

O critério usado pelo Unicef para mensurar o alcance da pobreza entre crianças e adolescentes no Brasil leva em conta não somente a renda, mas também a qualidade do acesso dessas pessoas à infraestrutura e aos serviços públicos necessários para seu desenvolvimento, como educação e saneamento básico, além de moradia decente, proteção contra o trabalho infantil e acesso à informação.

Assim, o quadro apresentado pelo levantamento mostra o quanto é questionável a propaganda de Lula da Silva a respeito de seus feitos na Presidência. Levando-se em consideração apenas a renda, o estudo mostra que de fato houve melhora na última década, provavelmente como resultado da política de distribuição forçada de renda – da qual o Bolsa Família é o exemplo mais vistoso nos palanques petistas. No entanto, corretamente, o Unicef considera que não basta atingir um certo nível de renda para que se possa considerar satisfatório o combate à pobreza. “Os resultados mostram que a pobreza monetária na infância e na adolescência foi reduzida no Brasil na última década, mas as múltiplas privações a que meninas e meninos estão sujeitos não diminuíram na mesma proporção”, diz a pesquisa.

Utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015, o Unicef concluiu que 61% das crianças e adolescentes do País são pobres, quer porque estejam em famílias com renda insuficiente, quer porque sofrem diversas privações – ou uma combinação entre as duas situações, o que é ainda mais dramático.

São 18 milhões de crianças e adolescentes que vivem em famílias com renda insuficiente, dos quais 12 milhões também não têm acesso à infraestrutura e aos serviços sem os quais terão enorme dificuldade para se desenvolver. Outros 14 milhões até dispõem de renda considerada suficiente, mas sofrem privações múltiplas em outros aspectos essenciais.

A privação que mais afeta as crianças pobres brasileiras é a de saneamento básico, que atinge 13,3 milhões de pessoas. Em seguida vêm educação (8,8 milhões), água tratada (7,6 milhões), acesso à informação (6,8 milhões), moradia adequada (5,9 milhões) e proteção contra o trabalho infantil (2,5 milhões).

Há gradações em cada um desses aspectos. No caso de educação, por exemplo, é considerada “sem privação” a criança em idade escolar que frequenta escola sem atraso e sabe ler e escrever. Já a “privação intermediária” é aquela em que a criança acima de 7 anos de idade frequenta a escola com atraso e é analfabeta. E a “privação extrema” é aquela em que a criança acima de 7 anos não vai à escola nem é alfabetizada. Passa de 20% o total de crianças que estão em alguma dessas categorias de privação.

Em relação ao saneamento básico, 21,9% das crianças e adolescentes moram em casas onde há apenas fossas rudimentares ou esgoto sem tratamento. São mais de 13 milhões de brasileiros jovens vivendo em condições insalubres, majoritariamente no Norte e no Nordeste.

Tudo isso poderia ter sido ao menos atenuado nos mais de dez anos em que o PT esteve no poder, mas Lula da Silva preferiu o caminho fácil da demagogia de “dar dinheiro na mão de pobre”, que é como o ex-presidente costuma descrever suas políticas assistencialistas. Como mostrou o estudo do Unicef, essas políticas serviram apenas para mascarar a pobreza, iludir os tolos e render muitos votos ao hoje presidiário de Curitiba. Enquanto isso, o País vê toda uma geração ser condenada ao subdesenvolvimento.

O Estado de São Paulo


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