Editorial
Maduro
adota medidas destinadas ao fracasso, reforça miséria e leva Colômbia a
mobilizar suas tropas
Na Venezuela, até o que parece impossível acontece. Por exemplo, o
governo de Nicolás Maduro conseguiu tornar ainda mais dramática a situação de
fome e miséria no país.
Depois de produzir a maior crise humanitária do hemisfério, com 2,3
milhões de refugiados, e fomentar uma inflação inimaginável, no patamar de um
milhão por cento ao ano, Maduro ampliou o caos com uma reforma econômica sem
chance de dar certo.
Confusas e contraditórias, as medidas lançadas há uma semana estão
lastreadas numa miragem —o Petro, criptomoeda que não existe. O dinheiro do
país perdeu cinco zeros e seu valor sofreu maxidesvalorização efetiva de 95%. A
tributação das atividades econômicas foi elevada e, ao mesmo tempo, se decretou
um aumento de 3.000% no salário mínimo.
Isso num cenário em que as empresas, simplesmente, não têm fluxo de
caixa para fazer pagamentos, e os consumidores não têm dinheiro para pagar.
O capítulo seguinte, já anunciado, está marcado para setembro. É
quando o governo pretende aumentar exponencialmente o preço da gasolina —dos
atuais R$ 0,12 por litro para cerca de R$ 5,70.
Há 29 anos o preço do combustível se mantém invariável na Venezuela. E
não é porque o país detém uma das maiores reservas de petróleo. A razão está no
temor dos governantes, que transformaram o tema em tabu na política doméstica.
Em fevereiro de 1989, o governo de Carlos Andrés Perez elevou o preço da
gasolina e autorizou o repasse às tarifas de transportes. Seguiu-se uma
rebelião social, com inúmeras mortes.
O ambiente caótico permitiu a emergência de um líder militar na
política, Hugo Chávez. Chávez iniciou e legou a Maduro a continuidade de um
projeto de poder cujo custo só é comparável ao das crises na Alemanha em 1923 e
no Zimbábue no fim dos anos 2000. A economia venezuelana está reduzida à metade
do que era há seis anos. O déficit nas contas do governo superou a marca dos
20% do Produto Interno Bruto. A escassez de alimentos e remédios levou ao
retorno de doenças que estavam erradicadas e ao aumento da mortalidade
infantil.
O pacote desta semana reforça a certeza de expansão da miséria e do
êxodo de venezuelanos.
Sem saída, Maduro recorre ao seu roteiro favorito, o da conspiração
coordenada por forças ocultas — o inimigo externo. Desta vez, porém, avança por
campo minado. Domingo passado, soldados venezuelanos ocuparam o povoado
colombiano de Vetas de Oriente, no município fronteiriço de Tibú, região norte
do estado de Santander. A Colômbia respondeu com mobilização de tropas na
fronteira com a Venezuela. A cleptocracia bolivariana agora flerta com o
perigo.
O
Globo
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