Ricardo
Brandt, Julia Affonso e Luiz Vassallo
Ex-diretor
da Petrobrás colabora diretamente com a Justiça após ter acordos de delação
rejeitados pelo MPF
O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque afirmou ontem ao
juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal em Curitiba, que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu e o PT dividiam dois terços da
propina arrecadada com os contratos de plataformas para exploração do petróleo
do pré-sal da Sete Brasil. A informação, segundo Duque, foi passada pelo
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Segundo o ex-diretor, um terço da propina iria para a “casa”, nome
usado para a propina destinada aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil, e
os outros dois para o PT. “Esses dois terços para o partido seriam divididos
entre Lula, José Dirceu e o partido”, afirmou.
Condenado a mais de 40 anos na Operação Lava Jato, Renato Duque teve
acordos de colaboração premiada rejeitados pelo Ministério Público Federal
(MPF) e passou a colaborar diretamente com a Justiça.
Ao juiz Sérgio Moro, ele relatou que o pagamento de propina “era
institucionalizado”. “Todos os estaleiros pagaram”, afirmou. Duque disse que
ouviu de Vaccari que ele era o homem do partido responsável pela arrecadação de
propina da parte política nos contratos da Sete Brasil, empresa criada em 2010
para intermediar os contratos de plataformas, que está em recuperação judicial.
Vaccari disse, segundo Duque, que o ex-ministro Antonio Palocci era o
responsável pelo acerto e dava as coordenadas de como seria distribuído. Os
contratos de plataformas feitos a partir de 2011 envolveriam, segundo ele,
propina de 1%. Ao todo, eram mais de US$ 20 bilhões em contratos.
Duque confessou a Moro que recebeu cerca de US$ 3,8 milhões de
propinas em negócio da Jurong com a Sete Brasil. Ele relatou que o dinheiro foi
pago em uma conta aberta em Milão, no banco Cramer. Segundo o ex-diretor, os
pagamentos da Jurong e dos estaleiro internacionais foram destinados aos
executivos da Petrobrás e da Sete Brasil, chamado por eles de “casa”. O valor
dos 2/3, que segundo Duque eram destinados ao PT seria bancado por estaleiros
criados por empreiteira como Odebrecht, OAS e UTC.
Além de apontar que a propina a Lula foi paga pelo estaleiro liderado
pela Odebrecht, Duque relatou que a parte destinada a Dirceu saiu do estaleiro
da Engevix e o montante para o PT saiu do estaleiro da Queiroz Galvão e Camargo
Corrêa. Depoimentos. Ontem, Moro ouviu depoimentos de quatro réus do terceiro
processo a ser julgado na Lava Jato envolvendo negócios dos 21 navios-sonda da
Sete Brasil contratados pela Petrobrás a partir de 2011. O caso é o da Jurong,
que tem R$ 2,1 bilhão em contratos com a estatal e envolveria propina de US$
18,8 milhões.
A defesa de Vaccari disse que ele também foi interrogado por Moro
nesta sexta-feira, mas foi orientado a permanecer calado. “O ex-tesoureiro nega
no processo qualquer envolvimento com arrecadação de propinas e ilícito.” A
assessoria de Lula afirmou que “o ex-presidente teve todas as suas contas
vasculhadas e jamais recebeu valores ilegais ou teve em Palocci seu
representante para receber qualquer valor. Não vamos comentar declarações sem
nenhuma prova de presos que buscam fechar acordos para obter benefícios
judiciais”.
A defesa de Dirceu emitiu nota afirmando que “diante da situação em
que se encontra Renato Duque é absolutamente compreensível, que depois de anos
de prisão, diga o que seus acusadores gostariam de ouvir.” O PT foi procurado
mas não deu retorno.
O
Estado de São Paulo
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