Mateus Coutinho
Atendimentos na rede de saúde
brasileira têm sido realizadas sem conhecimento prévio de autoridades dos dois
países
Tarde de
domingo, 21 de maio de 2017, o general-de-brigada do Exército venezuelano
Silvano José Torres Oñates, de 46 anos, atravessa a fronteira de seu país rumo
à capital de Roraima, Boa Vista, sem informar oficialmente às autoridades
militares brasileiras e sem se identificar como integrante da Fuerza Armada
Nacional Bolivariana (FANB). Sua discrição tinha um motivo: como membro da
cúpula militar que apoia o presidente Nicolás Maduro, ele vinha ao Brasil em
busca de atendimento médico após sofrer uma fratura no fêmur.
Prontuários de atendimentos realizados no principal hospital de Boa Vista obtidos pelo GLOBO revelam um fluxo de militares venezuelanos em busca de socorro, sem que o Comando do Exército Brasileiro, nem o Ministério da Defesa ou Itamaraty sejam previamente informados. O movimento chamou a atenção do serviço de inteligência do Exército Brasileiro.
O caso de Oñates - e de pelo menos outros três militares venezuelanos cujas identidades foram comprovadas pela reportagem - revela que até integrantes de alta patente do país vizinho estão ingressando em território brasileiro para obter socorro médico para casos como fraturas, meningite e até extração de um osso de galinha preso à garganta.
A Venezuela vive uma grave crise econômica, que começou com a queda do preço de petróleo, principal produto de exportação. Sem reservas de moeda forte, o país enfrenta dificuldades para comprar produtos no exterior, com o desabastecimento de alimentos e remédios chegando a 80% - o que poderia explicar a procura por atendimento médico no Brasil.
Duas horas depois de Oñates dar entrada no Hospital Geral de Roraima (HGR), o capitão do 513º Batalhão de Infantaria de Selva Jairo Jose Lotero Mendoza também chegou ao hospital. Os dois apresentavam fraturas expostas no fêmur e na tíbia, e deram justificativas contraditórias para os ferimentos. Enquanto o "motivo do atendimento" de Oñates foi registrado como "outros", o de Mendoza aparece como "acidente de moto". Além disso, apenas o prontuário do capitão o identifica como "militar", enquanto o do general não informa sequer seu documento de identidade.
O Exército Brasileiro constatou que os dois se acidentaram na explosão de um morteiro durante um exercício militar no município de Santa Elena de Uairén, a 80 km da fronteira com o Brasil. A cidade venezuelana conta com hospital e aeroporto e está a cerca de 231 km de Boa Vista.
Ambos foram submetidos a cirurgias e, no caso do general, um relatório médico do dia 24 informa que ele se acidentou com "artefato explosivo, arma militar", sem dar detalhes. No caso do capitão, porém, não há descrição.
Procurado em Brasília, o Comando do Exército reconheceu que apenas soube, e "informalmente", da presença dos militares estrangeiros quando eles já estavam internados no hospital de Boa Vista, a 215 quilômetros da fronteira.
MORTE EM LEITO BRASILEIRO
O Exército Brsileiro confirmou que o general Oñates deixou o país no dia 29 após receber alta. Os militares brasileiros o acompanharam até o aeroporto de Boa Vista, de onde partiu para Caracas. Mendoza, por sua vez, retornou ao seu país no dia 26, também acompanhado até a fronteira.
Cinco meses depois de o general e o capitão serem atendidos, soldados também vieram ao Brasil em busca de socorro médico sem informar às autoridades e sem se identificar como militares. Diferentemente de seus superiores, contudo, eles não estavam na região de fronteira, mas lotados no município de Luepa, a 180 km de Santa Elena de Uairén, em direção ao interior da Venezuela.
No dia 18 de outubro de 2017, o soldado Luís Fernando Guiana Maraima deu entrada no HGR. O motivo: estava engasgado havia um dia com um osso de frango na garganta e com febre. No caso dele, o Exército brasileiro disse que só foi informado da presença por telefone após o atendimento de urgência. O Exército também informou que, após ser avisado, acompanhou-o até o país vizinho. No prontuário também não consta o documento de identidade, telefone ou mesmo a ocupação de Maraima.
Sete dias depois, foi a vez do soldado Edgar Jesus Losano Flores, de 20 anos, dar entrada no HGR. Diferente dos outros, porém, ele foi encaminhado por médicos venezuelanos do Instituto de Saúde Pública do estado de Bolívar, no município de Ciudad Bolívar, a 700 km de Santa Elena. De acordo com o Exército brasileiro, ele passou pelos postos de saúde de Santa Elena e Pacaraima até chegar ao Hospital Geral de Roraima.
O soldado foi encaminhado devido à suspeita de meningite. Em seu prontuário também não é informada a ocupação. O diagnóstico se confirmou, mas ele não resistiu à doença e morreu 14 dias depois. Neste caso, o Exército brasileiro também admite que foi feito um "contato informal", sem identificar de quem, somente após a morte do soldado e, a partir daí, passou a acompanhar o episódio.
A reportagem tentou contato com a embaixada venezuelana em Brasília por telefone na quinta-feira, mas ninguém atendeu, e encaminhou e-mail. Na sexta, a reportagem foi até a embaixada, quando foi informada que a responsável pela Comunicação estava de férias. A funcionária, contudo, informou o endereço de e-mail para encaminhar a demanda, que ainda não foi respondida.
O Exército informou que monitora a entrada de militares estrangeiros "por meio de informações recebidas das autoridades venezuelanas e brasileiras" e que não tomou ciência da entrada de mais militares venezuelanos em busca de atendimento médico e/ou refúgio, além das levantadas pela reportagem.
Prontuários de atendimentos realizados no principal hospital de Boa Vista obtidos pelo GLOBO revelam um fluxo de militares venezuelanos em busca de socorro, sem que o Comando do Exército Brasileiro, nem o Ministério da Defesa ou Itamaraty sejam previamente informados. O movimento chamou a atenção do serviço de inteligência do Exército Brasileiro.
O caso de Oñates - e de pelo menos outros três militares venezuelanos cujas identidades foram comprovadas pela reportagem - revela que até integrantes de alta patente do país vizinho estão ingressando em território brasileiro para obter socorro médico para casos como fraturas, meningite e até extração de um osso de galinha preso à garganta.
A Venezuela vive uma grave crise econômica, que começou com a queda do preço de petróleo, principal produto de exportação. Sem reservas de moeda forte, o país enfrenta dificuldades para comprar produtos no exterior, com o desabastecimento de alimentos e remédios chegando a 80% - o que poderia explicar a procura por atendimento médico no Brasil.
Duas horas depois de Oñates dar entrada no Hospital Geral de Roraima (HGR), o capitão do 513º Batalhão de Infantaria de Selva Jairo Jose Lotero Mendoza também chegou ao hospital. Os dois apresentavam fraturas expostas no fêmur e na tíbia, e deram justificativas contraditórias para os ferimentos. Enquanto o "motivo do atendimento" de Oñates foi registrado como "outros", o de Mendoza aparece como "acidente de moto". Além disso, apenas o prontuário do capitão o identifica como "militar", enquanto o do general não informa sequer seu documento de identidade.
O Exército Brasileiro constatou que os dois se acidentaram na explosão de um morteiro durante um exercício militar no município de Santa Elena de Uairén, a 80 km da fronteira com o Brasil. A cidade venezuelana conta com hospital e aeroporto e está a cerca de 231 km de Boa Vista.
Ambos foram submetidos a cirurgias e, no caso do general, um relatório médico do dia 24 informa que ele se acidentou com "artefato explosivo, arma militar", sem dar detalhes. No caso do capitão, porém, não há descrição.
Procurado em Brasília, o Comando do Exército reconheceu que apenas soube, e "informalmente", da presença dos militares estrangeiros quando eles já estavam internados no hospital de Boa Vista, a 215 quilômetros da fronteira.
MORTE EM LEITO BRASILEIRO
O Exército Brsileiro confirmou que o general Oñates deixou o país no dia 29 após receber alta. Os militares brasileiros o acompanharam até o aeroporto de Boa Vista, de onde partiu para Caracas. Mendoza, por sua vez, retornou ao seu país no dia 26, também acompanhado até a fronteira.
Cinco meses depois de o general e o capitão serem atendidos, soldados também vieram ao Brasil em busca de socorro médico sem informar às autoridades e sem se identificar como militares. Diferentemente de seus superiores, contudo, eles não estavam na região de fronteira, mas lotados no município de Luepa, a 180 km de Santa Elena de Uairén, em direção ao interior da Venezuela.
No dia 18 de outubro de 2017, o soldado Luís Fernando Guiana Maraima deu entrada no HGR. O motivo: estava engasgado havia um dia com um osso de frango na garganta e com febre. No caso dele, o Exército brasileiro disse que só foi informado da presença por telefone após o atendimento de urgência. O Exército também informou que, após ser avisado, acompanhou-o até o país vizinho. No prontuário também não consta o documento de identidade, telefone ou mesmo a ocupação de Maraima.
Sete dias depois, foi a vez do soldado Edgar Jesus Losano Flores, de 20 anos, dar entrada no HGR. Diferente dos outros, porém, ele foi encaminhado por médicos venezuelanos do Instituto de Saúde Pública do estado de Bolívar, no município de Ciudad Bolívar, a 700 km de Santa Elena. De acordo com o Exército brasileiro, ele passou pelos postos de saúde de Santa Elena e Pacaraima até chegar ao Hospital Geral de Roraima.
O soldado foi encaminhado devido à suspeita de meningite. Em seu prontuário também não é informada a ocupação. O diagnóstico se confirmou, mas ele não resistiu à doença e morreu 14 dias depois. Neste caso, o Exército brasileiro também admite que foi feito um "contato informal", sem identificar de quem, somente após a morte do soldado e, a partir daí, passou a acompanhar o episódio.
A reportagem tentou contato com a embaixada venezuelana em Brasília por telefone na quinta-feira, mas ninguém atendeu, e encaminhou e-mail. Na sexta, a reportagem foi até a embaixada, quando foi informada que a responsável pela Comunicação estava de férias. A funcionária, contudo, informou o endereço de e-mail para encaminhar a demanda, que ainda não foi respondida.
O Exército informou que monitora a entrada de militares estrangeiros "por meio de informações recebidas das autoridades venezuelanas e brasileiras" e que não tomou ciência da entrada de mais militares venezuelanos em busca de atendimento médico e/ou refúgio, além das levantadas pela reportagem.
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