Suely Caldas
Maduro gosta de programas que deem
ganho político
A
Venezuela não vive uma guerra sangrenta como a Síria. Mas a fuga de
venezuelanos para Brasil, Colômbia, Peru, Chile e até Panamá chega a superar a
dos sírios para a Europa. Eles fogem da fome, da miséria, da carestia, do
desemprego. Se em 2016 chegavam ao Brasil chefes de família à procura de
trabalho, hoje são famílias inteiras, crianças, mulheres grávidas, em busca de
abrigo, comida e esperança, coisas que desapareceram em seu país. No ano
passado, o PIB despencou 17%, e o imposto mais cruel contra os pobres — a
inflação — cobrou dos venezuelanos a extraordinária alíquota de 2.616%.
É este o
resultado do populismo eleitoreiro que, nos últimos quatro anos, fez disparar a
miséria na Venezuela e levou à expulsão de um milhão de pessoas do país. É o
que mostra pesquisa feita pela Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), uma
das mais conceituadas de Caracas, com dados de 2017. Quando a pesquisa foi
iniciada, em 2014, 48,4% dos venezuelanos não tinham renda para comprar os
produtos da cesta básica e, destes, 23,6% não conseguiam sequer comprar os
alimentos da cesta. No final de 2017, estes índices dispararam para 87% e 61%.
A Ucab calcula que hoje 61% da população viva em desespero e situação de
pobreza extrema.
“A
pobreza disparou a tal ponto que praticamente toda a população está
classificada como pobre. E na crise o governo Maduro tenta concentrar sua
política social na distribuição de alimentos porque, neste momento, é a
necessidade básica e a que ainda produz rendimento político”, analisa Anitza
Freitez Landeata, responsável pela pesquisa.
Enquanto
na Europa o populismo de direita dispara com odiosa rejeição a imigrantes e um
separatismo sem rumo, na América Latina o populismo de esquerda definha. O que
fascina políticos como Maduro não é direcionar a economia para gerar empregos e
salários. É distribuir dinheiro à população pobre, gastar em programas sociais
de vida curta que produzam resultados rápidos em apoio político e votos na
próxima eleição. Os pobres são o alvo preferencial por dois desonestos motivos.
Primeiro, eles constituem a maioria dos eleitores; segundo são fáceis de
manipular, enganar, explorar seu nível precário de escolaridade e informação.
Os populistas aproveitam-se da situação trágica de quem precisa
desesperadamente de um dinheirinho para comprar remédio ou comida para os
filhos.
No
Brasil o populismo de Lula produziu bons resultados, mas durou pouco e deixou
uma herança amarga para a sucessora. Dilma Rousseff pôs mais lenha na fogueira.
Aprofundou os erros de Lula, criando mais e mais programas sociais
insustentáveis e que levaram o país à falência e à pior recessão econômica de
sua história. Programas focados na pobreza, como o Bolsa Família, são
bem-vindos, mas é preciso garantir suporte financeiro que lhes dê longa vida.
Na
América Latina, Argentina e Equador acabam de responder não ao populismo nas
urnas. Na Venezuela ele agoniza, com a miséria se alastrando pelo país
despedaçado. E logo a Venezuela, rica em petróleo, com tudo para ser a economia
mais potente do continente.
O Globo
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