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A Itália está diante de um impasse
político. Nas eleições em que uma aliança de centro-direita e um partido
contrário ao sistema dividiram a preferência dos eleitores, nenhuma legenda
deve conseguir maioria suficiente no Parlamento para formar um governo, de
acordo com as primeiras projeções oficiais.
Os
italianos foram às urnas no domingo para eleger representantes na Câmara e no
Senado. Os resultados parciais indicam que o Movimento Cinco Estrelas, o
partido anti-União Europeia criado pelo comediante Beppe Grillo, conquistou,
individualmente, a maioria dos votos.
Mas a
aliança nacionalista de centro-direita liderada pelo ex-primeiro-ministro
Silvio Berlusconi, que incluiu quatro partidos, deve levar a maioria dos
assentos. No entanto, é possível que não consigam todas as 316 cadeiras
necessárias para indicar o primeiro ministro.
Assim, a
composição de uma coalizão para montar o novo governo pode exigir semanas de
negociação. Uma alternativa para o impasse seria realizar novas eleições, mas
não há garantia de que alguma legenda vai conquistar sozinha maioria absoluta
dos assentos em um novo pleito.
Resultados
preliminares indicam que o Cinco Estrelas, um partido que começou como um
movimento de pessoas desiludidas com a política tradicional, ganhou 32,4% dos
votos.
Mas as
projeções mostram que, juntos, os partidos Força Itália, Liga, Irmãos da Itália
e Nós com a Itália devem terminar a contagem de votos com aproximadamente 37%
da preferência do eleitorado.
Berlusconi
é líder do Força Itália, mas está inelegível devido a uma condenação por fraude
fiscal. O candidato dele para o cargo premiê pode ser o atual presidente do
Parlamento Europeu, Antonio Tajani, ou o líder da Liga, Matteo Salvini.
A Itália
está sendo governada por um gabinete interino desde dezembro de 2016, quando
Matteo Renzi, líder do Partido Democrático, renunciou ao cargo de primeiro
ministro depois de ser derrotado em um referendo que previa mudanças constitucionais
no sistema eleitoral e no funcionamento das Casas do Parlamento.
Depois
da eleição desse domingo, o Partido Democrático, que é de centro-esquerda, deve
terminar com cerca de 19% dos votos, o que representa mais uma dura derrota
para Renzi. Segundo o jornal italiano La Repubblica, trata-se de "um golpe
psicológico" para o partido, que não conseguiu mais de um quinto dos
assentos.
O mapa
eleitoral com o resultado parcial da votação já indica também que a Liga ganhou
votos no norte, enquanto o Cinco Estrelas surge como uma nova força no sul,
praticamente dividindo o país.
Com tudo
isso, o jornal Il Fatto Quotidiano já estampou em sua primeira página a
manchete "Tudo vai mudar". Antes mesmo do resultado final.
O que essa apuração significa?
Apesar
de nenhum partido, com a votação que alcançaram individualmente, ser capaz de
montar o governo e comandar sozinho o país, as eleições italianas já indicam o
surgimento de uma onda populista e nacionalista que já está sendo comparada aos
processos que levaram ao Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e à
vitória de Donald Trump nos EUA.
Os
partidos da aliança comandada por Berlusconi devem ganhar juntos de 248 a 268
assentos no Parlamento, mas, no sistema parlamentarista italiano, são
necessárias pelo menos 316 cadeiras para comandar o governo. De um modo geral,
eles têm uma postura mais radical em relação às políticas migratórias e à União
Europeia.
Apesar
do impasse político, as eleições italianas mostraram a força do Movimento Cinco
Estrelas e das propostas que atraem, em especial, um público desiludido com a
política tradicional.
O Cinco
Estrelas foi fundado em 2009 por um comediante que denunciava a política
italiana pelas práticas clientelistas, compadrios e nepotismo. Mas o que no
início parecia ser mais uma piada de Beppe Grillo transformou-se no partido que
sai fortalecido e, provavelmente, o com o maior número de assentos no
Parlamento (de 216 a 236).
FOTO
Forças políticas italianas
O
partido fundado por Grillo não se apresenta nem à direita nem à esquerda. Reúne
pessoas de diferentes ideologias dispostas a reconstruir o sistema político,
além de militantes atraídos pelas propostas da legenda em relação à política
ambiental.
Os
resultados também sinalizam que a insatisfação com o desemprego, imigração e
relação com a União Europeia parece ter impulsionado a derrota do partido de
Renzi e da coalizão de centro-esquerda, que devem conquistar de 107 a 127
cadeiras da Câmara.
"Está
claro para nós que é uma derrota flagrante", disse o ministro da
Agricultura, Maurizio Martina.
Katya
Adler, editora da BBC para a Europa, avalia que esse resultado faz com que seja
"teoricamente possível que o pesadelo da Europa se torne realidade":
uma coalizão de partidos eurocéticos.
Especula-se
que o Cinco Estrelas e a Liga, ambos contrários às certas políticas e
regulações impostas pelo bloco europeu, firmem um acordo para comandar o país.
Para isso, a Liga, que deve terminar a eleição com aproximadamente 17,7% dos
votos para a Câmara, deixaria a aliança montada por Berlusconi.
Para o
Senado, a votação conquistada pelos Cinco Estrelas e pelos partidos de
centro-direita também se destacaram.
Os aliados de Berlusconi
Mesmo
impedido de assumir cargo público até o próximo ano, Silvio Berlusconi, de 81
anos, costurou uma aliança com o partido dele próprio, o Força Itália, o
anti-imigração Liga e a legenda considerada por italianos como de
extrema-direita Irmãos da Itália, além da nacionalista Nós com a Itália.
Apesar
de, juntos, esses partidos terem conseguido um número expressivo de votos, as
eleições estão sendo vistas como um golpe pessoal para o ex-premiê, já que a
Liga teve um desempenho melhor que o partido de Berlusconi.
Justamente
por isso, se Berlusconi conseguir manter a aliança de centro-direita unida e
ainda atrair mais partidos para se coligar ao grupo, ele pode não conseguir
emplacar Antonio Tajani como primeiro ministro.
Matteo
Salvini, líder da Liga que já prometeu deportar milhares de imigrantes ilegais
e fala sobre o que vê como perigo do Islã, pode ser o nome do grupo para
comandar a Itália.
Mas a
Liga pode decidir se aliar ao Cinco Estrelas. E é por isso que a política
italiana vive um impasse que deve demorar para chegar ao fim.
Análise: O que acontece agora?
James Reynolds
Na
Itália, o voto dos eleitores representa a primeira etapa de um longo processo
para escolher o governo.
Ainda
não se sabe quem será o vencedor, mesmo com as projeções sinalizando os que
terão a maior quantidade de assentos.
Nesse
jogo aberto, o Cinco Estrelas leva uma certa vantagem. A mensagem clara do
partido atingiu os jovens que procuram emprego e eleitores do sul, a região
mais pobre do país.
O
movimento ganhou pontos ao disputar as eleições sozinho, sem se aliar com nenhum
partido convencional. Em contrapartida, outros partidos mais tradicionais
preferiram formar uma coligação para concorrer ao pleito.
Mas o
que deu ao Cinco Estrelas força - essa independência - pode agora se tornar seu
principal ponto fraco. Para formar um governo, o movimento vai precisar
encontrar parceiros para a coalizão. A inexperiência em trabalhar com outros
partidos pode ser uma desvantagem na hora de negociar um novo governo.
Para
qual lado o Cinco Estrelas vai? Há especulações de que o partido vai firmar uma
coalizão com o partido nacionalista e anti-imigração Liga, que apresentou um
resultado melhor que os parceiros na aliança.
Tanto o
Cinco Estrelas quanto a Liga têm criticado a relação da Itália com a União
Europeia, apesar de que nenhum dos dois advogam para deixar o bloco europeu.
Uma
potencial aliança entre os dois seria vista com preocupação por Bruxelas (sede
da União Europeia).
BBC News em Milão (Itália)
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