Evandro Éboli e Sérgio
Luis de Deus
Três décadas depois do fim do regime
militar no Brasil, os militares nunca estiveram tão em alta na política
nacional como agora
Trinta e
três anos depois de devolver o poder no Brasil aos civis, os militares nunca
estiveram tão em alta na política nacional como agora. O protagonismo alcançado
com a crise na segurança pública no país, em especial no Rio de Janeiro, trouxe
as Forças Armadas de volta ao centro das decisões, devolvendo um papel de
relevância que militares exerceram no passado.
De tal
maneira que um ex-membro da caserna, o capitão da reserva Jair Bolsonaro, se
credencia para disputar as eleições presidenciais deste ano – e com chances de
vitória. Desde a redemocratização do país, nunca alguém oriundo das Forças
Armadas esteve tão próximo do Palácio do Planalto.
A Gazeta
do Povo selecionou alguns militares influentes na atualidade e que desempenham
funções importantes, quase como ‘salvadores da pátria’, em um governo civil
impopular, manchado por suspeitas de corrupção e má gestão pública.
General Villas Bôas
O
general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas tem sob suas mãos um efetivo militar
de 215 mil homens. Integrantes das Forças Armadas desde 1967, Villas Bôas é o
comandante do Exército brasileiro desde 2015. No auge da crise que culminou no
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, coube a ele o papel
de apaziguar
os ânimos daqueles que defendiam uma nova intervenção militar no país, a
exemplo do que ocorreu em 1964. O general de 66 anos foi firme e disse que o
Exército defendia “a manutenção da democracia, a preservação da Constituição e
a proteção das instituições”. “Desde 1985 não somos responsáveis por
turbulência na vida nacional e assim vai prosseguir. Além disso, o emprego
nosso será sempre por iniciativa de um dos poderes”, afirmou na ocasião.
Já no
governo Michel Temer, Villas Bôas passou a sofrer os efeitos
mais severos de uma doença degenerativa que debilite a sua saúde. Hoje, ele
se locomove numa cadeira de rodas. Mas a aparente fragilidade não o impediu de
ter voz ativa na intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, inclusive
defendendo mandados de busca e prisão coletivos. E, aparentemente, não há
nenhum movimento para substituí-lo no comando do Exército.
General Braga Netto
Sob o
comando de Villâs Boas, alguns militares passaram a exercer papeis antes
destinados a civis. É o caso do general
do Exército Walter Souza Braga Netto, comandante do Comando Militar do
Leste (CML) e interventor federal no Rio de Janeiro. O decreto de intervenção
assinado pelo presidente Michel Temer no dia 16 de fevereiro trazia já em seu
segundo artigo o nome de Braga Netto como novo homem forte da segurança pública
no estado.
Ele
assumiu com a missão de garantir a ordem pública em meio a um cenário de
descontrole da violência e desarticulação das forças de segurança do Rio. As
Polícias Militar e Civil, o Corpo de Bombeiros e o sistema prisional do Rio
passaram a receber ordens do general, que já ocupou um posto chave durante a
Olimpíada do Rio, em 2016. Braga Netto foi coordenador-geral da assessoria
especial para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, quando os militares atuaram no
patrulhamento de aeroportos e entorno dos estádios. Agora, com a intervenção,
ele se cercou de auxiliares militares.
Os
principais auxiliares nessa tarefa são dessa força; o primeiro militar ministro
da Defesa, ainda que interino, é o general Joaquim Silva e Luna; o
secretário-executivo do Ministério da Segurança Pública, cujo titular é Raul
Jungmann, também é um militar, da reserva, o general Santos Cruz.
General Mourão
As
denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer
no ano passado, por corrupção, organização criminosa e obstrução da Justiça,
mexeram com os brios de membros das Forças Armadas. Um deles, o
general do Exército Antonio Hamilton Martins Mourão, saiu literalmente do
anonimato ao defender o uso de força militar para resolver a atual crise
política.
Questionado
sobre a possibilidade de intervenção militar no país durante palestra em uma
loja maçônica de Brasília, Mourão externou o que pensava: “Ou as instituições
solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida
pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós
[Exército] teremos que impor isso”.
A defesa
de uma intervenção não foi bem recebida pelo comando das Forças Armadas, mas
também não houve uma reprimenda pública. Pelo contrário, foi defendido pelos
colegas de farda. Mais tarde, o general Mourão voltou a criticar diretamente o
governo Temer, comandante em chefe das Forças Armadas, de fazer um “balcão de
negócios” para se manter no poder, durante a votação das denúncias na Câmara
dos Deputados.
O
general Mourão entrou para a reserva em fevereiro deste ano, após 49 anos
de serviços prestados ao Exército Brasileiro. Na cerimônia de despedida,
afastou especulações de que será candidato a cargo eleitoral.”Vou concorre
apenas à presidência do Clube Militar”, disse.
General Etchegoyen
O
ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta que comanda a
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é ocupada hoje por um general
reformado do Exército. Sérgio Westphalen Etchegoyen, de 65 anos, assumiu a
chefia do GSI em maio de 2016, após o afastamento da presidente Dilma Rousseff
em meio ao processo de impeachment. Natural de Cruz Alta (RS), pertence à
família com longa tradição na carreira militar – são três gerações.
Homem de
confiança do presidente, Etchegoyen
se aproximou ainda mais de Michel Temer durante o escândalo deflagrado pelas
delações de executivos da JBS, no ano passado. Passou a integrar o que foi
chamado de “núcleo duro” de conselheiros do peemedebista. O GSI comandado pelo
general é integrado por dezenas de militares da ativa. Etchegoyen foi um dos
idealizadores do projeto da intervenção federal no Rio, participou ativamente
da criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública e só não foi o
primeiro ministro militar da Defesa porque não quis. Após a saída de Raul
Jungmann, que virou ministro da Segurança, a pasta acabou nas mãos do também
general da reserva Joaquim Silva e Luna, ainda que de forma interina.
Augusto Heleno
Primeiro
comandante brasileiro da Força de Paz das Nações Unidas no Haiti, em 2004, o
general da reserva Augusto Heleno é um dos militares mais influentes e
respeitados da corporação e costuma dar opiniões sobre segurança e política,
quando requisitado. Já declarou apoio à campanha do presidenciável Jair
Bolsonaro e defendeu
publicamente nas redes sociais o general Mourão, quando este falou
abertamente em intervenção militar no Brasil.
No texto
de desagravo a Mourão, o general afirmou que é “preocupante o descaramento de
alguns políticos, indiciados por corrupção e desvio de recursos públicos,
integrantes da quadrilha que derreteu o país, cobrando providências contra um
cidadão de reputação intocável, com 45 anos de serviços dedicados à Pátria.
Aconselho que, pelo menos, se olhem no espelho da consciência e da vergonha”,
escreveu.
Com a
intervenção federal no Rio, virou uma espécie de conselheiro informal e passou
a ser requisitado para entrevistas sobre o tema do caos na segurança pública e
o uso de militares no combate à violência. De declarações polêmicas, o general
Heleno diz que o clima é de “tensão permanente” e que os militares não devem
hesitar se for necessário “eliminar pessoas” nas operações militares no Rio.
Gazeta do Povo
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