Percival Puggina
A
História, dita rainha das humanidades, é a mais violentada das ciências.
Submetida a toda sorte de sevícias no mundo acadêmico brasileiro, a grande dama
chega às salas de aula do ensino fundamental e médio já esgotada, manuseada,
enferma, violada e pornograficamente abusada nos livros didáticos. Estou com a
mão pesada? Sim, estou. Como não estar quando informado por um leitor que já
são treze as universidades brasileiras com cursos de extensão sobre o “gopi” de
2016? Esse descaramento faz lembrar o bairro da luz vermelha de Amsterdã, com
suas “mercadorias” e respectivos atributos expostos nas vitrinas.
Meu
tema, porém, se volta à outra parte do mesmo curso, àquela que na UFRGS promete
excitar iras cósmicas contra a “nova onda conservadora no Brasil”. Que diabos é
isso?
A cada
dia se tornam mais nítidas, na sociedade, as rupturas com os padrões
civilizados de comportamento. Perdem-se as noções de limite, amplia-se a
violência, multiplicam-se as condutas desonestas na vida pública e privada. Ao
mesmo tempo, algo que a maioria civilizada da população vê como perspectiva de
reversão das piores expectativas sobre seu futuro, para os promotores do curso
é inimigo a ser identificado, rotulado e destroçado. Listarei esses tópicos
para que os conservadores brasileiros saibam contra o que se dirige o ódio do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS. Ele confronta nossos
anseios por: a) revalorização da instituição familiar e natural exercício da
autoridade de pais e mães; b) cultura do trabalho honesto; c) zelo pelas
crianças, pelos idosos e proteção da mulher; d) respeito ao direito de
propriedade; e) cuidado com os bens próprios e com os bens públicos e sociais;
f) amor à verdade, ao bem e à justiça; g) zelo pela vida desde a concepção e h)
respeito à dignidade da pessoa humana.
Como
chegamos ao ponto em que tudo isso soçobra, arrastando à atual insegurança e
tornando cada vez mais residuais os Valores que estruturam a ordem social?
Felizmente, o tempo evidenciou o aviltamento e a gradualidade do processo a que
fomos submetidos. Mostrou, também, sua relação de causa e efeito com o
descrédito das instituições de Estado, com a ação nefasta das Organizações
Globo e de poderosas ONGs internacionais. Tudo convergiu, em síntese, para
reduzir ao ponto de praticamente anular a eficácia daquilo que, através das
gerações, respondeu pela transmissão desses valores. Refiro-me ao trinômio
família, religião e escola.
•
Família. O desfazimento dos laços familiares, a promiscuidade e os novos
arranjos conjugais, o combate à autoridade dos pais e a sistemática
fragilização dos papéis masculino e feminino retiraram do âmbito familiar a
energia e a autoridade moral indispensáveis à transmissão de valores.
•
Religião. A Teologia da Libertação (TL) sacramentou uma união estável entre a
CNBB e os partidos de esquerda, conferindo a estes poder e força para deturpar
a laicidade do Estado e impor silêncio ao ensinamento cristão. O próprio Lula
reconhece a contribuição da TL e da base da Igreja Católica para sua ascensão
ao poder. A imagem da dança com lobos caracteriza muito bem o envolvimento da
CNBB e de vastos setores do clero com os piores e mais destacados inimigos dos
valores cristãos. Desviado de sua finalidade, o cristianismo definha na alma do
povo brasileiro.
•
Escola. O sistema de ensino foi capturado pela ideologia que domina o
pensamento brasileiro desde o último terço do século passado. Nas salas de aula
de todos os níveis do ensino público ou privado, confessional ou leigo, a
tarefa de alinhamento político impôs-se sobre tudo mais. As exceções são apenas
exceções e têm dificuldade, até mesmo, de encontrar material didático
apropriado.
Finalmente,
tornou-se impossível esconder causas e consequências das múltiplas crises que
tanto dano causam à nação. A rápida propagação desse entendimento nas redes
sociais, em ano eleitoral, foi batizada como “Nova onda conservadora”, sendo a
UFRGS mobilizada para cumprir seu papel, na forma do parágrafo anterior.
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