Fernão Lara Mesquita
O PT – que já andou namorando a idéia de que um impeachment seguido de um governo “de união nacional” chefiado pelo PMDB presidindo a
fome que será exigida pelo desastre que contratou para o Brasil daria o álibi
perfeito para Lula voltar como salvador da pátria em 2018 – agora está
pacificado e firmemente unido em torno da tese do tudo ou nada.
Se há uma “qualidade” que não pode
ser negada ao partido é a sua capacidade de enxergar clara e objetivamente a
realidade dos fatos e não discutir com eles quando o que está em jogo é a
disputa pelo poder. Quem se engana, quando o acusa de brigar com a realidade, são
os críticos que medem as ações do PT pela lógica econômica ou pelo interesse da
república que jamais entraram em suas considerações. Para a consecução do único
objetivo que lhe interessa o que dizem os fatos é que a via eleitoral está
esgotada, tanto mais quanto mais para frente se olhar no horizonte. Não é mais
de anos, é de décadas de vacas magérrimas que estamos falando. Eleições, depois
da última pela qual passou raspando a custa de quebrar a Petrobras (e não só a
ela) para embalar em bilhões o maior conto do vigário a que o eleitorado
nacional jamais foi submetido são, doravante e até onde se pode enxergar, o
perigo a evitar.
Muito antes do previsto, portanto,
o furacão Dilma combinado com o fim do milagre chinês empurra o PT para a
segunda fase do seu projeto hegemônico antes, ainda, que a primeira tivesse
sido completada. O marco oficial dessa inflexão está na desistência,
sacramentada pela Fundação Perseu Abramo, de tentar curar a economia da doença
que o lulopetismo instilou em suas veias para se agarrar à equação que até ha
pouco ele próprio tinha admitido insustentável e tentar durar o bastante no
poder, com expedientes protelatórios e a quantidade de “diálogo”
($$) que for necessária no atacado e no varejo, para que a manobra se torne
irreversível e passar, então, a ancorar de peito aberto seu projeto naquilo que
seus liderados do Foro de São Paulo já ancoram o seu. É um ato de desespero mas
é a direção para a qual apontam os fatos. Da combinação de aparelhamento do
Estado e das instituições democráticas com farra fiscal para subsidiar a festa
do consumo e derrotar opositores nas urnas, vamos sendo inexoravelmente
empurrados para o funil da combinação de instrumentalização da miséria com
violência para tirar opositores do caminho a qualquer custo que caracteriza
todos os estados bolivarianos com economias agonizantes à nossa volta.
Para tanto será necessário acelerar o que ainda
está por fazer da “Fase 1” que é a da
ocupação do Estado (já completada) e da desmontagem das defesas democráticas da
nação (ainda por completar). É esse o sentido da tentativa de golpe contra o
TCU. Mesmo diante da inusitada resistência desse tribunal, porém, nada autoriza
subestimar a capacidade do PT de conseguí-lo. O PMDB, por exemplo, acredita
piamente nisso. Ao ver Lula assumir o leme e dobrar a aposta em sua inabalável
convicção de que todo mundo é podre, bastando, para cavalgá-los, melhorar as
condições ambientais para que apodreçam mais rapidamente, a raspa do tacho do
partido que dias atrás ainda hesitava diante da perspectiva de tudo se esboroar
nas mãos de Dilma entendeu que chegou a hora do “free for all”
e perfilou-se, salivante, em ordem unida.
A “reforma ministerial”, que
começou a pretexto do “ajuste”, converteu-se
oficialmente em mais uma vasta operação de distribuição de postos de tocaia aos
dinheiros públicos para os membros das organizações investigadas pelo juiz Moro
para tratar de impedir que a lei alcance o PT antes que ele tenha tempo de
colocá-la exclusivamente ao seu serviço. A crônica política está reduzida a um
relato diário sobre quem comprou quem, por quanto e para quê. As “partes” negociam em público os nacos daquilo que a
nenhuma delas pertence ameaçando represálias contra a Nação sequestrada. Cada
etapa da farsa é encerrada com a manifestação regulamentar do jurista ou do “especialista” estrelados da vez para, invocando umas
e esquecendo outras conforme a conveniência do momento, colocar as leis a
serviço do crime e garantir que não ha nenhum “elemento
técnico” que permita deter essa mixórdia. Quando até isso falha,
recorre-se aos agentes do aparelhamento das instituições para exigir deles mais
um passo em direção ao ponto de não retorno.
A capital federal é cada vez mais
um gueto que o resto do país repudia. Trancados em suas “dachas”,
impedidos de frequentar o Brasil que os brasileiros frequentam, ameaçados de
linchamento onde quer que apareçam em público, não ha, porém, instituição que
alcance os sócios do assalto ao Brasil. Mas não é mesmo em busca de aprovação
que está quem troca abertamente nacos do orçamento público pela vontade
manifesta de seus eleitores. Só uma ação decidida das ruas poderá alterar o
rumo dos acontecimentos. E não há nenhum “golpismo” nisso.
Ao contrário, é essa a essência do
processo democrático. Nos governos “do povo, pelo povo e para o povo” não ha lei alguma que, legitimamente, possa
tornar ilegal a vontade do povo. Ele é a única fonte de legitimidade de onde,
por enquanto até para a nossa “Constituição dos Miseráveis”, emana todo poder.
Não é o Brasil, portanto, que tem de perguntar a
Brasília o que ele pode ou não pode fazer com os mandatos que temporária e
condicionalmente concede a seus representantes. É o contrário.
O povo põe; o
povo “des-põe”.
Como está absolutamente só, traído por todos os
seus representantes eleitos, se quiser manter abertos os canais que restam e
alimentar a esperança de reconstituir os que estão obstruídos pela cooptação e
pela corrupção, o povo brasileiro terá de demonstrar na rua o tamanho dessa
vontade. Conseguirá o que estiver realmente disposto a conseguir pois a
democracia brasileira está desorientada e cambaleando mas ainda não está
completamente surda.
Vespeiro
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