Felippe
Hermes
Dos mais conhecidos, como Juscelino Kubitschek e
Getúlio Vargas, aos mais desconhecidos, como Washington Luis, inúmeros
presidentes brasileiros se preocuparam em reforçar o mito de que o
desenvolvimento do país é uma consequência direta das suas ações. Aprendemos
desde a escola que nossos melhores presidentes agiram para criar indústrias,
grandes obras e feitos, sem dar relevância aos que criaram leis e bases de
estabilidade do país.
Aprendemos que o crescimento econômico
surge da construção de hidrelétricas e pontes, não com políticas que
reduziram a inflação, ampliaram a responsabilidade fiscal ou tornaram crimes
fraudar as contas públicas.
No Brasil entretanto, até mesmo nossos capitalistas
parecem mais empolgados com esta ideia do que com a ideia de desenvolvimento
pelo mercado. Temos empresários que dizem “ver com bons olhos a mistura entre
empresas e o Estado” e outros que pedem por 3 bancos como o BNDES (o banco que
transfere anualmente R$ 24 bilhões em
subsídios para grandes empresas). Foi com esta crença de que as políticas do
governo conduziriam a um crescimento inequívoco que inúmeros empresários
entraram de cabeça em empreendimentos hoje mal sucedidos. Abaixo, listamos 5 deles
que servem de exemplo para mostrar que deixar-se enganar por promessas de
políticos não é exclusividade dos eleitores comuns.
1) LUPATECH –
NESTOR PERINI
Fundada ainda nos anos 80, a
metalúrgica gaúcha com sede em Caxias do Sul, Lupatech, atuou durante décadas
em setores tão distintos como automobilístico e de alimentos. A anunciada
auto-suficiência do país na produção de petróleo e da descoberta do pré-sal em
2007, levaram a empresa a realizar uma série de aquisições que a consolidaram
como um fornecedor apto a grandes contratos no setor de óleo e gás. Foram mais
de 16 aquisições entre 2006 e 2008 que levaram a empresa a faturar mais de R$ 550 milhõesem 2010.
No mesmo ano, a empresa garantiu aquilo que
poderia lhe fazer mudar de patamar, entrando para o clube de grandes
fornecedores mundiais da cadeia de petróleo e gás. A conquista de contratos no
valor de R$
1,7 bilhão junto à Petrobras levou a Lupatech e
seus acionistas a projetarem um crescimento vertiginoso nos anos seguintes.
Assim como a estatal, porém, as ações da
Lupatech encararam ladeira abaixo. De 2010 a 2014, quando a companhia entrou
com pedido de recuperação judicial, suas ações caíram mais de 99%. Em 2015 não é diferente: a companhia encara uma queda de 92,89%.
Segundo seu plano de recuperação
judicial, a empresa foi vítima da má conjuntura do
setor de petróleo, cujo barril caiu para US$ 45 dólares, ante mais de US$ 130
quando da assinatura dos contratos, além da conjuntura da própria Petrobras,
envolta em escândalos que a levaram a declarar uma baixa de ativos no valor de
R$ 88 bilhões, fruto de má gestão e corrupção, segundo a própria empresa.
Para além de culpar fatores externos,
analistas citam ainda que o elevado nível de endividamento somado ao não
recebimento de valores da Petrobras levaram a empresa à atual situação. A
aposta excessiva no
setor de petróleo e gás culminou
com a quebra da empresa e a demissão de milhares de funcionários em suas mais
de 20 unidades no Brasil e no exterior.
2)
EBX – EIKE BATISTA
Diz-se no mercado financeiro que nem mesmo
Bill Gates, o fundador da Microsoft, ganhou tanto dinheiro com o PowerPoint, a
ferramenta do office utilizada para fazer apresentações, com as quais Eike
Batista conquistou a atenção de milhares de investidores no mundo inteiro,
sedentos de oportunidades para investir no Brasil.
Um dos filhos de um famoso ex-presidente da
Companhia Vale do Rio Doce, Eike Batista apareceu para o mercado nacional após
realizar uma grande tacada justamente no setor que tornou seu pai conhecido.
Eike conseguiu empurrar para a mineradora britânica Anglo-American, parte do projeto “Minas-Rio”, que visava produzir minério de
ferro em Minas Gerais, exportando-o pelo Rio de Janeiro, onde o
empresário ergueria o complexo do Açu, o maior porto privado do hemisfério
sul. A mineradora de Eike levou na ocasião US$ 5,5 bilhões, fazendo com que
seus investidores embolsassem uma quantia próxima a US$ 2 bilhões, menos de 1
ano antes de terem comprado as ações da MMX em sua abertura de capital.
Complexo de grandeza e poucos resultados
práticos tornaram o mercado mais cético em relação a Eike. Seu porto consumia
recursos sem perspectiva de ganhos, sua mineradora produzia toneladas de
prejuízo (e sem minério), seu estaleiro drenava recursos e sua petrolífera, que
pretendia ser uma “mini Petrobras” se viu frustrando os investidores sem
encontrar petróleo em
seus poços.
Acusando os investidores e recusando-se a
admitir os erros, Eike encontrou no ex-presidente Lula uma figura de apoio a
seus planos. Como conta em
seu livro à jornalista Malu Gaspar, a
aproximação com Lula foi pretendida desde 2002 quando o empresário doou
recursos para campanha que elegeu o sindicalista. Em outra época, Eike chegou a
contratar o amigo de Lula, José Dirceu, como consultor para resolver uma crise
com o governo boliviano. A amizade com o ex-presidente, porém, só se
concretizou após encontros para uma formalização de proposta pela qual a
mineradora de Eike assumiria o controle da toda poderosa Vale. A proposta foi
rejeitada pelo Bradesco, grande acionista da mineradora, e Eike recuou
do plano.
Durante os anos que se seguiram a este
episódio, Eike e o BNDES se tornaram amigos próximos (o banco despejou R$
10 bilhões em projetos do empresário),
enquanto ex-ministros do presidente Lula, comoGuido Mantega e Fernando Pimentel (atual governador de
Minas), atuaram para favorecer investimentos de empresas estrangeiras no porto
de Açu, segundo denúncias (o resgate ao grupo X porém travou com o aumento da
pressão sobre o governo vinda dos protestos de junho de 2013). A boa relação
com o governo, que fez Eike ser chamado de ‘empresário
modelo’ pela presidente Dilma, não bastou para
salvar o “ex-midas”, que viu seu patrimônio ser dividido entre empresas
estrangeiras, como o fundo
Mubadala do Oriente Médio. Do apogeu à queda, estima-se
que Eike, que chegou a ser o sétimo mais rico do mundo, tenha perdido R$ 60
bilhões.
3)
OI – CARLOS JEREISSATI
Criada em 2009 com a fusão da Brasil Telecom
(controlada pelos fundos de pensão), e a Telemar, controlada pelo empresário
Carlos Jereissati e o grupo Andrade Gutierrez, a Oi foi possivelmente o
primeiro, e por coincidência o mais mal sucedido, dos projetos de fusões e
aquisições financiadas pelo BNDES – que viria a ser conhecido como “política de
campeões nacionais”.
Com o mercado nacional dividido entre os
mexicanos da Claro/Embratel, os espanhóis da Telefônica/Vivo e os italianos da
TIM, a ideia de criar uma super empresa de telecomunicações com capital
nacional atraiu as atenções do governo. Por meio da pressão de fundos de pensão
como o dos funcionários do Banco do Brasil, a PREVI, e seu presidente, a Brasil
Telecom foi conduzida ao altar para celebrar a criação de uma gigante nacional.
Nos anos que se seguiram, o projeto da Super
Tele, como ficou conhecido, ganhou ainda mais espaço com uma fusão entre Oi e
Portugal Telecom, internacionalizando o negócio, que passou a estar presente em
2 continentes e contar com mais de 100
milhões de clientes.
Uma gestão precária e uma conduta controversa
de pagamento de dividendos elevados pra abater dívidas de seus controladores,
porém, levaram o projeto a ganhar outros rumos. Atualmente a Oi é uma gigante
se desfazendo. Desde o ínicio da sua crise de endividamento, a empresa já vendeu
operações de cabos submarinos, torres de telefonia, prédios e a própria
Portugal Telecom. Seu valor de mercado já caiu mais de 90% e sua dívida atinge
hoje R$ 54 bilhões, contra R$ 1,7 bilhão de valor de mercado da empresa, um
valor menor do que aquele obtido com a privatização em 1997 das duas companhias
que formaram a atual Oi.
Nem os mais de R$ 10 bilhões em empréstimos
subsidiados concedidos pelo BNDES parecem afetar a empresa positivamente, que
com todo o susbídio mantêm-se apresentando prejuízo e queda no seu valor de
mercado – que só em 2015 já caiu 77,35%.
4)
MAGAZINE LUIZA – LUIZA HELENA TRAJANO
Empresária modelo, a bem sucedida herdeira da
rede Magazine Luiza, Luiza Trajano foi por muito tempo reconhecida como um raro
caso de sucesso dentre os herdeiros que conseguem levar suas empresas a níveis
muito mais elevados do que aqueles imaginados por seus fundadores. Luiza herdou
a rede fundada por sua tia e o marido, em 1957, na cidade de Franca, interior
de São Paulo, e desde 1991 levou a companhia a ser uma das maiores do país.
Sua relação com o governo, porém, é bastante
recente, atingindo um ápice em 2014, quando, numa resposta ao
apresentador do programa Manhattan Connection, Diogo Mainardi, recusou a ideia
de que existisse uma crise no varejo. De lá para cá a empresária foi abraçada
como um modelo de positividade por parte do empresariado, que chancela as
políticas do governo.
Não são poucas as políticas do governo que se
relacionam com as atividades da empresária. No início de 2014, por exemplo, o
governo decidiu criar o programa “Minha Casa Melhor”, que garantia R$ 5 mil em
financiamento aos compradores de moradias do programa “Minha Casa Minha Vida”,
favorecendo enormemente redes populares como o Magazine Luiza.
A própria expansão desenfreada do crédito, que
cresceu cerca de 2 vezes mais nos bancos públicos do que nos privados, está
entre as razões que levaram a expansão de redes como as lojas de Luiza. Em
determinado momento em 2013, por exemplo, os bancos públicos como o BNDES,
a CEF e o Banco do Brasil, chegaram a deter mais
de 50% do crédito total disponível no país.
Tal expansão, entretanto, foi fortemente
freada com a crise e a recessão na economia. Com o desemprego e a inflação em
alta e a renda em baixa, as vendas do varejo caíram em 7 dos 8 primeiros meses
do ano, levando redes como o Magazine Luiza a fecharem lojas. Desde que abriu
seu capital em 2011, suas ações já despencaram mais de 90%, sua dívida mais
do que dobrou e as vendas estagnaram.
5 –
SETOR EDUCACIONAL – TODOS OS GRANDES GRUPOS
Comparar discussões travadas na campanha
eleitoral de 2014 com a realidade de 2015 pode ser algo perigoso para a maioria
das pessoas – muitas das quais se viram iludidas ou até mesmo traídas naquilo
que contavam ao apoiar o atual governo. Para muitos adolescentes, sonhos
como uma vaga na universidade ou uma viagem para Europa patrocinada pelo
governo, eram uma realidade líquida e certa, que dependia única e
exclusivamente da fidelidade na hora do voto.
Não deve ser espanto para ninguém acreditar
que jovens possam apostar na ideia do FIES para todos, mas deveria ser para
empresários do setor, acostumados a acompanhar esta realidade minuciosamente.
Não foi o que ocorreu. Ao longo dos últimos 4 anos, a concessão de bolsas pelo
FIES para alunos de universidades privadas saltou inacreditáveis 451%, contra um aumento de meros 12% no total de alunos das universidades privadas.
Com cerca de 70% do total de alunos em
universidades, o setor de ensino se tornou uma verdadeira mina de ouro. Suas
margens de lucro chegam a 24%, acima até mesmo das margens de lucro em bancos
ou na Petrobras (antes de a empresa ser destruída). Com a forte expansão do
FIES, que garante a oferta de vagas e uma demanda bastante elevada (dado que
universidades públicas são restritos a uma minoria), a educação se tornou um
negócio sério no Brasil. Chegamos a ter a maior empresa de educação do mundo, a
Kroton, cujo valor de mercado atingiu R$ 21 bilhões em 2014.
Por se tratar de um fundo, porém, os recursos
do FIES não são ilimitados. O dinheiro que compõem o fundo vem principalmente
de empréstimos antigos, além de aportes de recursos pagos pela Caixa Econômica
Federal (parte da arrecadação das loterias). Com o descontrole, em especial no
ano eleitoral, os recursos chegaram a 2015 quase zerados, a ponto de o governo
anunciar uma redução superior a 50% no total de bolsas.
O efeito nas empresas do setor não poderia ser
mais devastados. A Ser Educacional, que controla a Universidade Maurício de
Nassau, chegou a variar entre R$ 30,60 e R$ 7,35 por ação nos
últimos 12 meses, enquanto a Kroton, líder do
setor, atingiu a
mínima de R$ 7,41, contra uma máxima de R$ 17,85 por ação.
Seja você um adolescente ou um empresário
calejado, cair na conversa de um político pode invariavelmente custar parte
importante do seu futuro. Acreditar que economias sempre crescem é um dos erros
mais constantes da política, mas possuem pouca relação com a realidade, que
está mais para a soma do custo de decisões certas e erradas – sejam elas da
política, de uma grande empresa ou mesmo do seu cotidiano.
SPOTNIKS
Comentário do blog:
se o autor do artigo resolvesse buscar uma
relação de empresas falidas – empresas médias para cima - por acreditarem nas “afirmações”
de governantes, nos últimos 40 anos (1976-2015), encontraria mais de 1.000.
Depois
a esquerda, retrógada como sempre pois já nasceu assim, culpa os empresários pelos insucessos da nossa economia.(MBF).
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