João Luiz Mauad
Pindorama é um país sui generis.
As palavras por aqui não valem praticamente
nada, principalmente quando saídas da boca de algum político. Os
oradores tupiniquins, sempre tão prolixos em suas falas, jamais são
questionados a respeito de suas contradições, ainda que elas sejam mais do que
óbvias. Nossa imprensa, além de majoritariamente comprometida com o
establishment, é pouco preparada para questionamentos mais duros e/ou
constrangedores.
Nos estados Unidos e na Europa, é normal
assistirmos a entrevistas de políticos e outras autoridades nas quais o
entrevistado chega a ser emparedado de tal maneira, a ponto de nos sentirmos
constrangidos. Quem quer que já tenha assistido a um programa do tipo “60
Minutes” pôde constatar o que estou dizendo. Mesmo em debates eleitorais,
os jornalistas partem para cima do candidato sem dó nem piedade, não raro
apontando suas contradições e/ou mentiras.
Aqui, ao contrário, os jornalistas parecem
participar de um teatro com enredo previamente ensaiado, dispostos a perguntar
somente aquilo que os entrevistados desejam responder. Se estes não
respondem, mentem ou simplesmente se contradizem, fica tudo por isso
mesmo. Raros são os episódios em que vemos um entrevistador fazer
perguntas de forma mais incisiva ou chamar às falas o entrevistado.
No último fim de semana, a presidente Dilma
concedeu uma entrevista em Estocolmo e, perguntada se as denúncias contra o
presidente da Câmara causam constrangimento ao Brasil, respondeu que considera lamentável que
isso esteja acontecendo com um brasileiro. Dilma demonstrou,
mais uma vez, com esta resposta, que é uma personagem politicamente desastrada
e, segundo opiniões abalizadas, cognitivamente débil, o que
explica boa parte de seus problemas políticos. Não havia qualquer
motivação para uma resposta tão inábil.
Qualquer político com um mínimo de bom senso
teria respondido que aquele era um assunto do poder judiciário, cujo inteiro
teor ela desconhece e que, portanto, não comentaria. Mas Dilma não seria
Dilma se tivesse agido dessa maneira, e acabou criando mais uma saia justa para
seu governo, já que, segundo consta, o deputado Eduardo Cunha teria ficado
furioso com a resposta – embora, na minha humilde opinião, a intenção da
presidente tenha não tenha sido cutucar a fera. O problema é que, ao que
parece, há uma enorme distância entre o que Dilma pensa e diz.
Bem, quaisquer que tenham sido as motivações
da presidente, o fato é que Cunha convocou uma entrevista coletiva cujo
principal objetivo, como restou claro, era dar o troco. Disse ele, quando
perguntado o que tinha a dizer sobre a declaração da presidente, na véspera:
“eu lamento que o maior escândalo de corrupção do mundo tenha acontecido com um
governo brasileiro”. Mais não disse e também não foi perguntado.
O presidente da Câmara estava cercado de
dezenas de jornalistas e a entrevista continuou por, pelo menos, mais uns 10
minutos, sem que ninguém tivesse perguntado o óbvio naquele momento:
“Presidente, se o senhor tem tanta convicção assim acerca dos escândalos de
corrupção que assolam o governo da presidente Dilma, por que então já engavetou
dezenas de pedidos de impeachment? Por acaso não acha que esse seria um motivo
suficiente para levar o processo à frente?”
Mas nenhum repórter presente sequer perguntou
nada semelhante. Simplesmente, desconversaram, seja por incompetência ou
por mansidão atávica. Até porque Eduardo Cunha, apesar de ter dito uma
verdade cristalina, é o único brasileiro que não poderia dizê-la sem cair em
contradição, pois, apesar de ter a faca e o queijo nas mãos, até hoje se
recusou a fazer o que a maioria da população brasileira deseja.
Esperemos agora que, apesar dos pesares,
Eduardo Cunha confirme com ações concretas que acredita realmente naquilo que
disse. Caso contrário, ficará parecendo briga de criança birrenta: “Você
é feio! Não, feio é você!”
Instituto Liberal
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