Hélio Duque
A incerteza é matriz do atual momento
da vida brasileira, onde o desemprego e a recessão invade o cotidiano. Sem uma
política fiscal que controle com espartana disciplina os gastos públicos não
essenciais, a desorganização patrimonial, em todos os níveis, com a perda de
renda será consequência natural. O enfrentamento dessa realidade adversa só
aponta um único caminho: ajuste fiscal. Postergá-lo significa aprofundamento da
crise econômica e social. Sem o equilíbrio das contas públicas as perdas para a
economia serão crescentes com o empobrecimento atingindo níveis alarmantes. Não
fica adstrito ao Estado, mas espalha-se como um vírus no orçamento familiar e
empresarial.
Resta indagar: o que ocorreu com o
Brasil? A resposta é objetiva, os equívocos e erros recorrentes nos últimos
anos executado pelo governo nocautearam as contas públicas. Sua origem pode ser
localizada na expansão fiscal irresponsável, com elevação dos gastos estatais e
corte seletivo de imposto, além da contenção dos preços administrados, a exemplo
da energia elétrica, da gasolina e do diesel, para favorecer um projeto de
poder. O acumulo dessas distorções não puderam mais se sustentar a partir da
reeleição da Dilma Rousseff. Aflorou com rigor o cenário que estamos a
vivenciar: recessão econômica, taxa de juros elevada e crise social tendente a
se agravar.
O inadiável ajuste da economia pela
disciplina fiscal não tem consenso no condomínio do poder. O ministro da
Fazenda ao propor o ajuste fiscal é bombardeado pelo presidente do PT e pelo ex-presidente
Lula da Silva. Eles enxergam no ajuste uma opção de direita. Infelizmente, no
Brasil, o primarismo ideológico tem terreno fértil. Equilibrar contas públicas
não tem nada de direita ou de esquerda, é o elementar dever moral de se pagar o
que deve. Ideológico é elevar o nível incontrolável a atuação do Estado na
economia. É expandir a rede de créditos estatais com alocações preferenciais
aos amigos do poder, através os bancos públicos. Em tempo: os investimentos
sociais para atacar as desigualdades não são os responsáveis pelo desastre.
O ajuste fiscal significa recolocar,
no médio e longo prazo, a economia brasileira em ritmo de crescimento. Sabendo
que a recessão de 2015 se repetirá em 2016, influenciando negativamente a
retomada do crescimento nos anos de 2017 e 2018. Somente assim haverá
perspectiva de, no médio prazo, ocorrer relativa estabilidade da dívida bruta
em relação ao Produto Interno Bruto. Sem ele o aprofundamento da crise, com o
encolhimento da economia brasileira, atingirá nível desesperador.
Os números que seguem demonstram o
que está “ruim” pode se tornar “péssimo”. O IBGE, através a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada em agosto,
demonstra que 8,6 milhões de brasileiros estão desempregados. Com o indicativo
de aumento até o final do ano, elevando o padrão de endividamento das famílias.
A perda dos empregos formais, com carteira assinada, se aproxima dos 2 milhões,
o que levou o Coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, economista Cimar Azeredo
afirmar: “Isso significa perder plano de saúde, FGTS, garantia de
seguro-desemprego. Tudo isso se traduz em perda de estabilidade”.
Pelo lado empresarial, a realidade
não é diferente. A recuperação judicial vem frequentando o cotidiano de médias
e grandes empresas. A Serasa Experian, através o economista-chefe Luiz Rabi,
constata: “O quadro de recessão na economia afeta diretamente o ritmo de
negócios e a geração de caixa das empresas”.
Aponta que do total das 7,9 milhões
de empresas em operação no Brasil, perto de 4 milhões estão na condição de
inadimplência. A quase totalidade é de micro empresas, grandes geradoras de
emprego na área de serviços. Já no plano individual, a Serasa constata que 57
milhões de indivíduos estão endividados, principalmente em bancos, varejo e
contas de consumo. Nesse segmento de consumidores, o valor do endividamento
seria de R$ 246 bilhões.
Sem o ajuste da economia essa
realidade se agravará, aumentando o desespero e a incerteza do futuro para os
brasileiros.
Helio Duque
Doutor em Ciências, área
econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal
(1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.
Alerta Total – www.alertatotal.net
Comentário do blog: o único ajuste tem que se dar através da Lei de Responsabilidade Fiscal. Diminuir de 50% para 40%, para início de conversa, o quanto os políticos podem gastar com o empreguismo.
Lógico que está implícito o fato de que o governante não pode ser uma ANTA, nem ser assessorado por analfabetizados.(MF).
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