Gustavo Kahil
Em entrevista a O Financista, economista avalia que o país
poderia voltar a olhar para 1989
SÃO
PAULO - Por mais que a sociedade brasileira debata sobre como encontrar uma
saída para a própria cilada criada por ela, um consenso debatido e entendido há
décadas adormece à espera de ser resgatado e posto em prática para devolver,
mais uma vez, o rumo do país ao crescimento sustentável.
No
final da década de 1980, perto de 1990, John Williamson, economista britânico,
ao perceber que os Estados Unidos estavam prestes a dar um auxílio muito
camarada aos países latino-americanos que viviam uma calamidade fiscal,
incluindo o Brasil, sugeriu que eles deveriam seguir alguns pontos necessários
para “colocar a casa em ordem”.
Cunhava-se
ali o “Consenso de Washington”. Tratado por muitos economistas como apenas uma
cartilha neoliberal, acabou por servir como um GPS para os países que
desejassem viver as décadas seguintes com mais espaço para deliberar sobre o
próprio futuro depois de ganhar a confiança dos credores e assim
caminhar em prol dos rumos desejados pela própria sociedade.
Em
entrevista a O Financista, o economista
aposentado do Peterson Institute for
International Economics fala a respeito da situação atual do
Brasil e sobre o que o país precisa fazer para sair do ambiente de incertezas.
“O
problema agora é o baixo crescimento. Este também foi um problema na década de
1990, mas naquela época havia uma crença generalizada de que o crescimento saudável
seria retomado quando outros problemas tivessem sido tratados - uma crença que
parecia justificada durante o governo Lula. Quando essa visão se mostrou
incorreta foi considerada devidamente como um desastre”, disse Williamson.
Veja abaixo a
íntegra da entrevista:
O Financista: O
senhor acredita que o Brasil pode retornar ao seu rumo com a criação de um
novo consenso? Algo como um Consenso de Brasília?
John Williamson: Eu não considero o consenso como algo que um
governo pode criar, embora ele deva pensar da mesma forma que a maior
parte da população para que um consenso exista.
O que importa, mais
do que se existe um consenso ou não, é se as ações do governo são motivadas por
uma visão coerente do que os governos podem fazer para melhorar o estado das
coisas.
Em retrospecto, foi
um exagero imaginar que existiu um consenso em 1989, quando a Guerra Fria
terminou e políticas econômicas sensatas foram muito predominantes.
Certamente eu não
detecto nenhum consenso hoje. (Se o consenso existe e tem o nome de qualquer
cidade, isso me parece sem importância).
O Financista: Quais são, em sua
opinião, os elementos fundamentais que o governo deveria perseguir, 20
anos depois, pensando no Brasil?
Williamson: Vou argumentar sobre os elementos que
acredito que devam ser perseguidos pelos governos. Estes incluem os principais
temas que já foram identificados em 1989, ou seja, disciplina macro,
internacionalização, e um papel-chave para o setor privado (como para o
governo) na economia.
Os principais temas
que surgiram no último quarto de século são a importância fundamental da
educação e da importância da construção de instituições sólidas e funcionais.
O Financista: O
senhor vê algum paralelo entre o Brasil de hoje o da década de 1990?
Williamson: Não, eu considero os problemas enfrentados
pelo governo brasileiro hoje como substancialmente diferentes da década de
1990. O problema dominante na década de 1990 foi a inflação; controle da
inflação no início de 1990, e ter certeza de que o controle era permanente até
o final da década.
O problema agora é
o baixo crescimento. Este também foi um problema na década de 1990, mas naquela
época havia uma crença generalizada de que o crescimento saudável seria
retomado quando outros problemas tivessem sido tratados - uma crença que
parecia justificada durante o governo Lula. Quando essa visão se
mostrou incorreta foi considerada devidamente como um desastre.
O Financista: O Brasil
conseguirá algum dia chegar a algum consenso sobre o crescimento, ou a fraqueza
das suas instituições e a fragmentação política sempre serão um maior
impedimento para atingir isso?
Williamson: Concordo que um consenso político em torno
do crescimento é útil para alcançá-lo, embora eu duvido que seja essencial para
atingir um crescimento rápido. Sobre a questão de se o Brasil nunca vai
alcançar instituições robustas e evitar a fragmentação política, gostaria de
fazer duas observações: (1) elas, sem dúvida, apresentam sérios obstáculos e
(2) eles não são imutáveis.
O Financista: Uma ruptura
política, como um impeachment, pode ser vista como uma oportunidade para um
novo “contrato social” para os brasileiros e o seu governo?
Williamson: Eu duvido que um impeachment seria seguido
por um novo contrato social.
O Financista: Agora, de
uma forma geral, você está mais otimista ou pessimista com o Brasil?
Williamson: Gostaria de me definir como esperançoso em
vez de decididamente otimista ou pessimista.
O Financista
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