Patrícia Bueno
As ruas brasileiras já não têm mais dono. Finalmente são
públicas, pertencem ao povo brasileiro. Despiram-se das vestes únicas que,
vermelhas, mostravam o domínio de bandeiras indicadoras apenas do lado esquerdo
de uma sociedade plural.
A política das vias não pertencia ao povo, mas a poderosas
organizações financiadas por contribuições sindicais e de funcionários, no mais
das vezes públicos, defensores de privilégios. A força econômica do
sindicalismo, do peleguismo e dos ditos movimentos sociais finalmente foi posta
a prova em desfiles cívicos não planejados. Nós, os comuns, nos fizemos
representar nos passeios.
Os protestos de 2013, inicialmente organizados pelos mesmos de
sempre, acabaram por reunir cidadãos de todos os matizes ideológicos. Naquela
ocasião, chegou-se a afirmar que o “gigante acordara”. Sim, o diagnóstico
estava correto.
O debate público, até então dominado por profissionais da
política, passou a contar com seu protagonista ausente. Governava-se em nome do
povo, falava-se em nome do povo, mas o povo referido era aquele amestrado por
verbas. Era um povo fabricado que, como os políticos, era pedinte habitual de
privilégios. Atualmente, não mais há monólogo e a força verdadeiramente
popular, mais do que bandeiras, rejeita os rótulos pré-fixados. Expõe-se nas
ruas, exprime-se nas redes e pressiona os eleitos.
Divorciada do eleitorado, a classe política acreditou que o
governo democrático se exercia com passaporte para desmandos. Pensou que as
instituições eram formadas por capachos que deveriam apenas legitimar os abusos
cometidos e chegou inclusive a confundir política com politicagem. Mas ao povo
essas ideias não servem. A população, até então desatenta, acompanha a
responsabilização pelas leis descumpridas. Exige ética, moralidade e, claro, um
bom governo.
Desesperam-se os políticos. O antigo modo de governar caducou e
eles nem mesmo conseguem manter os ulteriores acordos. A briga é intensa.
Afrontam-se e acusam-se mutuamente. Gritam uns: estão politizando o debate!
Acrescentam outros: é golpe!
Certamente é golpe. Golpe certeiro na politicagem. O povo agora
participa da política.
Patrícia Bueno
Mestre em Direito
político e econômico e diretora-executiva do Movimento Endireita Brasil.
Instituto Liberal
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