Editorial do
Estadão
A
quem o PT pensa que engana quando tenta agradar a gregos e troianos fingindo
que faz oposição ao governo que elegeu? A única coisa que o presidente nacional
do partido, Rui Falcão, conseguiu ao declarar, a mando de Lula, que a “política
econômica” do governo está errada e o ministro Joaquim Levy deve ser demitido
foi desmoralizar ainda mais a presidente Dilma Rousseff, que, em desespero de
causa, está tentando colocar em ordem as contas do governo que ela mesma
bagunçou, condição indispensável à retomada do crescimento econômico.
Em
visita oficial à Suécia, Dilma retrucou: “O presidente do PT pode ter a opinião
que quiser. Mas não é a opinião do governo”. E arrematou, categórica: “Ele (Levy) não está
saindo do governo. Ponto”. Se ela diz...
Nunca
é demais repetir: até 2014, quando então fez “o diabo” para reeleger Dilma, o
petismo insistiu em apregoar e aplicar uma “nova matriz econômica” que
priorizou os investimentos de alto retorno eleitoral – como programas sociais
que efetivamente ajudaram a tirar milhões de brasileiros momentaneamente da
miséria, mas sem nenhuma garantia de efetiva inserção na atividade econômica –
aliados a uma agressiva política de renúncia fiscal, para estimular a produção,
e de “flexibilização” do crédito popular, para estimular o acesso a bens de
consumo. O populismo lulopetista optou por investir no retorno eleitoral
imediato, relegando a plano secundário os programas de investimento de
maturação mais lenta em bens sociais como educação, saúde, saneamento,
mobilidade urbana, segurança, etc.
De
acordo com a constatação insuspeita de Frei Betto, nas favelas que se
multiplicam por todo o País se encontram hoje barracos devidamente equipados
com geladeira, eletrodomésticos, televisores moderníssimos, às vezes até mesmo
carros populares e outros objetos de consumo, mas quando saem porta afora as
pessoas não encontram escolas, postos de saúde e hospitais decentes, transporte
público eficiente e barato, segurança adequada, enfim, os bens sociais que são
muito mais essenciais a um padrão de vida digno do que os bens de consumo que
lhes oferecem a ilusória sensação de prosperidade.
Essa
política econômica populista e intervencionista, que, como hoje se constata,
não tinha possibilidade de se sustentar sobre pés de barro, provocou a grave
crise que reduziu a pó a popularidade de Dilma, de Lula e do PT, levando a
presidente da República a, como último e constrangido recurso, dar um tempo na
gastança irresponsável e tentar colocar as contas do governo em ordem, tarefa
atribuída a uma equipe comandada pelo “liberal” Joaquim Levy.
Divididos
entre a necessidade de o governo adotar medidas impopulares de austeridade e a
inconformidade com essas medidas compreensivelmente manifestada pelas “bases”,
as entidades e organizações filopetistas, Lula e o PT não tiveram dúvidas: para
salvar a própria pele fingem que abandonaram à própria sorte uma presidente da
República impopular e sustentam o tradicional discurso populista e
irresponsável, segundo o qual o governo tudo pode. Basta querer, quando se
trata de “ficar do lado dos pobres”.
O
que pedem Lula e o PT? Entre outras medidas ditadas pelo voluntarismo
populista, nada menos do que o restabelecimento da política de crédito fácil e
abundante que fez a festa do lulopetismo até o ano passado. Em entrevista à Folha de
S.Paulo, Rui Falcão foi direto ao ponto: “É importante mudar a
política econômica. É preciso que se libere crédito para investimento, para
consumo. É uma forma de fazer a economia rodar”. Como se a economia não
estivesse “rodando” por pura implicância do ministro da Fazenda. Faltou apenas
Falcão explicar de onde o governo vai tirar dinheiro suficiente para “liberar”
o crédito para consumo.
O
patrão de Rui Falcão não se cansa de repetir que o governo precisa de uma
“agenda positiva”, de parar de falar em ajuste fiscal e outras coisas
desagradáveis e tratar de dar “esperança” ao povo. Resta saber quem teria
alguma credibilidade para levar na conversa o brasileiro que está sofrendo na
pele e no bolso o enorme fracasso do “projeto de felicidade” de Lula. Mais do
que nunca, é uma grande farsa.
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