Helio Duque
“Conduzir o Brasil no caminho de um
novo ciclo de crescimento, ampliando as oportunidades para o nosso povo subir
na vida”, são palavras ao vento da presidente da República, proferidas no dia 7
de setembro, data da independência. O seu desejo é aspiração de todos os
brasileiros conscientes do fato de ver o País trilhando a rota do crescimento
econômico, fundamentado na justiça social.
Infelizmente o seu governo é a
antítese ao promover a situação atual, onde o baixo crescimento, explosão da
dívida pública, endividamento assustador e inflação ascendente, é o fruto
colhido pela política econômica primária e populista praticada nos últimos
anos. Atestada pelo Banco Central, ao final de setembro, ao revelar realidade
desalentadora gerada pela recessão econômica de 2015 e 2016 e que deverá
contaminar os anos de 2017 e 2018. Atingindo em cheio a estabilidade econômica
e inclusão social.
A crise brasileira é de longo prazo,
agravada com a carência de liderança que permeia governo e oposição. Além da
crise econômica existe a crise política, onde os fundamentos da chamada base de
apoio do governo é o fisiologismo, o patrimonialismo e a busca pelo loteamento
de cargos e ministérios. Não pensam no Brasil, mas unicamente no confisco da
máquina do Estado para usufruir vantagens e privilégios. A recente “reforma
ministerial” traduz essa realidade.
Já a oposição bate cabeça, votando e
apoiando propostas, a exemplo do fator previdenciário, unicamente para
enfraquecer um governo que está nocauteado e nas cordas. Governo e oposição
travam uma luta de gato e rato, onde buscar caminhos para aplacar o dramático
momento em que vivemos é ignorado. Oposição ao governo é saudável e
democrática. Já ao Brasil, em momento de crise da dimensão que estamos
mergulhados, é estultice.
Em poucas palavras: o Brasil não tem
hoje lideranças à altura para enfrentar a tempestade que atravessaremos nos
anos próximos. O recente documento: “Por um Brasil justo e democrático”,
elaborado pela Fundação do PT, assinado por dezenas de economistas, professores
universitários e intelectuais militantes é um exemplo disso e chega a ser
constrangedor.
Nele, os seus autores afirmam que o
ajuste fiscal ao prejudicar os trabalhadores, agride a população mais pobre,
aumentando o desemprego, fortalecendo a inflação e destruindo os salários. Em
tempo: o ajuste não foi votado pelo Congresso, consequentemente atribuir sua
responsabilidade pela crise é delírio.
O surrealismo chega a afirmar:
“Apesar da deterioração de alguns indicadores entre 2013 e 2014, o Brasil não
apresentava, sob nenhum aspecto considerado, um cenário de crise que exigisse
tamanho sacrifício da população”. Vivem no mundo da fantasia.
Os subscritores do documento dizem
mais: “O ajuste fiscal está jogando o País numa recessão, promove a deterioração
das contas públicas e a redução da capacidade de atuação do Estado em prol do
desenvolvimento econômico. Mais grave é a regressão no emprego, nos salários,
no poder aquisitivo e nas políticas sociais”. Teria sido o marqueteiro João
Santana, um dos autores dessa interpretação kafkiana do ajuste fiscal?
Subestimar a inteligência dos
brasileiros pela repetição do embuste infantilizador é assim definida por Santo
Agostinho na restrição mental: “Consiste em dizer o que é falso com a intenção
de enganar. É a ofensa mais direta à verdade”. Quem quebrou e deteriorou as
contas públicas no Brasil foi o modelo econômico imposto pelos governos
Lula/Dilma, não foi o ajuste fiscal proposto (e boicotado pelos
patrimonialistas) que fez o País perder o “grau de investimento”.
Foi a incompetência dos que
destruíram a estabilização do real, multiplicando a dívida pública pelo
descontrole dos gastos, destruindo partes do patrimônio nacional. Escravizando
a economia nacional ao rentismo financeiro, onde uma dívida pública, hoje, de
R$ 3,5 trilhões, custará em 2015, mais de 520 bilhões de reais somente com
pagamento dos juros. A Petrobrás é o exemplo doloroso do que vem sendo a
administração pública brasileira nos últimos anos. Negacear esses fatos e
tantos outros ocorridos na construção do desastre que vitimou o Brasil é de uma
desonestidade moral e intelectual inqualificável.
A rigor, a hora da verdade chegou e
será dolorosa para a população. A agenda da verdade para retirar o País da
hecatombe econômica, financeira e moral em que está mergulhado exige seriedade
e competência. O preço maior será para os trabalhadores, a classe média e os
assalariados em geral.
Os mais abonados, os mais ricos,
terão mecanismos próprios para se defenderem. O que determinará um novo ciclo
de concentração da renda. Tristemente os pobres ficarão mais pobres.
Guilhotinaram a ascensão social dos trabalhadores brasileiros.
Helio Duque
Doutor em Ciências, área
econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal
(1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.
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