quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A fantasia e o ajuste da economia

Helio Duque

“Conduzir o Brasil no caminho de um novo ciclo de crescimento, ampliando as oportunidades para o nosso povo subir na vida”, são palavras ao vento da presidente da República, proferidas no dia 7 de setembro, data da independência. O seu desejo é aspiração de todos os brasileiros conscientes do fato de ver o País trilhando a rota do crescimento econômico, fundamentado na justiça social.

Infelizmente o seu governo é a antítese ao promover a situação atual, onde o baixo crescimento, explosão da dívida pública, endividamento assustador e inflação ascendente, é o fruto colhido pela política econômica primária e populista praticada nos últimos anos. Atestada pelo Banco Central, ao final de setembro, ao revelar realidade desalentadora gerada pela recessão econômica de 2015 e 2016 e que deverá contaminar os anos de 2017 e 2018. Atingindo em cheio a estabilidade econômica e inclusão social.

A crise brasileira é de longo prazo, agravada com a carência de liderança que permeia governo e oposição. Além da crise econômica existe a crise política, onde os fundamentos da chamada base de apoio do governo é o fisiologismo, o patrimonialismo e a busca pelo loteamento de cargos e ministérios. Não pensam no Brasil, mas unicamente no confisco da máquina do Estado para usufruir vantagens e privilégios. A recente “reforma ministerial” traduz essa realidade.

Já a oposição bate cabeça, votando e apoiando propostas, a exemplo do fator previdenciário, unicamente para enfraquecer um governo que está nocauteado e nas cordas. Governo e oposição travam uma luta de gato e rato, onde buscar caminhos para aplacar o dramático momento em que vivemos é ignorado. Oposição ao governo é saudável e democrática. Já ao Brasil, em momento de crise da dimensão que estamos mergulhados, é estultice.

Em poucas palavras: o Brasil não tem hoje lideranças à altura para enfrentar a tempestade que atravessaremos nos anos próximos. O recente documento: “Por um Brasil justo e democrático”, elaborado pela Fundação do PT, assinado por dezenas de economistas, professores universitários e intelectuais militantes é um exemplo disso e chega a ser constrangedor.

Nele, os seus autores afirmam que o ajuste fiscal ao prejudicar os trabalhadores, agride a população mais pobre, aumentando o desemprego, fortalecendo a inflação e destruindo os salários. Em tempo: o ajuste não foi votado pelo Congresso, consequentemente atribuir sua responsabilidade pela crise é delírio.

O surrealismo chega a afirmar: “Apesar da deterioração de alguns indicadores entre 2013 e 2014, o Brasil não apresentava, sob nenhum aspecto considerado, um cenário de crise que exigisse tamanho sacrifício da população”. Vivem no mundo da fantasia.

Os subscritores do documento dizem mais: “O ajuste fiscal está jogando o País numa recessão, promove a deterioração das contas públicas e a redução da capacidade de atuação do Estado em prol do desenvolvimento econômico. Mais grave é a regressão no emprego, nos salários, no poder aquisitivo e nas políticas sociais”. Teria sido o marqueteiro João Santana, um dos autores dessa interpretação kafkiana do ajuste fiscal?

Subestimar a inteligência dos brasileiros pela repetição do embuste infantilizador é assim definida por Santo Agostinho na restrição mental: “Consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar. É a ofensa mais direta à verdade”. Quem quebrou e deteriorou as contas públicas no Brasil foi o modelo econômico imposto pelos governos Lula/Dilma, não foi o ajuste fiscal proposto (e boicotado pelos patrimonialistas) que fez o País perder o “grau de investimento”.

Foi a incompetência dos que destruíram a estabilização do real, multiplicando a dívida pública pelo descontrole dos gastos, destruindo partes do patrimônio nacional. Escravizando a economia nacional ao rentismo financeiro, onde uma dívida pública, hoje, de R$ 3,5 trilhões, custará em 2015, mais de 520 bilhões de reais somente com pagamento dos juros. A Petrobrás é o exemplo doloroso do que vem sendo a administração pública brasileira nos últimos anos. Negacear esses fatos e tantos outros ocorridos na construção do desastre que vitimou o Brasil é de uma desonestidade moral e intelectual inqualificável.

A rigor, a hora da verdade chegou e será dolorosa para a população. A agenda da verdade para retirar o País da hecatombe econômica, financeira e moral em que está mergulhado exige seriedade e competência. O preço maior será para os trabalhadores, a classe média e os assalariados em geral.

Os mais abonados, os mais ricos, terão mecanismos próprios para se defenderem. O que determinará um novo ciclo de concentração da renda. Tristemente os pobres ficarão mais pobres. Guilhotinaram a ascensão social dos trabalhadores brasileiros.


Helio Duque
Doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

Alerta Total – www.alertatotal.net



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