Eliane Cantanhêde
Podem anotar aí: a próxima etapa da
“reforma ministerial” do Lula é limar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Lula
demorou a exercer seu domínio sobre a pupila Dilma Rousseff, que esperneou o
quanto pôde, mas, agora, ele não vai parar mais. A intervenção no governo, ou o
impeachment branco, vai longe.
A estratégia e o cronograma do ataque
a Levy, cada vez mais estranho no ninho, já está claríssima: deixar que ele
faça o “trabalho sujo” e depois jogá-lo às traças, ou de volta aos bancos. Como
“trabalho sujo”, entenda-se a correção de rumos, o ajuste fiscal, o aumento de
impostos, o corte de gastos.
Depois, põe-se a culpa nele por tudo
o que der errado, aponta-se Levy como o “inimigo do povo, o algoz dos pobres, o
neoliberal, o que manchou os ideais do PT” e parte-se para uma política a la
Lula: muito crédito barato, consumo, populismo e oba-oba.
Embevecido com os seus oito anos,
movidos pelos ventos externos, pelo efetivo processo de inclusão social e por
sua inegável capacidade política, Lula acha que pode recuperar a deificação
perdida e voltar nos braços do povo em 2018. Mas as coisas mudaram e mudaram
muitíssimo, dentro e fora do País.
Os sinais da estratégia e da
cronologia do ataque de Lula a Levy estão aí na praça, a céu aberto. Começaram
com declarações daqui e dali de lulistas empedernidos, foram formalizados pela
Fundação Perseu Abramo, viraram conversa animada no Congresso e disseminaram-se
pelos restaurantes onde a pauta é “como salvar a pátria”. Leia-se: como salvar
Lula e o PT.
Dilma não decide mais nada. E quem
decide - Lula e os seus - imagina que a reforma ministerial, com o corte de 39
para “só” 31 ministérios, a dança de cadeiras e a invasão desenfreada do PMDB,
vai resolver dois problemas imediatos: arquivar os processos de impeachment e
possibilitar o aumento de receita, seja com a CPMF ou com outras ideias
engenhosas do tipo.
Dois fatores são fundamentais.
Eduardo Cunha não vale mais um tostão furado, seu destino aponta para a
renúncia ou a cassação. E Lula acaba de ganhar um substituto não só à altura de
Gilberto Carvalho, mas muito, muito, muito mais hábil como seus olhos, ouvidos
e voz no gabinete presidencial: o carioca-baiano Jaques Wagner. Malandro, cheio
de lábia, Wagner é o único grão petista que consegue ser, ao mesmo tempo,
lulista e dilmista. Haja competência política! Que ele vai exercitar com a
“base aliada”.
Depois do Congresso amansado, com o
leão Cunha desdentado e a raposa Wagner botando as unhas de fora, o passo
seguinte é “cuidar da economia”. Não interessa o custo para o País e o futuro,
o que realmente importa é tomar um rumo que garanta a recuperação da
popularidade esgarçada e o reencontro do PT com suas bases. Com Levy é que não
seria.
“É a economia, estúpido!”,
lembram-se? Depois de dar carne às feras aliadas, será a vez de dar sangue às
bases e aos eleitores. Não pode ser o de Dilma, que precisa manter a cadeira
para evitar que o vice Michel Temer puxe o PSDB de volta ao Planalto. E muito
menos pode ser o de Lula, que é o eixo de tudo e um sobrevivente por natureza.
Logo, o próximo a ser estraçalhado e
jogado à opinião pública será Levy. Quem vai levantar um dedo para defendê-lo
no Planalto, no governo, no PT, na Fundação Perseu Abramo, no MST, na UNE, no
MTST? Viv´alma. Se foi fácil desfazer-se até dos ícones José Dirceu e José
Genoíno, será facílimo desvencilhar-se de Levy, como culpado número um.
Só tem aquele probleminha: todo mundo
sabe que a tragédia da economia começou com Dilma1, que as soluções populistas
serão um novo desastre e que, apesar de Lula estar mandando e desmandando, a
Lava Jato vai continuar firme e forte com ou sem Levy, com ou sem José Eduardo
Cardozo. Eles saem, os problemas ficam. E tendem a piorar muito, inclusive para
Lula.
Eliane Cantanhêde
Estadão. 04/10/15.
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