Hélio
Schwartsman
Resposta para a intricada questão depende do lugar geográfico e
histórico que você ocupa
Raúl Castro cedeu a Presidência de Cuba a Míguel Díaz-Canel. Mas o
irmão de Fidel deverá continuar no comando do Politburo até 2021, de onde ainda
exercerá forte influência sobre tudo. O cenário mais provável, portanto, é o de
aceleração de reformas —a economia da ilha está em pandarecos—, mas sem
sobressaltos. Se houver também alguma abertura política, será em doses ainda
mais homeopáticas.
É preferível que regimes fracassados mudem através de revoluções ou de
reformas graduais? A resposta para essa intricada questão depende do lugar geográfico
e histórico que você ocupa. Quase todos amamos a Revolução Francesa, mas só
porque não a vivemos.
Quando estamos suficientemente afastados do turbilhão revolucionário,
é fácil apreciar o heroísmo daqueles que enfrentaram a tirania e louvar os nobres
ideais que inspiraram o movimento. Mas, para quem estava lá, o retrato é mais
dramático. Para começar, 1789 degenerou num banho de sangue. Mesmo para a
maioria dos cidadãos que não perderam a vida na guilhotina ou em batalhas,
foram tempos difíceis, de caos político e econômico.
É verdade que nem todas as revoluções terminam em hemoclismo. As do
Leste Europeu nos anos 80 e 90 são um exemplo de sucesso. Houve, por outro
lado, a Primavera Árabe, que deu na neoditadura egípcia e na guerra civil
síria. Só a Tunísia se saiu mais ou menos bem. O fato é que, na hora de
deflagrar o levante, não há como saber se ele será ou não do tipo
sanguinário-catastrófico.
Havendo a opção de alterar a natureza do regime por meio de um roteiro
reformista, ela tende a ser muito mais tranquila para a população diretamente
envolvida, ainda que os resultados finais sejam mais ambíguos e descontentem
aqueles que estão longe dos acontecimentos e torcem por princípios abstratos.
O problema, no fundo, é que vivemos num Universo em que há muito mais
maneiras de destruir coisas do que de criá-las.
Folha
de São Paulo
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