XOSÉ
HERMIDA
O confronto
entre a espanhola Iberdrola e a italiana Enel pelo controle da Eletropaulo se
acirra nas vésperas de uma semana decisiva
A companhia elétrica brasileira Eletropaulo virou
objeto de desejo de dois dos gigantes do setor na Europa. A disputa
pelo controle da empresa abriu uma guerra encarniçada entre os dois
concorrentes, com uma sequência de ofertas e contraofertas cujo desfecho é
ainda uma incógnita à espera de uma semana que parece decisiva. A espanhola
Iberdrola e a companhia pública italiana Enel disputam o comando do setor
privado da distribuição elétrica no Brasil nos mesmos dias em que o Governo de
Michel Temer fez as primeiras movimentações para preparar a venda da Eletrobras.
Se a espanhola for a vencedora, consolidaria uma posição hegemônica no
país, com mais de 20 milhões de clientes. Caso a Enel consiga seu objetivo,
chegaria a 17 milhões de clientes e ultrapassaria a Iberdrola no mercado
brasileiro. As duas companhias são também as principais no mercado espanhol,
onde a Enel, através da Endesa, tem a primeira posição na frente da Iberdrola.
A acirrada disputa pela Eletropaulo lembra aliás em alguns detalhes o longo
combate que nos anos 2006 e 2007 houve na Espanha pelo controle da Endesa, no
que a companhia com participação maioritária do Estado italiano acabou vencendo
para a privada alemã E.on.
A Iberdrola tinha fechado na terça-feira passada um acordo com o
Conselho de Administração da Eletropaulo. O comprador seria Neoenergia, subsidiária
brasileira da Iberdrola, que possui 52% de seu capital. A empresa espanhola
ofereceu na casa de 6 bilhões de reais, divididos entre uma ampliação de
capital e a compra de ações em uma OPA posterior. Mas a Enel pegou por surpresa
a Iberdrola apenas umas horas depois de fechado o acerto. Os italianos
apresentaram uma OPA e incrementaram 200 milhões na proposta da Neonergia. Além
da ampliação de capital, ofereceram 28 reais por ação, frente a 25,51 dos
espanhóis.
A Iberdrola não abriu mão. Na tarde da sexta-feira, o Conselho de
Administração da Neoenergia subiu
a sua proposta até 29,40 reais, 5% mais do que a oferta italiana. Mas
pessoas envolvidas na operação não descartam alguma nova movimentação da Enel
ao longo da semana que vem. A Eletropaulo informou, neste sábado, que a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deu prazo até a segunda-feira para a
empresa se manifestar sobre a oferta dos italianos.
Os dois gigantes europeus vêm mostrando há tempos grande interesse no
mercado brasileiro. Os sete milhões de consumidores da Eletropaulo permitiriam
a qualquer uma das duas companhias aumentar sua presença de forma muito
importante. Até agora, a Iberdrola, que já é a primeira distribuidora privada
no país, tem 13,5 milhões de clientes através de quatro distribuidoras,
enquanto a Enel possui cerca de 10, com
duas companhias de distribuição. As duas concorrentes prometem grandes
investimentos no Brasil: cerca de 8 bilhões de reais nos próximos dois anos no
caso dos italianos e 25 bilhões até 2022 no dos espanhóis, 18% do total de
investimentos previstos pela empresa nesse período, segundo disse o seu
presidente, Ignacio Sánchez Galán, a um grupo de jornalistas brasileiros
convidados há algumas semanas à Espanha pela companhia para explicar seus
planos no país sul-americano. Tanto a Iberdrola quanto a Enel também
asseguram que sua entrada na Eletropaulo traria uma importante melhora
tecnológica nas redes de distribuição.
No combate em território brasileiro ecoam as disputas no mercado
espanhol. Nesse país o fato de a Enel ter a maioria de suas ações
-25%-propriedade do Estado italiano tem causado algumas polêmicas. Em março
passado, os sindicatos da Endesa organizaram protestos diante da Embaixada da
Itália em Madri pelas demissões de funcionários e acusaram a companhia matriz
de estar fazendo um "saque" na subsidiária espanhola. Segundo o
jornal espanhol Cinco Días, a Enel "sempre ficou de olho"
no Brasil e se conseguir o controle da Eletropaulo, o país será o segundo da
empresa por número de clientes, só depois da Itália.
A Iberdrola também tem como primeiro acionista um grupo estatal, o
Qatar Investment Authority, ainda que nesse caso com só 9% porque seu capital
está muito mais dividido.
EL
PAÍS
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