Fernanda
Odilla e Nathalia Passarinho
Autor de Lula of Brazil, biografia de Luiz Inácio Lula da Silva
lançada em 2008, o pesquisador britânico Richard Bourne diz que o petista
"não foi tão forte quanto deveria" em combater a corrupção.
Questionado sobre a possibilidade de o líder petista ter se envolvido
ou ter fechado os olhos para corrupção, Bourne afirma que Lula poderia ter sido
mais "cuidadoso".
"Pelo que eu sei do início da carreira dele, eu diria que ele não
foi tão cuidadoso quanto deveria. Certamente havia pessoas no PT, e não há
dúvidas sobre isso, que estavam envolvidas em vários tipos de corrupção. Ele
não foi tão forte quanto deveria. Quando comparamos o que aconteceu
recentemente com seus primeiros anos de Presidência, o idealismo existiu, mas
houve um triste declínio", disse Bourne à BBC Brasil.
O pesquisador, contudo, pondera que o Brasil precisa do "mesmo
entusiasmo" anti-Lula para fazer uma "faxina" em todo o sistema
político e punir todos os políticos envolvidos com corrupção no país.
Bourne diz ainda que gostaria de ver o PT fazendo uma autocrítica sobre
as acusações que pesam contra a legenda e seus filiados. Para ele, o partido
deveria agir contra os petistas envolvidos com corrupção.
No livro sobre o ex-presidente, o britânico já criticava o legado do
governo do petista justamente por achar que era necessária uma postura mais
incisiva contra a corrupção na política brasileira.
Condenado a 12 anos e um mês de prisão, Lula é também alvo de outros
processos e investigação por suspeita de crimes como corrupção, tráfico de
influência, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Nesta semana, o
petista teve a prisão decretada pelo juiz Sérgio Moro, depois de ter tido o
pedido de habeas corpus para esperar em liberdade até o fim do
processo negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Bourne diz não ter se surpreendido com a decisão do Supremo em
determinar a prisão imediata de Lula, mas sim com a quantidade de votos
favoráveis ao petista. O julgamento no STF terminou em 6 votos a 5 pela prisão
do ex-presidente antes de exauridas todas as possibilidades de recurso.
'Faxina'
Para o pesquisador, contudo, os escândalos recentes de corrupção no
Brasil indicam uma série de problemas não apenas com o PT, mas com toda a
classe política. "O Brasil precisa de uma faxina em todo o sistema
político. Eu gostaria de ver um entusiasmo (anti-Lula) em banir (o presidente
Michel) Temer e outros membros da classe política que estão envolvidos em
corrupção".
Questionado se a narrativa de vítima e de perseguição política é bem
sucedida, Bourne diz "ser difícil de generalizar".
"Apoiadores fora do Brasil têm visto os fatos como vingança
política. Mas há outros preocupados em ver o sucesso do Judiciário e da
democracia que tendem a reconhecer que o juiz Sergio Moro, o Ministério Público
e outros também merecem apoio", observa.
A grande preocupação do pesquisador, contudo, é uma confiança
exagerada no sistema judicial em detrimento da democracia. "Políticos
envolvidos em corrupção têm sido banidos pelo Judiciário, não pelas pessoas nas
eleições", diz.
Ele emenda que há o risco de os eleitores brasileiros continuarem
votando em corruptos. "Meu receio é que os brasileiros não punam nas urnas
os políticos envolvidos com corrupção".
Apesar de as acusações e da ordem de prisão contra Lula, Bourne
destaca que o petista ainda é um líder extremamente popular e capaz de
influenciar as eleições mesmo sem estar nas urnas. Para o biógrafo, Lula vai
atuar nos bastidores e tem condições de transferir popularidade mesmo preso.
BBC Brasil em Londres
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