Percival
Puggina
Não é raro que leitores me perguntem por que, ao longo de tantos anos,
tendo publicado quatro livros e milhares de artigos, eu não incluo entre minhas
pautas os temas referentes às mazelas sociais. "Essas realidades nada lhe
dizem? Por que o senhor combate pessoas e partidos manifestamente preocupados
com os miseráveis?", indagam-me, certos de que sangrarei sob o peso da
minha omissão.
Essas indagações ganham relevo porque refletem dois problemas
nacionais, com conseqüências políticas desastrosas. Refiro-me, primeiro, à
ideia de que as palavras têm um poder mágico, capaz de mudar a realidade por
mera dicção. E, segundo, a ideia de que não seja necessário explicitar, de modo
correto, o modo como se viabiliza a superação do mal descrito. É exatamente
pela desatenção a esse aspecto que os demagogos congestionam a política
brasileira.
Já ouvi muito discurso vazio, já vi muita gente chegar ao poder
mediante tais parolagens, já vivi para ver muitos povos submetidos a tiranos
que se impuseram em nome de prometida e nunca entregue redenção social.
Sinceramente, sinto-me dispensado disso. Um artigo que aponte como soluções
para a pobreza sistemas econômicos e políticas que agravam a miséria só serve
para o autor.
Prefiro outro caminho, ou seja, o dos temas sobre os quais escrevo.
Entre eles, um sistema econômico que produza riqueza e não miséria, políticas
que liberem as iniciativas individuais e reduzam o peso do Estado sobre a
sociedade; e um sistema educacional que cultive os valores do estudo e do
trabalho. É o caminho que promove valores culturais relevantes, como a
dignidade e a autonomia da pessoa humana, a família, o correto uso da
liberdade, a solidariedade, a ordem, o amor à pátria, o respeito à lei e as
virtudes. É o caminho da religiosidade sadia, do amor a Deus, da fé, da
prioridade do espírito sobre a matéria, da ética sobre a técnica e da pessoa
humana sobre o Estado. É o caminho que promove o Bem e denuncia o Mal. Que
aprecia a beleza, a justiça e a verdade. É o que busca instrumentos políticos
capazes de construir uma verdadeira democracia, na forma e nos princípios que a
inspiram, porque simetricamente presentes no conjunto do tecido social.
Sei que assim se atacam os problemas causadores do baixo crescimento
econômico, a miséria, a desagregação familiar e social, o vício, a violência e
a criminalidade. Aí estão os adversários que enfrento, caros leitores,
eventualmente ansiosos por um artigo talvez tão agradável de ler quanto
historicamente surrado e inútil. É claro, também, que nada posso fazer se estas
pautas, vez por outra, pareçam chapéus sob medida para a cabeça de algumas
pessoas ou partidos políticos.
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