Editorial
Fonte
inesgotável de ineficiência, corrupção e desperdício de dinheiro público, as
empresas estatais ademais pagam salários muito superiores à média do mercado,
mesmo entregando um serviço de má qualidade. Reportagem do Estado mostrou que
as distribuidoras do sistema Eletrobrás, que contabilizaram prejuízo de R$ 4,2
bilhões em 2017, oferecem salários médios de R$ 11,7 mil, cerca de três vezes a
média paga em empresas privadas.
São
casos como esse que ilustram a urgência de uma reavaliação completa do papel do
Estado, o que inclui discutir o tamanho e a remuneração do corpo de
funcionários públicos e questionar a necessidade de constituir empresas
estatais para atuar em setores nos quais a iniciativa privada é mais eficiente
e produtiva. Fugir desse debate, por receio de enfrentar as poderosas
corporações do serviço público, é contribuir para inviabilizar o funcionamento
da máquina estatal, há muito tempo sufocada por seu desnecessário gigantismo e
incapaz de se fazer presente onde é realmente necessária.
A
captura do Estado por interesses alheios aos do cidadão que paga impostos
resulta em situações como a da Amazonas Energia. Distribuidora da Eletrobrás
que dá mais prejuízo, aquela empresa paga salário médio de R$ 15,5 mil, o maior
do País no setor. Já a distribuidora de Roraima, embora seja a mais ineficiente
de todas, oferece salário médio de R$ 15 mil.
Não é
coincidência que as empresas mais problemáticas sejam as que pagam salários
muito acima do verificado no mercado, totalmente fora da realidade – a
remuneração média da Nanoenergia, concorrente da Amazonas Energia, por exemplo,
é de R$ 4,3 mil. Basta uma rápida mirada nessa situação para perceber que a
função primordial dessas estatais não é distribuir energia da forma mais barata
e eficiente possível, e sim empregar e bem remunerar funcionários públicos.
Fica
fácil entender, diante disso, a dificuldade que o governo está enfrentando para
privatizar a Eletrobrás e suas distribuidoras. Os opositores da privatização invocam
argumentos nacionalistas e dizem defender os direitos dos trabalhadores da
estatal. Na realidade, trata-se da conhecida mobilização política e sindical
para a manutenção de feudos privilegiados, controlados tanto pelo funcionalismo
como por parlamentares que dali auferem lucros eleitoreiros, enquanto os
cidadãos comuns são obrigados a financiar tais benesses em troca de serviços
ruins e a enfrentar a crônica falta de recursos para as reais necessidades do
País.
O
diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, já
comunicou ao Congresso que a situação das distribuidoras é simplesmente
insustentável. Essas empresas devoraram R$ 3,75 bilhões em dinheiro dos
consumidores nos últimos dois anos, e a cada mês mais R$ 202 milhões são
necessários. A privatização, portanto, é imperiosa e deverá acontecer, mais
cedo ou mais tarde.
Em vista
disso, a guilda dos funcionários públicos se mobiliza para arrancar mais algum
benefício antes da privatização. São concessões que nenhuma empresa privada
faria: os servidores querem estabilidade de cinco anos para 70% dos
funcionários das distribuidoras, além da realocação dos servidores em outras
estatais.
Esse
caso serve como exemplo do divórcio litigioso entre o funcionalismo público e a
realidade. E a realidade é que o Estado é incapaz de sustentar sua monumental
estrutura, sendo seguidamente necessário recorrer a gambiarras para fechar as
contas.
Quando o
ministro do Planejamento, Esteves Colnago, informa que o governo pedirá ao
Congresso para adiar, de 2019 para 2020, os reajustes salariais dos servidores
federais, porque, do contrário, haverá paralisação da máquina pública, fica
claro que se trata apenas de mais um paliativo desesperado. A essência do
problema – a existência de uma categoria de brasileiros imunes às vicissitudes
do mercado de trabalho e quase sempre dispensados de demonstrar eficiência e
capacidade produtiva, embora muito bem remunerados – permanece intocada.
O Estado de São Paulo
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