Editorial
Venda da
estatal é projeto certo em governo errado, politicamente fraco, sem condições
de convencer a própria base, que prefere usar a estatal para o clientelismo
O apoio à ideia da privatização da Eletrobras foi proporcional à
descrença na possibilidade de o governo Temer conseguir viabilizar este
necessário projeto no Congresso. O que era previsto fica cada vez mais
incontornável.
Não se discute, de forma séria, que não seja necessária a venda do
controle da estatal, desequilibrada de forma estrutural pelo intervencionismo
populista da presidente Dilma Rousseff, para forçar, na base “da vontade
política”, um corte de 20% nas tarifas, a fim de servir de cabo eleitoral na
campanha da reeleição, em 2014. Inviabilizou a empresa sob controle estatal.
Sem que o Tesouro, abalado de maneira grave pelos desatinos
macroeconômicos da política do “novo marco”, possa socorrer a empresa — como
seria praxe, embora equivocado —, o único caminho lógico é a venda do controle
da Eletrobras, pela oferta de ações de posse da União.
Aqui não está em questão ideologia, mas a necessidade vital de atrair
para o setor elétrico grupos privados em condições de arcar com um programa de
investimentos pesados e constantes. Estancá-los é decretar apagões e uma
recessão para logo à frente, com a eternização de um ciclo de muito baixo
crescimento. Sem energia, não se vai a qualquer lugar.
Vender o controle da Eletrobras é um projeto certo em um governo
errado, esvaziado de poder pelas denúncias da Procuradoria-Geral da República
contra o presidente, e por evidências de relações antirrepublicanas com
empresários. Temer e seu grupo conseguiram barrá-las na Câmara, mas, para isso,
gastaram todo o capital político que tinham. Não conseguem negociar, de uma
posição de força, a aprovação no Legislativo da privatização da Eletrobras.
Por ironia, usada muitas vezes pelo próprio MDB de Temer para acertos
fisiológicos, por meio de nomeações sem critérios profissionais. É esta cultura
que se volta contra a proposta do próprio governo.
Levantamento feito pelo “Estadão/Broadcast” sobre a influência
política em nomeações nas principais subsidiárias da empresa detectou que a Lei
das Estatais tem sido burlada de forma simples: os nomeados reúnem currículo e
experiência, mas são apadrinhados por políticos. Era assim na diretoria da
Petrobras que atuou no assalto à empresa associada ao PT, PP, PMDB e outros
aliados. Entre os padrinhos, na Eletrobras, há deputados e senadores do MDB,
DEM, PP, PSB, PSDB e PSD. É conhecida a bancada mineira em que o tucano Aécio
Neves se bate para manter Furnas sob o controle da política de Minas.
Já seria difícil se Temer ainda tivesse poder para pressionar a
bancada dita aliada. Agora, impossível. Esses políticos preferem manter sob o
alcance uma empresa do tamanho da Eletrobras, para praticar o clientelismo e
conseguir recursos para campanha, agora exclusivamente pelo caixa 2. Se faltará
energia em algum momento, não consideram problema deles, mas do Estado.
O
Globo
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