FEDERICO
RIVAS MOLINA
Situação e
oposição não questionam um modelo econômico que cresce sem reduzir a pobreza
Chegou a hora das urnas no Paraguai. Pouco mais de 4
milhões de pessoas elegerão neste domingo o sucessor do conservador Horacio
Cartes em meio a um clima notável de falta de expectativas e
desencanto pela política tradicional. De um lado está Mario Abdo Benítez, do
Partido Colorado, o partido que há 70 anos domina a política do país
sul-americano. De outro, Efraín Alegre, do Partido Liberal, o outro jogador que
compõe o bipartidarismo nacional. As diferenças entre um e outro candidato mal
se notam. As pesquisas prévias apontam para uma vitória colorada, outra vez,
enquanto os liberais esperam que sua aliança com Fernando Lugo seja
suficiente para repetir o triunfo excepcional de 2008.
Os paraguaios votam cedo. Os colégios eleitorais abrem às 7 da manhã e
fecham às 4 da tarde. A justiça eleitoral prometeu que quatro horas depois já
se saberá o nome do novo Presidente. Os colorados estão convencidos de que a
jornada confirmará que são a principal força política do Paraguai e os liberais
esperam surpreender, como há 10 anos, quando a vitória parecia impossível.
Claro que os tempos mudaram. A América Latina já não é esse espaço amigável
para os partidos de esquerda e figuras como as de Lugo não despertam as paixões
de antanho.
A renovada aliança entre os liberais e os partidos progressistas da
Frente Guasú de Lugo parece, além do mais, antinatural. Chega depois do
fracasso de 2008, que terminou com a destituição de Lugo com o voto de seus
aliados. Mas um novo acordo foi inevitável. “O Partido Liberal nunca venceu uma
eleição, exceto quando se aliou com Lugo”, diz Boccia Paz, colunista político
do jornal Última Hora. O mesmo destaca a historiadora Milda Rivarola: “Os
liberais têm 30% do eleitorado, nunca conseguiram passar disso. Se não fazem
alianças, não conseguem vencer”.
Do outro lado está o partido Colorado, um movimento sem ideologia
clara que, apesar de conservador em suas ideias, conhece bem as paixões
políticas que movem o eleitorado. É o partido que “sempre vence”. “O problema é
que no Paraguai temos um bipartidarismo assimétrico, no qual sempre ganha o
mesmo, apesar de os dois concordarem em termos ideológicos”, diz Boccia Paz.
Para Rivarola, a origem desse poder tem de ser procurada na natureza
do Estado paraguaio, uma estrutura patrimonial que não diferencia o público do
privado. “O Governo maneja o patrimônio como se fosse dele. Os governos
paraguaios não se legitima pela transparência ou pelas políticas sociais, mas
por sua capacidade de trocar favores por apoio político. As poucas ajudas
sociais que existem não são distribuídas como um direito, mas como uma ajuda
partidária. E no trato com o clientelismo, os colorados são melhores do que os
liberais”, explica.
Se a legitimidade não vem da política, os candidatos mal se esforçam
para se diferenciar uns dos outros. Sobretudo em um contexto no qual a economia
cresce (4,5% segundo as previsões para este ano), há baixa inflação (1,1% desde
janeiro) e as exportações de soja, principal fonte de divisas do país, não
param de subir. Mas
há um problema: a pobreza e a desigualdade não diminuem. “Há 28% de
pobres e a metade são crianças. Este número deveria nos envergonhar depois de
15 anos consecutivos de crescimento. Este modelo gera muito pouca distribuição,
é preciso crescer demais para que o desemprego mal caia e se reduza a
desigualdade”, explica a economista e pesquisadora Verónica Serafini.
O modelo é uma aposta nas exportações de soja —o Paraguai já é o
quinto produtor mundial, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA—, além
de baixos impostos para atrair investidores e abertura econômica. Seus efeitos
são vistos nas ruas de Assunção, onde não faltam carros de luxo e novos bairros
ricos no oeste da cidade vivem um boom imobiliário sem precedentes, com torres
e centros comerciais enormes.
Nesse contexto, os candidatos prometeram que renovarão a justiça,
combaterão a corrupção e se ocuparão dos mais pobres, mas não haverá mudanças
no aspecto econômico. Também não se falou de desigualdade, apesar de ser a
segunda mais alta da América Latina, depois do Brasil, segundo a Cepal. “Tanto
Abdo quanto Alegre concordam que não vão mexer em um modelo econômico de
sucesso e estável. Mas também não vão mexer na carga tributária, que é a menor
da região. O problema é que somos estáveis no macro e estáveis na pobreza,
estamos doentes de estabilidade”, ironiza Boccia Paz.
EL
PAÍS
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