Assis Moreira e Daniel Rittner
DAVOS
(Suíça) - Um debate no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ilustrou a
inquietação da elite econômica e política com o crescimento do populismo. Há a
percepção de que chegou o momento de adotar políticas para combater a questão,
mas existem divergências sobre o que implementar.
No
debate, que contou com a participação do ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, como único representante dos emergentes, o bilionário Ray Dalio,
dono do hedge fund Bridgewater, com US$ 150 bilhões de ativos sob gestão, disse
que a questão mais importante para participantes do mercado agora é como o
populismo se manifestará em um ou dois anos.
Dalio se
disse "amedrontado" e insistiu que "podemos estar no fim da
globalização, com provincianismo e nacionalismo tomando o espaço".
A
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, foi
mais ponderada, reconhecendo uma crise da classe média que alimenta o
populismo, mas com uma nuance: a classe média cresceu nos emergentes, mas
diminuiu nos EUA. Segundo Lagarde, essa faixa da população com renda entre US$
10 e 20 por dia cresceu nos emergentes, mas caiu de 60% para 50% nos EUA,
elevando a um descontentamento com o antiestablisment.
Lagarde
sugeriu mais políticas de redistribuição, já que a "desigualdade causou
uma quebra no desenvolvimento sustentável". Defendeu uma política fiscal
forte, mais gastos sociais, reformas e programas para trabalhadores se
adaptarem a novas tecnologias.
Larry
Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA e hoje professor da Universidade
Harvard, afirmou que a desigualdade é apenas uma das causas do crescente
populismo. Ele citou também "um desejo por unidade nacional e um
sentimento entre a classe média de que ela não está mais no controle".
Summers
questiona se a classe média americana estará melhor com Donald Trump. Para ele,
políticas populistas são contraproducentes e acabam se virando contra aqueles
que justamente votaram nos populistas.
O
ex-secretário do Tesouro citou os telefonemas recentes de Trump para empresas americanas
não transferirem investimentos para o México. Com isso, ele pode ter salvo
algumas centenas de empregos nos EUA. Só que, ao mesmo tempo, provocou uma
queda de 15% no peso mexicano, tornando esse mercado mais atrativo para
companhias produzirem no México.
Por sua
vez, o ministro de economia da Itália, Pier Carlo Padoan, disse não ver o fim
da globalização, mas uma nova fase em meio a forças políticas com mais
influência na França, Itália, Holanda, Alemanha e outros países.
Padoan
conclamou colegas europeus a ouvir as inquietações da classe média. Para ele, a
resposta correta deve incluir estratégias coerentes para enfrentar o desafio da
migração e gerar mais confiança nos negócios. Mas insistiu que o processo de
definir medidas e sua implementação demora, enquanto os populistas avançam.
O
ministro Henrique Meirelles, único representante de emergentes, destacou a
diferença de situação em relação aos países desenvolvidos. Segundo ele, no
Brasil a classe média dobrou nos últimos 15 anos, mas com a recessão recente
houve reversão desse avanço.
Com a
estagnação da economia, observou, todo mundo sofre, particularmente os mais
pobres. Para ele, trata-se de um "problema de curto prazo", cuja
saída é voltar a crescer e modernizar a economia.
Lagarde
terminou o debate lembrando que 3,6 bilhões de pessoas aspiram um mundo melhor.
Valor Econômico
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