Míriam Leitão
(*)
O Rio
Grande do Sul começa a negociar o ajuste de suas contas. Mesmo se o estado
aprovar uma lei de teto de gastos, como a do governo federal, os policiais
civis terão aumento de 10,8% este ano e em 2018. Os oficiais da brigada militar
terão reajustes de até 10,7%, enquanto soldados, cabos e sargentos terão 13,6%.
Os aumentos vieram desde 2013: seis anos de reajuste em torno de 10% ao ano.
Um dos
grandes desafios para o Rio Grande do Sul colocar suas contas em ordem são os
reajustes salariais concedidos no governo Tarso Genro, escalonados de 2013 a
2018. Os aumentos foram aprovados pela Assembleia gaúcha com o apoio do PMDB,
que hoje governa o estado, e até o voto da então deputada Maria Helena Sartori,
mulher do atual governador, Ivo Sartori. O estado já tem mais aposentados e
pensionistas do que servidores ativos e mais de 70% deles têm direito à
aposentadoria especial.
Depois
do Rio de Janeiro, foi a vez do Rio Grande do Sul bater às portas do governo
federal para conseguir um alívio de três anos no pagamento de dívidas. O
governo gaúcho já aprovou algumas medidas de ajuste, mas nem de longe elas
resolvem os graves desequilíbrios financeiros do estado, que foram agravados
com esses aumentos salariais que ocorrerão ano a ano até 2018.
Segundo
o economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, especialista em política
fiscal e autor do livro “O Rio Grande tem saída?”, se o estado aprovasse um
projeto como o teto de gastos federal, mas não cancelasse os reajustes já
programados, os aumentos de salários iriam corroer outras despesas, como nas
áreas de saúde, educação e os investimentos.
— O
problema é que a votação na Assembleia, em 2013, no governo Tarso Genro, não
foi obra de um partido só, contou com apoio do PMDB. Os gastos com segurança
estão disparando e estão programados para continuar crescendo. É muito difícil
rever isso. A partir de 2019, a folha de pagamentos de segurança vai ultrapassar
as despesas com servidores da educação — afirmou.
Em 2010,
a folha de pagamentos do governo gaúcho correspondia a 62% da Receita Corrente
Líquida do estado. Em 2015, já havia subido para 74,4%. Esses aumentos de
gastos não significaram melhora de serviços prestados à população gaúcha, seja
na segurança, seja na educação. Isso porque as duas áreas têm aposentadorias
especiais. Ou seja, o trabalhador vai para a inatividade, deixa de trabalhar, e
o estado contrata outro funcionário apenas para repor o que perdeu. O gasto
aumenta, e o serviço, na melhor das hipóteses, fica igual. O que mais acontece,
diz Darcy, é a taxa de reposição ficar abaixo dos 100%, o que significa menos
gente sendo contratada do que se aposentando.
Os
militares têm aposentadoria especial, sem a exigência de idade mínima, e isso
criou uma aberração, ao longo do tempo. Existem 21 oficiais de Brigada ativos
para 497 na reserva. Apenas 4% estão trabalhando, para 96% fora de atividade.
Em toda a Brigada Militar, há 20,3 mil ativos para 23 mil inativos. Na área de
educação, a situação é semelhante. Existem 51 mil professores dando aulas e há
84 mil aposentados. Olhando para todo o serviço público gaúcho, há 767 mil
funcionários ativos para 825 mil inativos, segundo o Boletim Informativo de
Pessoal do estado.
Entre as
medidas já aprovadas pela Assembleia gaúcha, está o aumento da alíquota de
contribuição dos servidores ativos, de 11% para 14%, e o aumento no mesmo
percentual sobre o benefício que excede o teto do INSS, para os inativos. Mas
outras propostas foram rejeitadas. O governo tentou acabar com a exigência de
plebiscito para a privatização de empresas, mas foi derrotado. Perdeu também na
tentativa de acabar com os repasses compulsórios para outros poderes,
independentemente das receitas do governo.
— O
acordo com a União dará um alívio temporário ao Rio Grande do Sul. Mas ele
voltará ao vermelho quando as prestações passarem a ser pagas, em 2020. Por
isso, é fundamental aprovar uma reforma da previdência, com idade mínima de
aposentadoria para os militares. Sem isso, é apenas adiar o problema — afirmou
Darcy Francisco.
Em cada
estado em crise é isso que se vê. O Tesouro pode socorrer, mas sem uma mudança
estrutural nos gastos o acordo será apenas um paliativo.
O Globo
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: faltam os seguintes dados, que
até hoje não consegui:
“Na área de educação, a situação é
semelhante. Existem 51 mil professores dando aulas e há 84 mil aposentados.“
- Quantas pessoas tem na folha de
pagamento da Secretaria de Educação ?
Professores são 51 mil. E os não professores somam quantos ?
Mais aposentados do que pessoas trabalhando.
Este é o resultado de décadas de empreguismo desenfreado. Hoje, os que se
aposentam são apenas repostos, quando muito. Ou seja, o número continua o mesmo,
enquanto o de aposentados, grande parte deles que nunca trabalhou, só aumenta.
Esta conta não fecha e se não
tomarem uma providência enérgica, só vai piorar. Vai implodir o estado do RS
(República Socialista).
Ah sim, providência enérgica desde
que os donos do estado, os sindicatos pelegos, permitam.
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