sábado, 21 de janeiro de 2017

Explicando Trump

Felipe Moura Brasil

Uma das formas de demonizar um adversário é afirmar que ele é contra a existência ou a liberdade de tudo aquilo que ele critica em determinados pontos ou pelo modo como foi ou vem sendo feito.

Ninguém, por exemplo, é necessariamente contra a existência do Congresso brasileiro por criticar determinadas decisões lá tomadas e a maioria eventual de parlamentares responsável por elas; mas, com frequência, os defensores dessas decisões, à esquerda ou à direita, acusam os críticos de sê-lo.

Com Donald Trump, ocorre o mesmo em relação às críticas reativas dele à imprensa livre, ao estamento político, a intervenções militares, à imigração, a zonas de livre comércio, à suposta globalização.

Trump, convém registrar, não é contra a existência (ou a liberdade):
– da imprensa livre por chamar de “Fake News” (“notícias falsas”) a CNN e o BuzzFeed;
– do estamento político por denunciar a corrupção em Washington;
– de intervenções militares por lamentar a Guerra do Iraque e buscar evitar qualquer conflito imediato com a Rússia;
– da imigração legal por propor medidas para reduzir a imigração ilegal;
– das zonas de livre comércio por cobrar acordos melhores e mais vantajosos para o povo dos Estados Unidos;
– nem muito menos da globalização (o fenômeno mundial de abertura ao livre comércio entre empresas e indivíduos de países distintos) por rejeitar o globalismo (a concentração de poder transnacional em uma elite de burocratas não eleitos), que é talvez o seu oposto, tendo sido a causa maior da saída do Reino Unido da União Europeia pelo Brexit.

Essas distinções são essenciais para compreender Trump antes de tomar qualquer posição sobre ele e suas propostas, mas a demonização voluntária feita pela imprensa – que trocou o jornalismo pela torcida eleitoral por Hillary Clinton, não consegue domar um republicano avesso às “normas” do politicamente correto e se recusa a buscar expressões fiéis à realidade dos fatos (e do povo) fora do repertório usual de seus próprios slogans classificatórios – causa uma confusão dos diabos: uma espécie de confusão metonímica, na qual se confunde a parte com o todo e vice-versa.

Essa confusão, obviamente, é agravada no Brasil pelo fato de que os jornalistas só traduzem (e traduzem mal) os veículos que atuam como porta-vozes do Partido Democrata, ignorando e evitando o confronto das supostas informações com tudo que, a despeito de eventuais excessos e malucos comuns a qualquer corrente multifacetada, constitui o contrapeso e as refutações das mentiras oficiais no debate público americano: a emissora de TV Fox News; os sites, colunistas e radialistas conservadores; e os numerosos livros de todos esses autores críticos da mídia mainstream.

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