Cristiano Romero
(*)
Recessão mais longa da história
desafia estudiosos
Um dos
maiores equívocos da equipe econômica que reinou entre 2008 e 2016, período em
que foi gestada com grande competência a maior crise fiscal da história do
país, responsável pela recessão mais longa que o Brasil já teve, foi não
aceitar o fato de que os ciclos econômicos são finitos. A exceção no período
foi a passagem inglória de Joaquim Levy pelo comando do Ministério da Fazenda.
Chamado para fazer o ajuste em 2015, ele teve o seu trabalho permanentemente
sabotado por colegas de ministério e pela própria presidente Dilma Rousseff.
A Nova
Matriz Econômica, o desastroso experimento inspirado em aventura também
fracassada da Turquia, desmontou o arcabouço de política econômica que vigorava
desde 1999, destruindo a confiança que empresários e consumidores tiveram na
economia durante o boom de 2004 a 2010. Os juros caíram por decreto, a taxa de câmbio passou a ser
administrada e a margem de manobra fiscal que o país tinha à época foi
implodida, com medidas adotadas em desespero para reanimar o PIB.
Os
sábios do governo do PT quiseram implantar a Nova Matriz desde o dia 1 do primeiro
mandato do presidente Lula. Foram vencidos pelo pragmatismo do então ministro
Antonio Palocci, a obstinação de Henrique Meirelles (então, presidente do Banco
Central) e pelo instinto de sobrevivência de Lula. A ironia do destino é que
foi justamente o sucesso da ortodoxia daquela equipe que, ao colocar o país na
rota do crescimento com inflação sob controle e contas públicas em ordem, criou
as condições para os ideólogos da Nova Matriz virem adiante mudar tudo.
Sem
confiança, os empresários pisaram no freio dos investimentos. Eles sabiam que
os principais preços da economia - juros e câmbio - não refletiam os
fundamentos e, portanto, em algum momento haveria forte ajuste, o que é
desastroso para quem investe. Estavam conscientes também de que a deterioração
fiscal, agravada pela contabilidade criativa e as pedaladas, cobraria seu
preço.
Com o
retumbante malogro da Nova Matriz, o governo agravou a situação porque passou a
conceder variados estímulos fiscais e subsídios às empresas e aos consumidores,
colocando a nação em rota de explosão do déficit orçamentário e da dívida
pública. A solidez das contas públicas foi destruída, mas a atividade econômica
não reagiu - os anos terríveis da economia brasileira registraram alta do PIB
de 0,5% em 2014 e queda de 3,8% em 2015 e projetam redução de 3,49% em 2016 e
crescimento de apenas 0,5% em 2017, com recuo de 10% da renda per capita apenas
no último biênio; isto, sem falar que o crescimento já tinha sido modesto entre
2011 e 2013.
O novo
governo assumiu em maio com a expectativa de promover o ajuste fiscal,
combinando medidas conjunturais e reformas estruturais. O reflexo das decisões
sobre a confiança dos empresários foi imediato. A confiança voltou e fez com
que muitos analistas acreditassem que a atividade começaria a se recuperar no
terceiro trimestre. Isso não ocorreu e o quarto trimestre também não foi bom.
O
governo e o Congresso passaram a ser pressionados a adotar ações de estímulo à
atividade no curto prazo. De forma inteligente, o Ministério da Fazenda adotou
medidas microeconômicas de caráter permanente, com o objetivo de melhorar o
ambiente de negócios para facilitar investimentos, e tomou iniciativas
conjunturais para injetar algum dinheiro imediatamente na economia.
Ainda
não se sabe que efeitos essas ações terão. A atual recessão, de tão longa,
desafia os estudiosos. O Brasil sempre saiu rapidamente de períodos recessivos.
Tudo indica que a recuperação agora será lenta. O desemprego, por exemplo, que
já está em 11,8% (cerca de 12 milhões de pessoas), deve piorar antes de
melhorar. Por essa razão, o governo deve ser pressionado a adotar medidas de
desafogo.
No
Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, o debate
mais recente foi sobre a conveniência de adoção de novos estímulos. Pesquisador
do Ibre, Manoel Pires, que foi secretário de Política Econômica na gestão de
Nelson Barbosa na Fazenda, diz que é falso o dilema entre reformas estruturais
e estímulos de curto prazo. As reformas são importantes para reduzir gargalos e
aumentar o potencial de crescimento. Os estímulos suavizam os impactos dos
ciclos econômicos e são importantes em situações de depressão, quando o custo
do desemprego se torna muito alto.
A
preocupação é com os efeitos negativos que as recessões profundas e duradouras
têm sobre produtividade, produto potencial, custo do ajuste fiscal e estoque de
capital, conforme demonstram estudos acadêmicos. Para Pires, não oferecer
estímulos de curto prazo pode fazer com que problemas pontuais se tornem
estruturais. É forçoso lembrar, porém, que foi justamente a avalanche desses
estímulos que agravou, nos governos Lula e Dilma, problemas estruturais da
economia, como o desequilíbrio das contas públicas.
Pires
defende medidas para acelerar o processo de redução do endividamento
(desalavancagem) do setor privado, otimizar políticas públicas voltadas para a
suavização dos ciclos econômicos e resolver a crise dos Estados. O governo já
fez alguma coisa no primeiro caso e, no terceiro, está sofrendo para convencer
os governadores a fazer sacrifícios em troca da ajuda federal. O economista
sugere ainda que a União concentre a liberação de recursos federais aos Estados
mais atingidos pela recessão.
Armando
Castelar, também do Ibre, acha que o estímulo à atividade neste momento deve
vir do Banco Central, que administra uma taxa básica de juros (Selic) bastante
alta e, com a queda da inflação, já começou a reduzi-la. A demora em sair da
atual recessão seria em parte associada à necessidade de o BC combater, com a
arma dos juros, uma fortíssima inércia inflacionária, causada por erros de
política econômica do passado recente.
"Faria
mais sentido [na visão de Castelar] concentrar nas mãos do BC o manejo do
trade-off entre controlar a inflação e impulsionar a economia do que
multiplicar medidas de estímulo que vão reduzir o espaço para cortar juros, com
um duplo impacto negativo nas contas públicas: mais despesas primárias e mais
gastos com pagamento de juros sobre a dívida pública", diz Luiz Guilherme
Schymura, diretor do Ibre e coordenador de seus debates. A visão da Fazenda,
neste momento, é idêntica à de Castelar.
Valor Econômico
(*)Comentário do editor do blog-MBF: é
interessante observar como o autor passa por alto no principal problema do desajuste
das contas públicas, seja da União, dos estados ou dos municípios.
1.A União projetou para o ano
passado um déficit de 170 bilhões, dinheiro buscado com a venda de papéis do
governo à um juro criminoso de 14,25% a.a.
2.Desemprego, na iniciativa privada,
alcançou 12 milhões de TRABALHADORES, e, de acordo com o artigo,
deverá aumentar. Não se nota qualquer preocupação maior com o fato em si e do
que ele representa.
3.O setor público tem 11milhões de
empregados, sendo que a metade é um contingente sem trabalho. Ou, para parecer que
trabalha, preenche papéis desnecessários que apenas infernizam a vida dos
cidadãos. Burocracia, o flagelo de qualquer país.
4.Se os governos demitissem 5,5
milhões de pessoas, o serviço público melhoraria com absoluta certeza e seriam
poupados 264 bilhões de reais aos cofres públicos, ao ano.
5.Em função da oferta de dinheiro
superar a procura – governo parando de aumentar sua dívida -, a taxa SELIC
cairia drasticamente à níveis civilizados e não a conta-gotas.
6.O número de trabalhadores desempregados
seria revertido rapidamente em vez de aumentar.
7. Os demitidos da União, estados e
municípios, aqueles que aceitam trabalhar
e tem alguma capacidade além de serem cabos eleitorais, parentes,
amantes ou amigos dos políticos, também voltariam, desta vez ao trabalho e não
apenas à um emprego público, em curto espaço de tempo.
Por que então o pessoal que se diz
entendido em economia não enfrenta a principal causa da desestruturação das
contas públicas e pára de contar historinhas para boi dormir ?
A pressão da sociedade sobre o
governo tem que ser neste sentido. O resto é conto do vigário.
Chega de pagar 400% a.a. no cartão
de crédito e enriquecer bancos, enquanto o desemprego na iniciativa privada
aumenta e NINGUÉM ataca as causas, apenas
quer remendar os efeitos, ou, modificar as conseqüências com mágicas e ilusionismo.
https://www.youtube.com/watch?v=coQGkYk0YiU
https://www.youtube.com/watch?v=coQGkYk0YiU
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