STEPHEN FIDLER
Enquanto
as elites financeiras, corporativas e políticas do mundo se reúnem esta semana
para a reunião anual do Fórum Econômico Mundial em um hotel nas montanhas
suíças de Davos, a ordem econômica global está balançando. A questão é se ela
pode ser resgatada.
Em 2016,
a história começou outro capítulo. A vitória de Donald Trump na eleição
presidencial americana e a decisão britânica de deixar a União Europeia
reverteram a marcha em direção a uma integração econômica global cada vez mais
estreita em andamento desde a Segunda Guerra Mundial.
Por toda
a Europa continental, movimentos políticos contra a ordem estabelecida ganharam
força, impulsionados pela recuperação anêmica da crise da dívida da zona do
euro que manteve os salários estagnados e o desempregado elevado em muitos
países. A influência desses movimentos pode crescer ainda mais com as eleições
marcadas para este ano na França, Alemanha, Holanda e possivelmente na Itália.
Muitos
consideram esses desenvolvimentos como um sinal de que as pessoas que estavam
privadas de seus direitos começam a retomar o controle de seus destinos.
Outros, incluindo a elite global que estará presente no Fórum Econômico Mundial
de Davos nesta semana, dizem que esses e outros acontecimentos podem destruir
as conexões internacionais que produziram uma riqueza sem precedentes.
No
centro da mudança está um paradoxo fundamental da economia global do
pós-guerra: o livre comércio, a maior interconectividade e rápidas mudanças
tecnológicas tiraram bilhões de pessoas da pobreza e criaram uma crescente
classe média em ascensão no mundo em desenvolvimento.
Os
países ricos ficaram mais ricos também. Mas os benefícios foram
desproporcionalmente para uma minoria, deixando muitas pessoas para trás ou
alienadas. A globalização — caracterizada pelo fluxo livre de bens e capital e
a aceitação nacional de regras internacionais — tem sido boa na geração de
receita, mas teve menos êxito na maximização do bem-estar das pessoas.
Alguns
historiadores que estudaram períodos de globalização anteriores questionam se a
versão moderna pode fracassar. “Meu palpite é que nós não vamos durar”, diz
Harold James, professor da Universidade Princeton.
Rupturas
em fases anteriores da globalização, como a que precedeu a Primeira Guerra
Mundial, “foram caracterizadas pela erupção de crises repentinas que
ressaltaram as falhas”, diz ele. “O mundo está terrivelmente vulnerável agora”
a eventos como o assassinato do embaixador russo na Turquia em dezembro, que
podem ficar fora do controle.
Em
termos de bem-estar geral, a economia global tem feito algo certo. Um relatório
do Banco Mundial publicado em outubro revelou que o número de pessoas vivendo
na miséria caiu para 10,7% da população mundial em 2013, ano com os dados
disponíveis mais recentes, ante 35% em 1990, mesmo com o crescimento da
população em quase dois bilhões de pessoas.
Mesmo
assim, dentro de muitos dos países mais ricos do mundo, algo deu errado. Desde
a crise financeira de 2008, a falta de segurança econômica em muitos países
ocidentais aumentou e as disparidades de renda e riqueza se ampliaram.
Os
avanços tecnológicos são, em parte, responsáveis pela ampliação da desigualdade
na distribuição de renda e riqueza, beneficiando as pessoas com nível de
educação mais alto e com mais habilidades. Os vencedores parecem estar
concentrados em centros urbanos globalizados, prejudicando muitos nas áreas
rurais e cidades pequenas.
O
crescimento das desigualdades tem se manifestado de formas diferentes nas
várias economias. Nos EUA, o desemprego é baixo e o salário médio subiu desde a
crise — mas a participação da força de trabalho está perto das mínimas de 40
anos, sugerindo que muitos adultos deixaram de procurar emprego.
No Reino
Unido, o desemprego é baixo e a participação da força de trabalho é elevada,
mas os salários reais caíram cerca de 10% desde a crise, numa intensidade
similar à da endividada Grécia. Na maior parte da Europa continental, níveis
altos de desemprego persistem.
Esses
acontecimentos, combinados com receios sobre imigração e terrorismo, têm
incentivado uma reação negativa aos políticos no poder e às elites associadas a
eles.
Impulsionando
a tendência, dizem autoridades ocidentais, está Moscou. Donald Tusk, que
preside as reuniões com líderes da União Europeia, disse em outubro que a
Rússia procurava enfraquecer a UE através, entre outros coisas, de “campanhas
de desinformação, ataques cibernéticos, interferências em processos políticos
na UE e no mundo, ferramentas híbridas na Península Balcânica”. Em uma
descoberta sem precedentes, as agências de inteligência dos EUA afirmam que
Moscou também interferiu na eleição americana em um esforço para ajudar Trump.
Os
beneficiários têm sido movimentos políticos ou indivíduos que combinam um apelo
à identidade cultural, frequentemente usando retórica anti-imigração ou
xenofóbica, com uma narrativa contra a ordem estabelecida.
Apesar
do posicionamento nacionalista, esses grupos frequentemente apoiam uns aos
outros. O ex-líder do Partido da Independência do Reino Unido, Nigel Farage,
foi o primeiro político estrangeiro a se encontrar com Trump depois da eleição.
O líder estrategista de Trump, Steve Bannon, que diz que as políticas de
globalização golpearam os americanos mais pobres, descreve-se como um
“nacionalista econômico” que “admira movimentos nacionalistas no mundo todo”.
Durante
sua campanha, Trump prometeu cortes de impostos, geralmente associados com a
direita, e fez promessas normalmente associadas com esquerda para proteger os
pagamentos de assistência social e reduzir o comércio internacional que ele vê como
uma desvantagem para os americanos.
Os
principais economistas discordam em muitas coisas, mas a maioria concorda que
elevar as barreiras comerciais, um caminho que países incluindo os EUA adotaram
na década de 30, é ruim para o crescimento. Sem crescimento, decisões políticas
sobre distribuição de renda nacional se tornam mais tensas.
Para
muitos economistas, as soluções propostas por grupos populistas podem ser ainda
piores que os problemas que eles querem resolver.
A
globalização também precisa de um patrocinador. O Reino Unido desempenhou esse
papel durante grande parte do século XIX e os Estados Unidos na época atual.
Mas agora, os EUA parecem estar se voltando para seu próprio umbigo, mesmo
tendo elaborado e colocado em vigor grande parte das regras do comércio
internacional. Isso tem deixado um vácuo no Oriente Médio que outros,
principalmente a Rússia, tem procurado ocupar.
A Rússia
há muito critica a liderança dos EUA, mas não tem peso econômico, apesar de ser
um poderoso ator geopolítico que pode desestabilizar seus vizinhos. Com base
nas tendências atuais, a UE parece pender mais para desmoronar — ou pelo menos
de encolher — do que assumir o manto da economia global.
A única
outra possível substituição é a China. Na crise financeira, muitos esperaram
que a China estabilizasse a economia global, o que ela ajudou a fazer. Em um
gesto significativo, num momento em que os EUA se ocupam da inauguração de um
novo presidente, Xi Jinping deve se tornar o primeiro líder chinês a participar
do fórum de Davos e apresentar a visão da China para o mundo globalizado.
No
entanto, o preparo da China para um papel de liderança é questionável, mesmo na
circunstância improvável de que outros, como Trump, estejam prontos para permitir
que isso aconteça. Um mundo de incerteza ainda maior se aproxima.
The Wall Street
Journal
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