quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Dow Jones alcança 20.000 pontos pela primeira vez na história

Sandro Pozzi

O Dow Jones, o índice mais acompanhado no mercado de ações de Wall Street, alcançou 20.000 pontos pela primeira vez desde sua criação há 120 anos, tão logo se iniciaram as operações nesta quarta-feira. O indicador nova-iorquino, que havia um mês tentava superar a marca histórica, já se apreciou 9% desde a divulgação do resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em novembro, quando Donald Trump venceu. O impulso definitivo chegou com a publicação dos resultados trimestrais por parte das grandes corporações. O S&P 500 e o Nasdaq também se movimentam em níveis recordes graças aos papéis dos setores financeiro, energético e industrial.

Em 6 de janeiro o índice seletivo norte-americano esteve a ponto de superar os 20.000 pontos. Ficou a menos de quatro décimos da marca. A partir desse momento, os investidores começaram a levar as coisas com mais calma, à espera de que as grandes empresas publicassem seus balanços. E esse foi o estímulo que fez com que nesta quarta-feira, assim que começaram as operações, superasse a marca histórica. Subiu mais de 100 pontos na abertura, e bastavam 88 para o recorde.

O índice do mercado de ações mais conhecido do mundo nasceu em 26 de maio de 1896, e na época se baseava nos dados das duas empresas que o compunham. Atualmente indica a evolução de 30 grandes multinacionais norte-americanas, entre as quais a Apple, Microsoft, Wal-Mart, Coca Cola e Disney. Levou 76 anos para superar os 1.000 pontos, o que aconteceu em novembro de 1972. Durante essas décadas, seus movimentos eram relativamente estáveis.

Pouco a pouco as coisas mudaram e, 11 anos depois, em 1987, superou os 2.000 pontos. Então começou a ganhar velocidade. Com o crash de 1987 perdeu parte do terreno conquistado (a chamada segunda-feira negra), mas em 1999, menos de uma década depois, já superava os 10.000 pontos. Em maio de 2013 ultrapassou o marco dos 15.000 pontos e em 2017 já ultrapassava a barreira dos 20.000 redondos.

A alta nos últimos 12 meses foi importante. Em fevereiro de 2016 registrou o mínimo deste período: 15.451 pontos. Depois disso o aumento foi de 30%.

O Dow Jones já havia chegado perto do nível psicológico dos 20.000 há cinco semanas, quando ficou a menos de 25 pontos no fechamento das operações, em 20 de dezembro. Poucos dias depois, em 6 de janeiro, quase conseguiu. Até chegar esta quarta-feira. A única coisa que poderia ter detido a escalada seria uma mudança repentina de percepção. Tudo se fundamenta na esperança de que Donald Trump levará adiante as suas propostas econômicas. Os dados sustentam o otimismo pós-eleitoral.

O Dow Jones fechou acima dos 19.000 pontos em 22 de novembro. Bastaram, portanto, somente 42 dias, o segundo incremento mais rápido de 1.000 pontos na história do pregão. Mas estes números redondos, na realidade, são uma amostra da tendência em que se fixam os operadores do pregão. O que está para se ver agora é quanto tempo poderá se manter nesse nível. O Dow Jones cruzou pela primeira vez os 10.000 pontos quando se formava a bolha tecnológica. Mas levou uma década para voltar a alcançar esse nível e sentar as bases para começar a crescer.

O último salto, na realidade, se apoia nos papéis mais beneficiados pelo entusiasmo surgido com a vitória de Trump em 8 de novembro. Esta semana ele prometeu incentivos às empresas, com um corte “maciço” de impostos e em “regulamentação”. O Dow Jones ganhou 1.600 pontos em praticamente dez semanas. A Goldman Sachs contribuiu com uma quinta parte da escalada, em uma rotatividade de carteiras que foi seguida pela seguradora UnitedHealth, Caterpillar, IBM, 3M e Chevron.

Os pontos vulneráveis
Os mais críticos desses indicadores lembram, porém, que o Dow Jones representa uma proporção muito pequena dos milhares de empresas cotados em bolsa. Além disso, ao contrário do S&P e do Nasdaq, os outros índices representativos de Wall Street, o cálculo que adota faz com que as companhias com o preço mais alto tenham uma influência maior. A Goldman teve apreciação de 45% desde setembro.

Se forem adotados como referência os 10.000 pontos de outubro de 2009, o componente do índice que mais se apreciou foi a UnitedHealth, com um aumento de 520%. Seguem-se Home Depot, com alta de 450%, Visa, de 340%, e Apple, de 345%. Os mais tímidos são IBM, ExxonMobil, Cisco e Goldman Sachs, com um retorno inferior a 30% A At&T, Alcoa, HP e Kraft saíram do índice.

Os analistas mais cautelosos consideram, precisamente, que é preciso de um esforço mais amplo para que o Dow Jones possa sustentar essa escalada após superar a marca dos 20.000 pontos. Para isso Donald Trump terá de demonstrar, por um lado, que pode cumprir suas promessas como presidente e, por outro, que o Federal Reserve não se vê forçado a acelerar o processo de elevação das taxas de juros.

Mas os investidores podem, com estes índices, se sentir tentados a colher os lucros, à espera de que as promessas de Trump se transformem em ações. A alta se estancou em dezembro e nas últimas semanas os investidores já demonstraram dúvidas, ao ponto de o Dow Jones perder na quinta-feira o nível dos 19.700 pontos, pelo temor das ameaças protecionistas.


El País

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