Sandro Pozzi
O Dow
Jones, o índice mais acompanhado no mercado de ações de Wall Street, alcançou
20.000 pontos pela primeira vez desde sua criação há 120 anos, tão logo se
iniciaram as operações nesta quarta-feira. O indicador nova-iorquino, que havia
um mês tentava superar a marca histórica, já se apreciou 9% desde a divulgação
do resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em novembro, quando
Donald Trump venceu. O impulso definitivo chegou com a publicação dos
resultados trimestrais por parte das grandes corporações. O S&P 500 e o
Nasdaq também se movimentam em níveis recordes graças aos papéis dos setores
financeiro, energético e industrial.
Em 6 de
janeiro o índice seletivo norte-americano esteve a ponto de superar os 20.000
pontos. Ficou a menos de quatro décimos da marca. A partir desse momento, os
investidores começaram a levar as coisas com mais calma, à espera de que as
grandes empresas publicassem seus balanços. E esse foi o estímulo que fez com
que nesta quarta-feira, assim que começaram as operações, superasse a marca
histórica. Subiu mais de 100 pontos na abertura, e bastavam 88 para o recorde.
O índice
do mercado de ações mais conhecido do mundo nasceu em 26 de maio de 1896, e na
época se baseava nos dados das duas empresas que o compunham. Atualmente indica
a evolução de 30 grandes multinacionais norte-americanas, entre as quais a Apple, Microsoft,
Wal-Mart, Coca Cola e Disney. Levou 76 anos para superar os 1.000 pontos, o que
aconteceu em novembro de 1972. Durante essas décadas, seus movimentos eram
relativamente estáveis.
Pouco a
pouco as coisas mudaram e, 11 anos depois, em 1987, superou os 2.000 pontos.
Então começou a ganhar velocidade. Com o crash de 1987 perdeu parte do terreno
conquistado (a chamada segunda-feira negra), mas em 1999, menos de uma década
depois, já superava os 10.000 pontos. Em maio de 2013 ultrapassou o marco dos
15.000 pontos e em 2017 já ultrapassava a barreira dos 20.000 redondos.
A alta
nos últimos 12 meses foi importante. Em fevereiro de 2016 registrou o mínimo
deste período: 15.451 pontos. Depois disso o aumento foi de 30%.
O Dow
Jones já havia chegado perto do nível psicológico dos 20.000 há cinco semanas,
quando ficou a menos de 25 pontos no fechamento das operações, em 20 de
dezembro. Poucos dias depois, em 6 de janeiro, quase conseguiu. Até chegar esta
quarta-feira. A única coisa que poderia ter detido a escalada seria uma mudança
repentina de percepção. Tudo se fundamenta na esperança de que Donald Trump levará
adiante as suas propostas econômicas. Os dados sustentam o otimismo
pós-eleitoral.
O Dow
Jones fechou acima dos 19.000 pontos em 22 de novembro. Bastaram, portanto,
somente 42 dias, o segundo incremento mais rápido de 1.000 pontos na história
do pregão. Mas estes números redondos, na realidade, são uma amostra da
tendência em que se fixam os operadores do pregão. O que está para se ver agora
é quanto tempo poderá se manter nesse nível. O Dow Jones cruzou pela primeira
vez os 10.000 pontos quando se formava a bolha tecnológica. Mas levou uma
década para voltar a alcançar esse nível e sentar as bases para começar a
crescer.
O último
salto, na realidade, se apoia nos papéis mais beneficiados pelo entusiasmo
surgido com a vitória de Trump em 8 de novembro. Esta semana ele prometeu
incentivos às empresas, com um corte “maciço” de impostos e em “regulamentação”.
O Dow Jones ganhou 1.600 pontos em praticamente dez semanas. A Goldman Sachs contribuiu
com uma quinta parte da escalada, em uma rotatividade de carteiras que foi
seguida pela seguradora UnitedHealth, Caterpillar, IBM, 3M e Chevron.
Os pontos vulneráveis
Os mais
críticos desses indicadores lembram, porém, que o Dow Jones representa uma
proporção muito pequena dos milhares de empresas cotados em bolsa. Além disso,
ao contrário do S&P e do Nasdaq, os outros índices representativos de Wall
Street, o cálculo que adota faz com que as companhias com o preço mais alto
tenham uma influência maior. A Goldman teve apreciação de 45% desde setembro.
Se forem
adotados como referência os 10.000 pontos de outubro de 2009, o componente do
índice que mais se apreciou foi a UnitedHealth, com um aumento de 520%.
Seguem-se Home Depot, com alta de 450%, Visa, de 340%, e Apple, de 345%. Os
mais tímidos são IBM, ExxonMobil, Cisco e Goldman Sachs, com um retorno
inferior a 30% A At&T, Alcoa, HP e Kraft saíram do índice.
Os
analistas mais cautelosos consideram, precisamente, que é preciso de um esforço
mais amplo para que o Dow Jones possa sustentar essa escalada após superar a
marca dos 20.000 pontos. Para isso Donald Trump terá de demonstrar, por um
lado, que pode cumprir suas promessas como presidente e, por outro, que o
Federal Reserve não se vê forçado a acelerar o processo de elevação das taxas
de juros.
Mas os
investidores podem, com estes índices, se sentir tentados a colher os lucros, à
espera de que as promessas de Trump se transformem em ações. A alta se estancou
em dezembro e nas últimas semanas os investidores já demonstraram dúvidas, ao
ponto de o Dow Jones perder na quinta-feira o nível dos 19.700 pontos, pelo
temor das ameaças protecionistas.
El País
Nenhum comentário:
Postar um comentário