MACARENA VIDAL LIY
& MARC BASSETS
China responde duramente às novas
declarações do presidente eleito dos Estados Unidos
Donald
Trump transformou a China no
objetivo internacional de seus dardos verbais desde que ganhou as eleições de 8
de novembro. Ao questionar a política de cooperação que prevaleceu nas últimas
quatro décadas, ele rompe uma regra não escrita. O
republicano que, ao mesmo tempo, pisca o olho para a Rússia de Vladimir Putin,
quer vantagens comerciais em troca de manter a relação atual com Pequim. O
Governo chinês, estupefato em um primeiro momento com os ataques do presidente
eleito, subiu o tom na segunda-feira.
Se há
uma questão que a China considera intocável éTaiwan,
a ilha que mantém relações diplomáticas com 22 países e que Pequim considera
parte inalienável de seu território. Donald Trump já tocou no assunto duas
vezes em 10 dias. No domingo ameaçou não respeitar a política "Uma Só
China "– o reconhecimento diplomático de Pequim e não de Taipei – a menos
que a China faça concessões em áreas como o comércio. O Governo chinês
respondeu com uma severa advertência: se Trump alterar essa posição, as
relações bilaterais estariam em perigo.
O
princípio de "Uma Só China" é “um assunto fundamental” para Pequim e
a base sine qua non para manter relações com outros países, sublinhou
ontem o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Geng Shuang. Se
fosse “prejudicado ou colocado em perigo, não haveria possibilidade de um
crescimento forte e contínuo das relações China-EUA, nem da cooperação
bilateral em áreas importantes”. “Pedimos que o novo Governo norte-americano e
seus líderes reconheçam a importância desse assunto, e o administrem de
maneira sensata para não prejudicar as relações bilaterais”, insistiu.
O
conselheiro de Estado, Yang Jieqi – o principal responsável pela política
externa da China, acima do ministro Wang Yi – reuniu-se recentemente com o próximo
secretário de Segurança Nacional, o general da reserva Michael Flynn, e outros
representantes da equipe de transição de Trump, Geng revelou no domingo. A
reunião aconteceu em uma parada de Yang durante sua viagem para a América Latina.
“Trocaram pontos de vista sobre as relações bilaterais e outras questões
importantes que preocupam as duas partes”.
A
aceitação da política de "Uma China" por parte de Washington foi
fundamental para a restauração das relações entre Washington e Pequim em 1972.
Os dois países normalizaram completamente seus laços em 1978, e em 1979 os EUA
romperam suas relações diplomáticas com Taipei. Desde então, e embora os EUA
mantenham relações informais com Taiwan e fornece armas ao país, tanto os
Governos republicanos quanto os democratas mantiveram esse princípio.
Trump
disse que não se sente obrigado a manter essa posição. “Não vejo por que temos
que estar ligados ao princípio de "Uma China" a menos que possamos
chegar a um acordo com Pequim no qual possam entrar outras coisas, incluindo o
comércio”, afirmou em uma entrevista à Fox News.
A questão de Taiwan
Trump
já semeou o nervosismo no Governo chinês ao aceitar uma ligação da presidenta
de Taiwan, Tsai Ing-wen, o primeiro diálogo direto conhecido entre líderes dos
dois países desde 1979. Naquele momento, a resposta de Pequim foi
relativamente moderada, e preferiu afirmar que a culpa foi um “truque” de
Taiwan junto com a inexperiência do presidente eleito.
Como
acontece com a maioria das posições do presidente eleito, não está claro até
que ponto isso é improvisado ou obedece a um plano estratégico. Trump sente
orgulho de ser imprevisível e de usar este recurso como uma tática política.
Na
campanha, o então candidato já fez da China um dos seus argumentos. Acusou o
gigante asiático de desvalorizar a moeda e atacava as empresas norte-americanas
que transferiram sua produção para lá. Sua aproximação com a Rússia de Putin
pode ser interpretada no mesmo sentido: se nos anos setenta Richard Nixon
normalizou as relações com a China para combater a União Soviética, agora Trump
poderia fazer o oposto.
Trump
também declarou admirar a habilidade política dos líderes chineses em contraste
com a suposta falta de jeito dos norte-americanos. Chegou a ameaçar retirar a
proteção militar aos sócios de Washington na Ásia, como o Japão, o que deixaria
o campo livre para o expansionismo chinês. E apostou na retirada doAcordo
de Comércio do Pacífico (TPP), que incluía os Estados Unidos e uma
dúzia de países da região e excluía a China.
A reação
dos meios oficiais chineses, transmissores da posição de seu Governo, foi muito
agressiva nesta ocasião. Se Trump fosse abandonar a política de "Uma Só
China", Pequim “não teria por que preferir a paz, em vez da força, para
recuperar Taiwan”, dizia o jornal Global Times, nacionalista e propriedade
doDiário do Povo. A retirada dos EUA do acordo do Pacífico também apoia as
posições expansionistas de Pequim. O Pentágono via neste acordo uma ferramenta
fundamental no giro estratégico dos EUA para a região.
Pequim / Washington
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