quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Trump abre outro embate com China ao questionar a política sobre Taiwan

MACARENA VIDAL LIY & MARC BASSETS

China responde duramente às novas declarações do presidente eleito dos Estados Unidos

Donald Trump transformou a China no objetivo internacional de seus dardos verbais desde que ganhou as eleições de 8 de novembro. Ao questionar a política de cooperação que prevaleceu nas últimas quatro décadas, ele rompe uma regra não escrita. O republicano que, ao mesmo tempo, pisca o olho para a Rússia de Vladimir Putin, quer vantagens comerciais em troca de manter a relação atual com Pequim. O Governo chinês, estupefato em um primeiro momento com os ataques do presidente eleito, subiu o tom na segunda-feira.

Se há uma questão que a China considera intocável éTaiwan, a ilha que mantém relações diplomáticas com 22 países e que Pequim considera parte inalienável de seu território. Donald Trump já tocou no assunto duas vezes em 10 dias. No domingo ameaçou não respeitar a política "Uma Só China "– o reconhecimento diplomático de Pequim e não de Taipei – a menos que a China faça concessões em áreas como o comércio. O Governo chinês respondeu com uma severa advertência: se Trump alterar essa posição, as relações bilaterais estariam em perigo.

O princípio de "Uma Só China" é “um assunto fundamental” para Pequim e a base sine qua non para manter relações com outros países, sublinhou ontem o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Geng Shuang. Se fosse “prejudicado ou colocado em perigo, não haveria possibilidade de um crescimento forte e contínuo das relações China-EUA, nem da cooperação bilateral em áreas importantes”. “Pedimos que o novo Governo norte-americano e seus líderes reconheçam a importância desse assunto, e o administrem de maneira sensata para não prejudicar as relações bilaterais”, insistiu.

O conselheiro de Estado, Yang Jieqi – o principal responsável pela política externa da China, acima do ministro Wang Yi – reuniu-se recentemente com o próximo secretário de Segurança Nacional, o general da reserva Michael Flynn, e outros representantes da equipe de transição de Trump, Geng revelou no domingo. A reunião aconteceu em uma parada de Yang durante sua viagem para a América Latina. “Trocaram pontos de vista sobre as relações bilaterais e outras questões importantes que preocupam as duas partes”.

A aceitação da política de "Uma China" por parte de Washington foi fundamental para a restauração das relações entre Washington e Pequim em 1972. Os dois países normalizaram completamente seus laços em 1978, e em 1979 os EUA romperam suas relações diplomáticas com Taipei. Desde então, e embora os EUA mantenham relações informais com Taiwan e fornece armas ao país, tanto os Governos republicanos quanto os democratas mantiveram esse princípio.

Trump disse que não se sente obrigado a manter essa posição. “Não vejo por que temos que estar ligados ao princípio de "Uma China" a menos que possamos chegar a um acordo com Pequim no qual possam entrar outras coisas, incluindo o comércio”, afirmou em uma entrevista à Fox News.

A questão de Taiwan
Trump já semeou o nervosismo no Governo chinês ao aceitar uma ligação da presidenta de Taiwan, Tsai Ing-wen, o primeiro diálogo direto conhecido entre líderes dos dois países desde 1979. Naquele momento, a resposta de Pequim foi relativamente moderada, e preferiu afirmar que a culpa foi um “truque” de Taiwan junto com a inexperiência do presidente eleito.
Como acontece com a maioria das posições do presidente eleito, não está claro até que ponto isso é improvisado ou obedece a um plano estratégico. Trump sente orgulho de ser imprevisível e de usar este recurso como uma tática política.

Na campanha, o então candidato já fez da China um dos seus argumentos. Acusou o gigante asiático de desvalorizar a moeda e atacava as empresas norte-americanas que transferiram sua produção para lá. Sua aproximação com a Rússia de Putin pode ser interpretada no mesmo sentido: se nos anos setenta Richard Nixon normalizou as relações com a China para combater a União Soviética, agora Trump poderia fazer o oposto.

Trump também declarou admirar a habilidade política dos líderes chineses em contraste com a suposta falta de jeito dos norte-americanos. Chegou a ameaçar retirar a proteção militar aos sócios de Washington na Ásia, como o Japão, o que deixaria o campo livre para o expansionismo chinês. E apostou na retirada doAcordo de Comércio do Pacífico (TPP), que incluía os Estados Unidos e uma dúzia de países da região e excluía a China.

A reação dos meios oficiais chineses, transmissores da posição de seu Governo, foi muito agressiva nesta ocasião. Se Trump fosse abandonar a política de "Uma Só China", Pequim “não teria por que preferir a paz, em vez da força, para recuperar Taiwan”, dizia o jornal Global Times, nacionalista e propriedade doDiário do Povo. A retirada dos EUA do acordo do Pacífico também apoia as posições expansionistas de Pequim. O Pentágono via neste acordo uma ferramenta fundamental no giro estratégico dos EUA para a região.

Pequim / Washington 

El País

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