Almir Pazzianotto
Pinto
Moral e materialmente, o País foi
arrasado pelo PT e o povo colaborou ao dar-lhe crédito
Apenas
alguém vítima de grave distúrbio mental subestimaria a crise do mercado de
trabalho. A economia não emite sinais de recuperação e as empresas, com
faturamento em queda ou paralisado, reduzem o número de empregados para aliviar
a folha de pagamentos. Dia após dia indústrias fecham as portas e põem na rua
dezenas, centenas ou milhares de empregados.
Parte do
que ocorre deve ser debitado ao clima de instabilidade que se instalou no País
há mais de dois anos. A destituição de Dilma Rousseff e a posse de Michel Temer
reacenderam as esperanças do empresariado. Semanas e meses se passam, o novo
ano se aproxima e o governo, apesar da boa vontade com que foi recebido, dá a
sensação de que se encontra paralisado, à espera de que algo inesperado
aconteça para abreviar-lhe as dificuldades.
Seria
imprudente depositar nos resultados positivos da economia as esperanças de
recuperação de milhões de postos de trabalho perdidos. Determinantes situadas
além do nosso alcance contribuem para o crescente desemprego. Três delas
merecem particular atenção: a agressiva política econômica chinesa, a
informatização e a falta de trabalho decente, como drama mundial.
Com
objetivos estratégicos definidos, a China é concorrente temível. Em 20 anos
“despejou no mercado de trabalho 400 milhões de pessoas e o desemprego no
Ocidente é um resultado disso”, afirmou o professor de Relações Internacionais
Marcus Vinicius de Freitas ao Estado (28/11). Inexistente como potência
industrial até os anos 1970, em pouco tempo produtos chineses conquistaram
mercado consumidor na Europa, África, América do Norte e América Latina graças
aos preços. Acusado de exploração escrava de mão de obra, o governo chinês não
se abalou. Prosseguiu com sua política avassaladora, para se transformar, em
pouco mais de 30 anos, na potência cujo poderio tende a superar tradicionais
países ricos e industrializados. Made in China é expressão corriqueira
encontrada em quinquilharias, gravatas, camisas, veículos e máquinas
operatrizes de última geração.
A
informatização é o mais espetacular instrumento de incremento da produtividade.
Age, porém, no fim da linha como trituradora de mão de obra. Tentar proteger o
trabalhador, “em face da automação, na forma da lei”, como quer o artigo 7.º,
XXVII, da Constituição seria tão impossível quanto recusar o progresso. Como
tragédia multicontinental o desemprego acumula, segundo dados da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 250 milhões de vítimas espremidas
entre o desespero e a busca de oportunidades em qualquer canto do planeta.
O que fazer?
No plano
da macroeconomia trabalhista, o nó cego está na Constituição. O artigo 7.º
garante direitos ignorados por assalariados de países ricos. Pensemos nas
férias de 30 dias e no 13.º salário. Como utopias, são ideias excelentes.
Enquanto imposições constitucionais, legais e universais, devem ser
reanalisadas. O mesmo raciocínio se aplica a horas extras, remuneradas com
adicional mínimo de 50%. Por fim, recordo os dilatados prazos prescricionais, a
fragilidade do recibo final de quitação e a Justiça do Trabalho alheia ao
desemprego.
Da
eficiência e rapidez com que enfrentar o problema da falta de trabalho
dependerá o sucesso do governo de Michel Temer. Leio que pretende investir R$
1,3 bilhão visando à criação de postos de trabalho. Receio que seja inútil ou
insuficiente. A recuperação da economia exige enérgica participação da
iniciativa privada, desde as micro e pequenas às grandes empresas,
desinteressadas de voltar a contratar enquanto não se eliminar o clima de insegurança
jurídica criado pelo populismo judicial. Conhecer de antemão o custo da mão de
obra e o peso na folha de pagamentos tornou-se impossível, embora seja
essencial para quem investe com o propósito de sobreviver, crescer, lucrar.
Indague-se
de quem perdeu o emprego há vários meses e não encontra colocação se gostaria
de obter trabalho com 12 meses de salários, férias de 15 dias negociáveis,
horas extras com adicional de 10%, ou se lhe basta a riqueza de contar, no
papel, com a legislação mais protecionista do mundo. Conhecidos dispositivos da
Constituição devem ter sido inspirados por demagogos ou visionários, utópicos
ou irresponsáveis.
Na visão
de bons economistas, a paralisia está longe do fim. Segundo Paulo Rabello de
Castro, “ainda não é possível visualizar, com alguma segurança, quando e com
que vigor sairemos da recessão econômica e do abismo do desemprego recente”
(Estado, 6/12).
O mundo
ideal, anunciado em 1988, não foi e não será entregue ao povo nos próximos
anos, quaisquer que sejam os futuros governantes. Se desejarmos conquistar
posição honrosa em desenvolvimento humano e econômico, quatro requisitos se
exigem: honestidade, disciplina, trabalho e poupança. A travessia do deserto
deve durar mais de dez anos, desde que o Brasil ponha os pés no chão já.
A CLT
disciplina pedidos de demissão e despedidas individuais, por falta grave ou sem
justa causa. Ignora cortes coletivos decorrentes do colapso da economia, ou do
insucesso da empresa causado por fatores insuperáveis de mercado. Pune o empregador,
como se fosse responsável pela estagnação que nos legou o Partido dos
Trabalhadores. Não distingue entre a despedida que o empregador faz por vontade
própria e as que se vê obrigado a fazer.
Quem faz
pode errar, quem nada faz já errou. Crise, na definição clássica, é momento de
decisão e ação. Ao assumir a Presidência, Michel Temer certamente avaliou os
desafios que iria enfrentar. A destruição provocada pelo PT não pode ser
perdoada. Moral e materialmente, o País foi arrasado. Ao dar crédito à demagogia
petista, o povo colaborou para que isso acontecesse. Encerrada a faxina em
andamento, cabe-lhe, agora, arcar com o ônus da reconstrução.
Almir Pazzianotto
Pinto
Advogado,
foi ministro do trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho
O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário