Fabio Florense
(*)
(*)
Pertence
ao senso comum a ideia segundo a qual um ensino intelectualmente honesto deve
fomentar nos alunos a aptidão para o pensamento independente dos vícios e das
ideologias, ao passo que a chamada “doutrinação” consiste na imposição, pelo
professor, de uma doutrina na qual ele acredita e para a qual deseja ganhar a
adesão dos alunos. Sem pretender esgotar o tema, pretendo, aqui, convidar os
educadores a refletirem mais a fundo sobre a prática da doutrinação para que,
assim, possam melhor contribuir para a formação daqueles cujo aprendizado foi a
eles confiado.
No livro
“A Doutrinação”, escrito na década de 1970, o filósofo Olivier Reboul aponta
dois sentidos para essa prática: a doutrinação de tipo conformista, que
consiste no reforço de preconceitos já existentes na cabeça do educando, e a
doutrinação de tipo sectário, marcada pelo ataque frontal aos preconceitos
existentes na cabeça do educando e sua substituição por outros. Enquanto o
conformismo impede que o educando elabore grandes projetos, cresça como pessoa
e, assim, contribua para o bem social como um todo, o sectarismo está na raiz
dos movimentos de negação radical da realidade, que frequentemente resultam em
violência e grandes tragédias pessoais e/ou coletivas.
Talvez
um dos grandes desafios com que se defronta o educador seja diagnosticar, na
própria prática pedagógica, se seu ensino está ou não trilhando o caminho da
doutrinação. Para melhor nos situarmos, sugiro tomarmos como ponto de
referência alguns sintomas claros da doutrinação apontados por Reboul: fazer
propaganda do partido político A ou B, impor um tipo de conhecimento que
poderia ser compreendido (o famoso “porque sim”), lançar mão do argumento de
autoridade quando não é o único possível, elaborar um ensino com base em
preconceitos e, paralelamente, manipular fatos para que a doutrina ensinada
aparente ser a única possível são indícios claros de que se está a doutrinar e
não a ensinar.
Mesmo
que o educador, ao olhar para essa lista, creia firmemente que não pratica
nenhuma das condutas arroladas, ainda assim é possível que o faça sem saber.
Acrescenta-se a isso o fato de que todo educador possui – e é legítimo que
possua – suas crenças e convicções pessoais de ordem política e de valores
morais e que um conjunto de aulas interessantes e atraentes podem implicar na
adesão irrefletida do aluno ao ponto de vista do professor pela simples
associação da opinião com a pessoa. Como, então, se resguardar desse perigo?
A
resposta que proponho pode parecer um truísmo, mas, em tempos de
recrudescimento ideológico e partidário como os nossos, se faz necessária: o
educador deve ter a prática contínua e disciplinada do estudo, associada sempre
à honestidade intelectual de expor o maior número de pontos de vista que um
assunto comporta e as possíveis conseqüências que a adoção de cada um deles
pode acarretar.
O
caminho mais fácil para ser um professor “popular” parece ser, cada vez mais, o
do sectarismo, sobretudo por este se revestir de uma aparência de coerência
entre o ensinar e o agir. Com efeito, o militante político e o fanático vivem
aquilo que ensinam com grande fervor, mas não cumprem sua função de educadores,
que consiste, sobretudo, em abrir as portas do pensamento responsável e nunca
em fechá-las.
Fabio Florence
(florenceunicamp@gmail.com) é
advogado, professor de Filosofia e gestor do Núcleo de História do IFE
Campinas.
Escola Sem Partido
(*)Comentário do editor do blog-MBF:
Vejam um exemplo:
Concurso na UFRJ virou
‘filtro ideológico’ petista
Até a prova do concurso para ginecologista da Universidade Federal do Rio (UFRJ) foi transformada em “filtro ideológico” para barrar quem não reza na cartilha do PT. Na parte de interpretação de texto da prova de Português, domingo (4), o candidato foi induzido a responder que houve “golpe” no País, sob pena de “errar”. A prova ridiculariza o Supremo Tribunal Federal e sua presidente, a ministra Cármen Lúcia.
Prioridade ao partido
Dilma e teses do PT foram exaltadas em pelo menos quinze das vinte questões da prova de Português no concurso da UFRJ.
Lava Jato, nada
A prova de inspiração petista na UFRJ ignorou o roubo investigado na Lava Jato, o maior da História, segundo o New York Times.
Maioria virou ‘tirania’
A maioria no Congresso que cassou o mandato de Dilma é chamada no libelo petelho da UFRJ de “força tirânica de maioria institucional”.
Até a prova do concurso para ginecologista da Universidade Federal do Rio (UFRJ) foi transformada em “filtro ideológico” para barrar quem não reza na cartilha do PT. Na parte de interpretação de texto da prova de Português, domingo (4), o candidato foi induzido a responder que houve “golpe” no País, sob pena de “errar”. A prova ridiculariza o Supremo Tribunal Federal e sua presidente, a ministra Cármen Lúcia.
Prioridade ao partido
Dilma e teses do PT foram exaltadas em pelo menos quinze das vinte questões da prova de Português no concurso da UFRJ.
Lava Jato, nada
A prova de inspiração petista na UFRJ ignorou o roubo investigado na Lava Jato, o maior da História, segundo o New York Times.
Maioria virou ‘tirania’
A maioria no Congresso que cassou o mandato de Dilma é chamada no libelo petelho da UFRJ de “força tirânica de maioria institucional”.
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