Jeannette Neumann e Nektaria Stamouli
“O partido eurocético Movimento 5
Estrelas, liderado por Beppe Grillo, vem conquistando eleitores do Partido
Democrata”
O apoio aos grandes partidos de esquerda da Europa, há muito considerados os pilares da elite política dos países do continente, está ruindo.
Uma revolta do eleitorado contra o líder italiano foi o mais recente revés de uma espiral descendente que começou antes de a recessão atingir a Europa em 2008 e que só tem acelerado desde então. Os eleitores estão irritados com as medidas de austeridade adotadas pelos governos de centro-esquerda para administrar a crise de dívida. Muitos que anteriormente apoiavam os socialistas e os social-democratas agora rejeitam seus pedidos de fortalecimento da União Europeia e disposição para receber imigrantes.
Como os democratas que ainda digerem a derrota nos Estados Unidos, os líderes de centro-esquerda estão debatendo se a melhor forma de se recuperar é adotar uma posição centrista ou ir ainda mais à esquerda.
Das cinco maiores economias da Europa, a esquerda governa duas: França e Itália.
Mas na semana passada, o presidente francês François Hollande disse que não concorreria à reeleição depois que pesquisas de opinião revelaram que nem ele nem qualquer outro socialista passariam do primeiro turno das eleições de maio. Os eleitores franceses devem escolher entre candidatos dos dois partidos de direita, o Republicanos, do ex-presidente Nicolas Sarkozy, e a Frente Nacional, que se opõe à imigração.
Na Itália, o primeiro-ministro Matteo Renzi se demitiu na segunda-feira depois que os eleitores rejeitaram uma proposta de reforma constitucional. Sua campanha por mudanças transformou o referendo de domingo em um voto de confiança em sua agenda de centro-esquerda com foco no crescimento econômico. O expressivo voto no “não” foi uma vitória do partido eurocético Movimento 5 Estrelas, que vem conquistando eleitores do Partido Democrata de Renzi.
Siegfried Muresan, porta-voz do Partido Popular Europeu, grupo de partidos de centro-direita no Parlamento Europeu, zombou de seus rivais perdedores em um tweet na segunda: “Que semana ruim para os #socialistas: #Renzi caiu, #Hollande está fora. Inclua aí o enfraquecimento na #Espanha, #Alemanha, #Polônia, etc etc”.
A crescente onda de populismo do continente também tem desafiado os partidos de centro-direita, mas eles têm resistido melhor. Os reveses para a esquerda europeia, contudo, têm levado seus líderes à reflexão.
“Há um afastamento dos valores democráticos liberais em um número de países na Europa e fora dela”, disse recentemente o ministro da Fazenda da Grécia, Euclid Tsakalotos, cujo partido Syriza, de extrema-esquerda, subiu ao poder no ano passado. “Os partidos de centro-esquerda e esquerda têm parte da culpa. Eles não articularam um programa que levasse em consideração os anseios dos eleitores — uma agenda onde as pessoas pudessem ver seu lugar em uma economia mundial mais globalizada.”
Há exceções. Os Socialistas de Portugal têm visto seus números se fortalecerem nas pesquisas depois de se aliarem com três partidos de extrema-esquerda para formar um governo no ano passado. O líder do Partido Trabalhista de Malta, que moldou sua campanha na do presidente Barack Obama, foi eleito primeiro-ministro com grande maioria em 2013 depois de abandonar sua posição eurocética.
Mas em outros países onde os sociais-democratas lideram ou são parte de coalizões de governo, o apoio está sumindo. Isto acontece na Áustria, onde o populista Partido da Liberdade, contrário à imigração, permanece uma forte força política apesar da derrota de seu candidato a um rival independente de centro-esquerda nas eleições de domingo.
Os esquerdistas europeus procurando evitar ou reverter derrotas nas urnas estão mais limitados que seus colegas americanos naquilo que podem oferecer aos eleitores. As metas de déficit da UE tornam mais difícil a promoção de programas de investimentos estatais tradicionalmente defendidos pela esquerda. Os 19 governos da zona do euro estão ainda mais restritos; ao contrário dos EUA, eles não possuem autoridade para estimular suas economias com a emissão de mais dinheiro.
E se esses partidos decidirem seguir os socialistas portugueses, inclinando-se mais à esquerda, ou os trabalhistas de Malta, movendo-se para o centro, suas perspectivas continuam mais sombrias que a dos democratas americanos devido ao aumento da competição na Europa pelos eleitores de centro-esquerda tradicionais.
Partidos novos ou marginais da extrema-esquerda, como o espanhol Podemos, e da extrema-direita, como o Partido da Liberdade da Áustria, estão conquistando eleitores dos partidos tradicionais de centro-esquerda e centro-direita. Mas enquanto os partidos de centro-direita tendem a perder eleitores, principalmente para partidos mais à direita, muitos dos partidos de centro-esquerda estão perdendo votos em todas as direções.
Os socialistas de centro-esquerda da Espanha, por exemplo, perderam votos tanto para o Podemos quanto para um novo partido centrista na eleição deste ano, o que permitiu que o primeiro-ministro Mariano Rajoy, um conservador tradicional, conquistasse um segundo mandato. Os socialistas conseguiram 22,7% dos votos, pouco mais da metade do que haviam conquistado em décadas anteriores como um dos dois partidos dominantes na Espanha.
Juanjo Barroso, trabalhador espanhol de 38 anos, diz que desistiu dos socialistas em 2012. Eles têm uma “mensagem social-democrata”, disse ele, “mas não adotaram medidas efetivas” quando estavam no governo para impedir que os credores expulsassem os proprietários que atrasaram na hipoteca durante a recessão. Ele diz que o Podemos agora tem seu voto.
O Partido Trabalhista britânico e os socialistas franceses têm tido dificuldade para reconciliar as crescentes diferenças entre suas bases eleitorais tradicionais, a classe média e a trabalhadora, em questões como a imigração.
Um número maior de eleitores de classe trabalhadora britânica migrou do Partido Trabalhista para o Partido da Independência do Reino Unido, eurocético e que fez lobby para a saída do Reino Unido da UE, enquanto muitos de seus colegas franceses abandonaram os socialistas e outros partidos de esquerda para se unir à Frente Nacional de Marine Le Pen, de extrema-direita.
O apoio aos grandes partidos de esquerda da Europa, há muito considerados os pilares da elite política dos países do continente, está ruindo.
Uma revolta do eleitorado contra o líder italiano foi o mais recente revés de uma espiral descendente que começou antes de a recessão atingir a Europa em 2008 e que só tem acelerado desde então. Os eleitores estão irritados com as medidas de austeridade adotadas pelos governos de centro-esquerda para administrar a crise de dívida. Muitos que anteriormente apoiavam os socialistas e os social-democratas agora rejeitam seus pedidos de fortalecimento da União Europeia e disposição para receber imigrantes.
Como os democratas que ainda digerem a derrota nos Estados Unidos, os líderes de centro-esquerda estão debatendo se a melhor forma de se recuperar é adotar uma posição centrista ou ir ainda mais à esquerda.
Das cinco maiores economias da Europa, a esquerda governa duas: França e Itália.
Mas na semana passada, o presidente francês François Hollande disse que não concorreria à reeleição depois que pesquisas de opinião revelaram que nem ele nem qualquer outro socialista passariam do primeiro turno das eleições de maio. Os eleitores franceses devem escolher entre candidatos dos dois partidos de direita, o Republicanos, do ex-presidente Nicolas Sarkozy, e a Frente Nacional, que se opõe à imigração.
Na Itália, o primeiro-ministro Matteo Renzi se demitiu na segunda-feira depois que os eleitores rejeitaram uma proposta de reforma constitucional. Sua campanha por mudanças transformou o referendo de domingo em um voto de confiança em sua agenda de centro-esquerda com foco no crescimento econômico. O expressivo voto no “não” foi uma vitória do partido eurocético Movimento 5 Estrelas, que vem conquistando eleitores do Partido Democrata de Renzi.
Siegfried Muresan, porta-voz do Partido Popular Europeu, grupo de partidos de centro-direita no Parlamento Europeu, zombou de seus rivais perdedores em um tweet na segunda: “Que semana ruim para os #socialistas: #Renzi caiu, #Hollande está fora. Inclua aí o enfraquecimento na #Espanha, #Alemanha, #Polônia, etc etc”.
A crescente onda de populismo do continente também tem desafiado os partidos de centro-direita, mas eles têm resistido melhor. Os reveses para a esquerda europeia, contudo, têm levado seus líderes à reflexão.
“Há um afastamento dos valores democráticos liberais em um número de países na Europa e fora dela”, disse recentemente o ministro da Fazenda da Grécia, Euclid Tsakalotos, cujo partido Syriza, de extrema-esquerda, subiu ao poder no ano passado. “Os partidos de centro-esquerda e esquerda têm parte da culpa. Eles não articularam um programa que levasse em consideração os anseios dos eleitores — uma agenda onde as pessoas pudessem ver seu lugar em uma economia mundial mais globalizada.”
Há exceções. Os Socialistas de Portugal têm visto seus números se fortalecerem nas pesquisas depois de se aliarem com três partidos de extrema-esquerda para formar um governo no ano passado. O líder do Partido Trabalhista de Malta, que moldou sua campanha na do presidente Barack Obama, foi eleito primeiro-ministro com grande maioria em 2013 depois de abandonar sua posição eurocética.
Mas em outros países onde os sociais-democratas lideram ou são parte de coalizões de governo, o apoio está sumindo. Isto acontece na Áustria, onde o populista Partido da Liberdade, contrário à imigração, permanece uma forte força política apesar da derrota de seu candidato a um rival independente de centro-esquerda nas eleições de domingo.
Os esquerdistas europeus procurando evitar ou reverter derrotas nas urnas estão mais limitados que seus colegas americanos naquilo que podem oferecer aos eleitores. As metas de déficit da UE tornam mais difícil a promoção de programas de investimentos estatais tradicionalmente defendidos pela esquerda. Os 19 governos da zona do euro estão ainda mais restritos; ao contrário dos EUA, eles não possuem autoridade para estimular suas economias com a emissão de mais dinheiro.
E se esses partidos decidirem seguir os socialistas portugueses, inclinando-se mais à esquerda, ou os trabalhistas de Malta, movendo-se para o centro, suas perspectivas continuam mais sombrias que a dos democratas americanos devido ao aumento da competição na Europa pelos eleitores de centro-esquerda tradicionais.
Partidos novos ou marginais da extrema-esquerda, como o espanhol Podemos, e da extrema-direita, como o Partido da Liberdade da Áustria, estão conquistando eleitores dos partidos tradicionais de centro-esquerda e centro-direita. Mas enquanto os partidos de centro-direita tendem a perder eleitores, principalmente para partidos mais à direita, muitos dos partidos de centro-esquerda estão perdendo votos em todas as direções.
Os socialistas de centro-esquerda da Espanha, por exemplo, perderam votos tanto para o Podemos quanto para um novo partido centrista na eleição deste ano, o que permitiu que o primeiro-ministro Mariano Rajoy, um conservador tradicional, conquistasse um segundo mandato. Os socialistas conseguiram 22,7% dos votos, pouco mais da metade do que haviam conquistado em décadas anteriores como um dos dois partidos dominantes na Espanha.
Juanjo Barroso, trabalhador espanhol de 38 anos, diz que desistiu dos socialistas em 2012. Eles têm uma “mensagem social-democrata”, disse ele, “mas não adotaram medidas efetivas” quando estavam no governo para impedir que os credores expulsassem os proprietários que atrasaram na hipoteca durante a recessão. Ele diz que o Podemos agora tem seu voto.
O Partido Trabalhista britânico e os socialistas franceses têm tido dificuldade para reconciliar as crescentes diferenças entre suas bases eleitorais tradicionais, a classe média e a trabalhadora, em questões como a imigração.
Um número maior de eleitores de classe trabalhadora britânica migrou do Partido Trabalhista para o Partido da Independência do Reino Unido, eurocético e que fez lobby para a saída do Reino Unido da UE, enquanto muitos de seus colegas franceses abandonaram os socialistas e outros partidos de esquerda para se unir à Frente Nacional de Marine Le Pen, de extrema-direita.
Por
Jeannette Neumann, de Madri
Colaborou Nektaria Stamouli, de Atenas
The Wall Strett Journal
Colaborou Nektaria Stamouli, de Atenas
The Wall Strett Journal
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