Hélio Duque
No século XX, a economia brasileira
registrou dois anos seguidos de recessão econômica, em 1930 e 1931. No século
XXI, 85 anos depois, o cenário recessivo vai se repetir no biênio 2015 e 2016.
Na primeira, fatores externos determinados pelo “craking” de 1929, quebra da
Bolsa de Nova York, gerou a maior crise mundial do sistema capitalista.
Internamente a Revolução de 30,
sepultando a República velha, iria redefinir os caminhos do desenvolvimento
nacional. Na atual que estamos vivendo e se estenderá em 2016, as causas foram
construídas pelo populismo primário do próprio governo. O segundo mandato do
presidente Lula da Silva e o seguinte de Dilma Rousseff, são os únicos
responsáveis pelo caos econômico e social vitimizador da sociedade brasileira.
O Banco Central, através o seu
Relatório Focus, comprova que o Brasil viverá dois anos de ativa recessão. O
descontrole dos gastos públicos, sustentados naqueles governos pela chamada
“nova matriz econômica”, gerou o desastre que desestruturou a economia
brasileira. A expansão fiscal com excesso de desoneração, intervenção na
economia represando preços administrados para combater a inflação, manutenção
artificial da taxa de câmbio, juros subsidiados na escala de bilhões, através o
BNDES, reduziram a arrecadação e atingiu em cheio os investimentos produtivos.
Nos últimos oito trimestres (24 meses) os investimentos vêm registrando queda
livre.
A deterioração fiscal foi o resultado
colhido, com o desemprego decorrente da estagnação econômica invadindo o
cotidiano das famílias brasileiras. A inadimplência deverá atingir em dezembro
próximo níveis extravagantes, levando os trabalhadores a situação de quase
desespero, numa conjuntura de inflação alta e corrosiva do poder aquisitivo dos
assalariados e da classe média. Ao priorizar o crescimento das despesas
públicas, ao invés de canalizar recursos para o crescimento econômico, o
resultado não poderia ser diferente. Foi relegado a nível secundário os investimentos
em infraestrutura e pouca atenção para os investimentos privados produtivos.
O naufrágio dos governos Lula II e
Dilma I teve coadjuvantes importantes a começar pelo Congresso Nacional. E se
estendendo por enormes parcelas da sociedade brasileira dita esclarecida. Todos
coniventes, os primeiros por conveniência eleitoral, os segundos pela
infantilização e ignorância sobre a realidade de uma administração
irresponsável. Igualmente amplos setores empresariais tem grande parcela de
culpa no desastre.
Em dezembro de 2015, entre os países
emergentes na relação do FMI, o Brasil terá a dívida pública mais elevada.
Somente com juros nos últimos 12 meses, pagamos R$ 452 bilhões, representando
quase 8% do PIB. A dívida pública bruta em dezembro de 2014 era de R$ 3
trilhões e 252 bilhões. Seis meses depois, julho de 2015, deu um saldo de R$
336 bilhões, atingindo o total de R$ 3 trilhões e 588 bilhões. Com a taxa Selic
do BC em 14,25%, poderá ultrapassar os R$ 4 trilhões no final do ano. O
rebaixamento do “grau de investimento” colocando-o no círculo dos países
“sujeito a calote” tem na dívida pública bruta uma das suas causas.
Nos últimos anos não faltaram vozes
que alertavam para os descaminhos da política econômica. Ignoradas com
arrogância pelo governo que se achava autossuficiente. Dentre aqueles que
advertiam para a conjuntura adversa, o economista Nilson Teixeira, do Credit
Suisse, apontava o desarranjo das contas públicas. Agora ele prevê que a contração
do PIB será de 3% em 2015 e 1,5% em 2016. No mesmo período os investimentos
externos se reduzirão de 65 bilhões de dólares para 35 bilhões de dólares. A
recessão será brutal nos dois biênios.
Nesse cenário de flagelo econômico,
as camadas populares serão as grandes vítimas, pela razão direta do desemprego
ascendente, levando a perda de renda, agravando a pobreza nacional. O
estelionato foi o dogma construído na década do “nunca antes na história desse
país”, com aprovação de enormes parcelas da população brasileira. Agora a conta
da mentira chegou e é muito salgada.
Na sua origem, o dirigismo econômico
com desprezo pela competência, aparelhando a estrutura pública com pessoas que
tem horror à eficiência, produziu a realidade vivente: recessão profunda e de
longa duração.
Helio Duque
Doutor em Ciências, área econômica, pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É
autor de vários livros sobre a economia brasileira.
Alerta Total – www.alertatotal.net
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