João
Luiz Mauad
Informa Lauro Jardim, na Veja.com, que o grupo JBS
doou nada menos que R$ 290 milhões para partidos e candidatos a presidente,
governadores, senadores e deputados, nas eleições de 2014. O único
partido que não recebeu doações dos frigoríficos dos irmãos Joesley e Wesley
Batista foi o PSOL – que está proibido, estatutariamente, de receber doações de
empresas.
Caramba! 290 milhões é muita
grana. Está certo que o faturamento do grupo anda pela casa das dezenas
de bilhões, mas, ainda assim, é preciso amar muito a democracia para doar tanto
dinheiro numa só campanha. Sim, pois das duas, uma: ou estamos diante de
uma paixão arrebatadora pela democracia, ou de um baita investimento visando o
futuro, para não falar de eventuais pagamentos por serviços prestados.
Quê serviços?
Bem, não deve ser por acaso que o BNDES tem investido naquele grupo algo em torno de R$
10,5 bilhões, sendo 8,5 bilhões em ações e 2,1 bilhões em empréstimos
subsidiados. Muito graças a esses investimentos do BNDES, o
JBS vem se consolidando como um dos maiores grupos do mundo em sua área, tendo
adquirido diversos concorrentes, aqui e no exterior, numa demonstração inequívoca
de que a política de escolha de campeões, tão cara aos petistas, também promove
a consolidação de monopólios.
Como escrevi alhures, existem duas maneiras de um
empreendedor tornar-se bem sucedido nos negócios. Na primeira, ele deve
produzir bens ou serviços que atendam aos interesses do consumidor, gerando
resultados desejáveis para a sociedade. Na outra, utiliza-se de meios políticos
para obter do governo variadas vantagens para o seu negócio. Empresários sabem
que os governos costumam ser muito mais eficientes na hora de atender aos
reclamos de lobbies bem organizados e articulados do que propriamente para
gerir os dinheiros públicos no interesse geral.
Normalmente, é muito difícil medir os
benefícios financeiros do compadrio entre grandes empresários e políticos,
embora todos saibam que essa locupletação costuma ser imensamente lucrativa
para todas as partes. Não por acaso, as grandes empresas têm apostado cada vez
mais dinheiro nisso.
Num ambiente que incentive a troca de
favores, mesmo aqueles empresários que talvez preferissem manter distância da
política acabam sendo jogados na prostituição, ainda que em legítima defesa.
Antes de 1998, Bill Gates não tinha um só lobista em Washington, além de estar
afastado das famigeradas doações partidárias. Porém, teve de mudar de atitude
quando o governo quase destruiu sua empresa, através de um processo bilionário
de “concorrência predatória”. Desde então, Gates mantém um verdadeiro exército
de lobistas, consultores e advogados no Capitólio, além de ter-se tornado um dos mais generosos “doadores” políticos do país.
Enquanto os governos detiverem poder
tanto para levar empresários à fortuna quanto à ruína, será quase impossível
escapar do compadrio político. A exemplo da Microsoft, muitas empresas acabam
concluindo que é necessário proteger-se, não só da sanha regulatória dos
governos, mas também de seus concorrentes, frequentemente dispostos a utilizar
os “bons serviços” políticos para enfraquecer os oponentes.
Tocar um negócio num sistema
competitivo não é algo fácil e envolve imensos riscos. Obter benesses e
contratos altamente lucrativos junto a políticos e burocratas é muito mais
fácil. Quanto maior e mais poderoso é o governo, especialmente quando o Estado
se confunde com o próprio sistema econômico, mais os empresários sentem-se
incentivados a buscar rendas através do desvio de dinheiro público e dos
favores especiais (rent-seeking).
O compadrio é conveniente para ambos
os lados, tanto para os governos inchados e sedentos de poder, quanto para os
empresários oportunistas. A sociedade só conseguirá mudar esta tendência
de conluio e corrupção galopantes quando cortar drasticamente os suprimentos de
dinheiro e poder que fazem a festa de políticos, burocratas e
empresários. Mas esta é uma tarefa hercúlea.
Peguem, por exemplo, o pacote do
governo anunciado anteontem para tentar equilibrar o orçamento, um problema que
tem tirado o sono de onze em cada dez governantes, atualmente. Há ali
propostas para aumentar impostos e reduzir algumas despesas, mas ninguém falou
em privatizar empresas estatais ou reduzir os recursos do BNDES destinados a subsidiar
os amigos do rei, duas medidas que , sozinhas, poderiam ajudar muito na
cobertura do déficit. Será que eles não enxergam o óbvio, ou simplesmente
não querem largar o osso?
João
Luiz Mauad
Administrador
de Empresa
Instituto
Liberal
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