João Luiz Mauad
O ministro Edinho Silva afirmou que o governo não tem um “plano B”
para a proposta de ajuste encaminhada ao Congresso, e que não há
alternativas viáveis, fora das já apresentadas pelo Executivo, para
equilibrar o orçamento do governo, passando ao distinto público a falsa
ideia de que a única maneira de cobrir o déficit das contas públicas é
através da criação ou aumento de impostos, inclusive a malfadada CPMF,
além de cortes ridículos nas despesas.
Mais uma vez, o governo mente!
O leitor talvez não saiba, mas o Tesouro Nacional, ao longo dos
últimos anos, principalmente durante o primeiro mandato da presidente
Dilma, transferiu perto de R$ 520 bilhões para o caixa do BNDES. Para se
ter uma ideia da grandeza desse número, ele representa cerca de 10% do
PIB (2014). Pelos recursos, o governo cobra do BNDES juros de 6% ao ano
(TLJP), enquanto, para captá-los no mercado, paga, em média, 13%. Em
outras palavras, o custo de carregamento desses “empréstimos”, que fazem
a alegria dos grandes empresários tupiniquins, é de aproximadamente R$
35 bilhões, valor superior ao orçamento anual do Bolsa Família (R$ 27,5
bilhões). Agora, eu pergunto: o leitor viu, em algum lugar, menção de
que o governo pretenda pegar esse dinheiro de volta? Nem eu.
Outra possibilidade de arranjar recursos extras para cobrir o déficit
seria através de privatizações de empresas estatais, mas, além da
proposta de vender 25% da BR Distribuidora (o que está bem longe de
significar privatização, já que o controle permaneceria com o Estado),
nem uma linha da proposta recentemente encaminhada ao Congresso toca
nesse ponto. Eles preferem recriar a CPMF, tungando um pouco mais o
bolso do contribuinte. Por quê?
A ideologia petista não admite perder o imenso poder econômico que
hoje detém o Estado brasileiro, seja para fazer afagos aos amigos do rei
(e financiadores do partido), seja para estender seus imensos
tentáculos sobre o mercado.
Não por acaso, no mesmo dia da entrevista de Edinho Silva, sua chefe,
a presidente Dilma Rousseff, voltou a dizer — não exatamente com essas
palavras, pois seu idioma, embora semelhante, não é o meu — que estão
tramando um golpe contra ela, aproveitando-se da crise econômica para
propor seu impeachment. Não esclarece como é que um processo previsto na
Constituição e regulamentado em lei pode ser considerado golpe.
No meu dicionário, golpe é eleger-se mentindo descaradamente ao
eleitorado, mostrando um mundo cor de rosa quando já pairavam nuvens
negras no horizonte, avisando que uma tempestade de grandes proporções
estava a caminho. Golpe é acusar os adversários de tramar a redução de
investimentos em programas sociais, sabendo melhor do que ninguém que,
qualquer que fosse o eleito, inclusive ela própria, teria de fazer
cortes e congelar benefícios. Golpe é divulgar, por anos a fio,
demonstrações financeiras falsas, mostrando superávits onde havia
déficits, escondendo resultados negativos através de contabilidade
fajuta e “pedaladas fiscais”. Golpe é utilizar bilhões em recursos
desviados da Petrobras para abastecer os partidos da base aliada.
Finalmente, golpe é emprestar R$ 520 bilhões do Tesouro (leia-se:
contribuinte brasileiro), cobrando menos da metade dos juros praticados
pelo mercado, aos seus financiadores de campanha e a governos
estrangeiros ideologicamente vinculados a seu partido.
João Luiz Mauad
Administrador de empresas
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