FERNANDA
BECKER - REGIANE
OLIVEIRA
No início
de agosto, um café da manhã reuniu 62 deles para ouvir as propostas do
candidato
Luciano Hang, proprietário da rede de lojas Havan, não é do tipo que
foge de polêmica. Mesmo sendo frequentemente citado nas páginas dos jornais por
controvérsias envolvendo seu nome, decidiu abrir uma página pessoal no Facebook, em novembro de
2017, e tem utilizado o espaço para divulgar vídeos que classifica de
"motivacionais", a fim de compartilhar sua vivência no dia a dia da
empresa. Com 1,3 milhão de seguidores, Hang é um dos cabos eleitorais do candidato
à presidência Jair Bolsonaro,
conforme mostrou uma reportagem do EL PAÍS publicada na semana passada.
O empresário tem usado seu canal no Facebook para divulgar seu voto e
conclamar outras pessoas a se unirem ao seu movimento. Se a adesão ao discurso
de Hang tem sido bem sucedida ainda não é possível saber. Mas ele não está sozinho
nessa missão. Ainda que sem o ímpeto do proprietário da Havan, outros
empresários já foram a público anunciar sua intenção de votar no ex-militar.
São eles Meyer Nigri (Tecnisa), Bráulio Bacchi (Artefacto), Sebastião Bomfim
Filho (Centauro) e Luiz Antonio Nabhan Garcia (União Democrática Ruralista).
Todos participaram de encontros com o presidenciável, como um café da manhã,
ocorrido em 10 de agosto, que reuniu 62 empresários.
À primeira vista modesto, o número de apoiadores de Bolsonaro
entre a nata empresarial do país surpreende na primeira eleição presidencial
marcada pela proibição do financiamento de campanhas por empresas. Outros
candidatos não têm tido, até o momento, o mesmo engajamento público. Os
apoiadores de Bolsonaro têm em comum a insatisfação com os partidos de
esquerda, aos quais creditam uma vocação "comunista". “Apoio quem
seja contra a esquerda, Bolsonaro, Alckmin ou qualquer outro", afirmou o fundador
da Tecnisa à revista Piauí.Também lhes agrada que o candidato do
PSL à presidência não tenha pedido ajuda para campanha. "Em quase 40 anos
em financeiro de empresas, nunca vi um candidato não pedir dinheiro",
disse Bacchi, da Artefacto, à Folha.
Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da UDR, realizou uma
caravana no interior de São Paulo, reduto de Geraldo Alckmin, em
prol do candidato. Em um evento em julho no Pará, o pecuarista aproveitou
para pedir: "Quando o senhor se tornar presidente, vê o que fará com essa
gente da Funai, do Ibama, do Ministério Público, que não respeita a propriedade
privada”, ressaltou o jornal Estadão.
Para Hang, a falta de presença do empresariado na vida política do
país no passado é o "que levou o país à situação atual". "Acho
que a falta de entrosamento político da classe empresarial levou o país à
situação em que nos encontramos hoje. Houve uma terceirização da política a
pessoas de mau caráter, corruptas, comunistas, socialistas e vigaristas",
lamenta.
O dono da Havan não acredita que seu envolvimento explícito com um
candidato político seja prejudicial aos negócios. "Quanto mais eu falo a
verdade, mais eu vendo", afirma. De acordo com o empresário, a Havan
cresceu 45% em vendas só no primeiro semestre deste ano e deve fechar 2018 com
um faturamento de 7 bilhões de reais. "Estou do lado certo", afirma,
em defesa de sua estratégia. "Nunca vi alguém de esquerda se dar bem na
vida, só vai bem quem pensa logicamente. Lamentavelmente, você não vê um
esquerdista, um populista, um comunista que tenha ganhado dinheiro honestamente
trabalhando ou montando sua empresa", garante.
O ativismo de Hang o levou a aproveitar de um ponto de difícil
fiscalização da lei eleitoral para investir dinheiro para que postagens
a favor de Bolsonaro chegassem a mais pessoas no Facebook. Pela lei
eleitoral, a propaganda política paga na rede só pode ser feita pelos próprios
candidatos, partidos e coligações, não pode ser terceirizada. "Se nós não
nos posicionarmos, o Brasil vira uma Venezuela e nós teremos
que largar este país (...) Fiz um vídeo abrindo meu voto, de forma nenhuma eu
pedi voto para ninguém. Chega num ponto do vídeo em que falo: cada brasileiro,
cada pessoa tem o direito de escolher um candidato, independentemente do
meu." Depois de o EL PAÍS publicar reportagem revelando o pagamento, o TSE mandou retirar do Facebook dele o vídeo
pró-Bolsonaro.
Ativismo
nas redes
A cruzada de Hang para libertar o país daqueles a quem chama
de socialistas, comunistas e esquerdistas não é recente. Ele já abriu várias
frentes de disputa nas redes sociais. Em 16 de maio de 2018, antes da greve dos caminhoneiros, publicou um vídeo em frente a um
posto de gasolina no qual criticava o aumento do preço dos combustíveis. No
vídeo ele anunciava que os postos de combustíveis da Havan venderiam 20.000
litros de gasolina sem impostos, no valor de 2,69 reais o litro.
O vídeo recebeu 1,2 milhão de visualizações. Dias depois, em 22 de
maio teve início a greve, sobre a qual Hang falou diversas vezes em postagens
no seu canal, sempre reivindicando a redução de impostos para empresas e a privatização
da Petrobras. Após a mobilização do caminhoneiros, a Procuradoria-Geral da
República solicitou uma investigação contra grupos suspeitos de inflar a greve.
Entre os investigados, estava Hang. O empresário havia sido identificado como
uma das lideranças do movimento mesmo sem ser parte da categoria, segundo uma
reportagem da CBN.
Daniel Ricken, da Procuradoria da República de Itajaí, informou que a
representação contra Hang chegou ao Ministério Público, mas que não foi levada
adiante. O MP entendeu que pelo fato das empresas de Hang não se enquadrarem
como serviços de interesse público, as ações de Hang durante a greve não eram
ilícitas. Questionado sobre a ação do empresário de comercialização de gasolina
a 2,69 reais por litro, o Ministério Público declarou que desconhece a
informação. Hang afirma que tudo fez parte de uma fake news e que
estava na Europa na época da greve.
Em janeiro deste ano, Hang também já havia publicado em sua página um
vídeo anunciando que no dia seguinte, às 13h, soltaria 13 minutos de fogos de
artifício em comemoração à condenação do ex-presidente Lula. De fato, o
empresário transmitiu ao vivo no Facebook a prometida queima de fogos ao som do
hino nacional. O vídeo rendeu 960.642 visualizações, mais de 50.0000 reações
(em sua ampla maioria positivas) e 10.000 compartilhamentos, mas provocou uma
série de protestos em frente a lojas da Havan em diversos municípios de Santa
Catarina. Faixas acusavam o empresário de sonegar impostos. Ele respondeu com um vídeo que rendeu ao seu canal oficial o maior
engajamento já registrado em uma postagem da página. Publicado em 27 de
janeiro, o vídeo de Hang exibia o empresário em frente a uma de suas lojas
negando as denúncias dos manifestantes enquanto exibia uma cópia de seu
certificado de antecedentes criminais. O vídeo obteve 2.903.900 visualizações e
64.000 compartilhamentos.
Hang minimiza os protestos: "Meia dúzia de gatos pingados, não
são clientes da Havan. Só boi de piranha pagos para fazer isso. Ninguém tem que
ter medo de falar a verdade e ir contra o que está errado nesse país".
Ele refuta as acusações de sonegação. "Minha empresa não
depende de Governo ou de empréstimo para Governo para vender. Nos anos do PT,
se compramos alguma coisa pelo BNDES,
foram máquinas e equipamentos financiados pelo Finame [Agência Especial de
Financiamento Industrial]. Quem recebe é a empresa de quem compro o
equipamento, não a minha pessoa."
EL
PAÍS
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