MAR
CENTENERA
Ex-presidenta
argentina é acusada de receber propinas milionárias de empresários por obras
públicas
O caso dos cadernos da corrupção levaria a ex-presidenta argentina Cristina
Kirchner à prisão se não fosse senadora e não tivesse imunidade. Nesta
segunda-feira, 17, um juiz processou e pediu a prisão preventiva da
ex-mandatária, acusada
de chefiar uma organização criminosa que tinha como objetivo arrecadar
propinas milionárias de empresários por obras públicas. O juiz Claudio Bonadio
a acusou também de cometer os crimes de corrupção passiva e tentativa de
suborno em várias ocasiões.
A prisão de Kirchner só será possível se dois terços dos senadores
aprovarem a perda de seu foro privilegiado, uma possibilidade que hoje parece
distante. A coalizão governista Mudemos é minoria na Câmara Alta e o chefe do peronismo federal,
Miguel Ángel Pichetto, descartou por enquanto essa possibilidade.
Em sua sentença, o juiz Claudio Bonadio considerou a existência de
“uma organização criminosa formada por funcionários públicos, que se valendo de
meios oficiais (incluindo veículos, equipamentos de telefonia celular, etc.) e
comandados por Néstor
Carlos Kirchner e Cristina Elisabet Fernández, e do Ministério do
Planejamento [chefiado por Julio de Vido], agiu entre os anos 2003 e 2015”.
Também foram processados por volta de trinta ex-funcionários e
empresários ligados às obras públicas. Entre eles estão Angelo Calcaterra,
primo do atual presidente argentino, Mauricio Macri, que
declarou ter feito sob pressão pagamentos ilegais para financiar as campanhas
eleitorais kirchneristas; Aldo Roggio, Gerardo Ferreyra, Luis Betnaza, Carlos
Wagner e Enrique Pescarmona. Bonadio processou também o ex-secretário de Obras
Públicas José López e o ex-titular do órgão de controle de concessões viárias
Claudio Uberti. Muitos testemunharam se dizendo arrependidos, mas a lei prevê
benefícios judiciais para eles a partir da etapa de julgamento desde que o
tribunal considere que suas contribuições foram relevantes à investigação.
O caso explodiu no começo de agosto a partir das minuciosas
anotações de Oscar Centeno, chofer de Roberto Baratta, o homem forte de De
Vido. Durante 10 anos, Centeno anotou em oito cadernos escolares centenas de
viagens com malas carregadas de dinheiro, produto de supostas propinas que
construtoras pagavam em troca de contratos com o Estado. O caso não parou de
crescer até se transformar em um escândalo sem precedentes que, como a Lava Jato, envolve
ex-funcionários, empresários poderosos e até juízes.
Bonadio acha que existem indícios que permitem sustentar que Baratta e
outros funcionários da pasta efetuaram as cobranças a diversos particulares e
que o dinheiro depois foi levado, “na maioria das oportunidades”, em veículos
guiados por Centeno.
“A partir disso e antes de receber a porcentagem que correspondia aos
seus serviços, vinham entregar os fundos arrecadados a outros funcionários”,
que “por fim os entregavam aos verdadeiros beneficiários da manobra ilícita”:
Néstor Kirchner, Cristina Kirchner e Julio de Vido, acrescentou.
EL
PAÍS
Nenhum comentário:
Postar um comentário