Clarissa Neher
Para conter especulação imobiliária
e reverter crise habitacional, prefeito da capital alemã estuda adotar modelo
de proibição semelhante ao recentemente aprovado na Nova Zelândia. Medida,
porém, enfrenta obstáculos.
A
especulação imobiliária encontrou em Berlim um terreno fértil nos últimos anos
e tem atraído principalmente investidores estrangeiros. Em apenas uma década, o
preço dos imóveis subiu 104% na cidade, o que atinge diretamente
inquilinos locais. Esta não é primeira vez que abordo o tema na coluna (e
provavelmente não será a última).
Encontrar
uma moradia pagável na capital alemã é algo cada vez mais raro. Em dez anos
morando em Berlim, pude acompanhar essa transformação, que começou lenta em
bairros como Prenzlauer Berg, Mitte e Kreuzberg, e que nos últimos cinco
anos se espalhou rapidamente por toda a cidade.
Esse
processo está transformado Berlim, onde diversas classes sociais ocupavam o
mesmo espaço e florescia o pequeno comércio local.
Atualmente,
os mais carentes estão sendo empurrados para a periferia, muitos acabam indo
morar na rua, e apenas grandes redes conseguem arcar com o valor cobrado em
aluguéis de salas comerciais. A explosão dos aluguéis também se reflete no
aumento de preços em restaurantes e bares.
Para
conter essa crise habitacional que está transformando a cidade, o governo local
avalia proibir a venda de imóveis a investidores estrangeiros. A medida não é
uma novidade. Recentemente, a Nova Zelândia aprovou uma lei que proibiu a
compra, por estrangeiros, de imóveis residenciais.
Em
entrevista a um jornal alemão, o prefeito de Berlim, Michael Müller, afirmou
que o governo local prepara um plano para conter a especulação imobiliária na
cidade e avalia adotar uma medida semelhante à da Nova Zelândia.
Especialistas
entrevistados por diversos jornais, porém, afirmam que a proibição não é
tão simples como parece. Primeiro, por não haver dados sobre nacionalidade
de donos de imóveis na cidade. Segundo, porque muitos imóveis são adquiridos
por empresas alemãs, das quais investidores estrangeiros possuem ações.
Por
exemplo, a maior empresa do setor imobiliário de Berlim é a alemã Deutsche
Wohnen, com cerca de 110 mil apartamentos. Por trás dela estão diversos
investidores, incluindo o fundo soberano da Noruega.
Outro
aspecto a ser considerado é que a União Europeia não permite leis que
discriminem cidadãos de outras nacionalidades do bloco.
A ideia
de Berlim parece, portanto, inicialmente inviável. Depois do bafafá causado
pela declaração do prefeito, o governo amenizou um pouco o tema e afirmou que
avalia a restrição da venda de imóveis a estrangeiros que os adquirem visando à
especulação imobiliária.
Se
Berlim vai de fato tentar adotar uma proibição e como ela será, só será
revelado no fim deste ano ou início do próximo, quando um plano para enfrentar
a atual crise habitacional será apresentado. Resta esperar para ver.
DW-Deutsche Welle
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