Vera
Magalhães
O clima no PSDB é de desalento. Esgotados todos os prazos fixados por
Geraldo Alckmin para “realizar” seu potencial de crescimento eleitoral e a 18
dias das eleições, a esperança passou a ser o surgimento de algum “fato novo”,
portanto exógeno à própria campanha, ou de um sentimento de última hora que una
o eleitor moderado em torno do tucano.
Na busca pelo tal fato novo, pessoas próximas a Fernando Henrique
Cardoso tentaram convencê-lo a procurar Alvaro Dias e Henrique Meirelles e
fazer um apelo pela união tardia do centro em torno de Alckmin. O ex-presidente
não se animou a dar esse passo de novo. De acordo com um de seus mais diretos
interlocutores, FHC avalia que o quadro está caminhando para se definir na
polarização entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.
A reunião do comando da campanha de Alckmin nesta terça em São Paulo
foi uma última tentativa de apertar os parafusos disponíveis, mas a constatação
dos participantes é de que a caixa de ferramentas está meio vazia. O marketing
foi poupado publicamente, mas nos bastidores a avaliação é de que não teria
sabido aproveitar o tempo de TV dado pelos partidos a Alckmin e transformado em
“latifúndio improdutivo”, nas palavras de um político.
Nesse inventário privado de erros, sobra também para Tasso Jereissati,
eleito bode expiatório por ter fornecido, com a entrevista ao Estado na reta
final da disputa, munição aos adversários para fustigar o PSDB – sendo o
partido a maior âncora de Alckmin, no entender de siglas aliadas.
No barata voa da reta final, diante da consolidação da polarização
eleitoral entre Bolsonaro e Haddad, sobram engenheiros de obra pronta. O que
mais se diz é que a campanha tucana demorou a bater no PT, deixando o
antipetismo como bandeira exclusiva do capitão.
Acontece que, semanas atrás, antes mesmo da facada, o discurso era
outro, entre os próprios políticos do Centrão, que diziam que o “inimigo” a ser
batido primeiro era Bolsonaro, e o PT seria o alvo no segundo turno, uma vez
que se acreditava na repetição quase por osmose da eterna disputa entre
petistas e tucanos pela hegemonia política brasileira.
Agora, diante da chance real de o PSDB ser substituído pela direita
genuína, depois de servir de cavalo de Troia para ela desde 1994, com a aliança
com o PFL de Bornhausen e ACM, os tucanos, perplexos, se dividem sobre o que
fazer no segundo turno caso estejam mesmo assistindo da janela. O mais provável
é que o partido se exima de apoiar alguém, mas não serão poucos os tucanos a
pousar num e noutro poleiro. O mesmo vale para o Centrão, que, antes mesmo da
reunião da Rua Alasca (a ironia do endereço), já se divide numa diáspora nem
tão silenciosa.
DAY AFTER
Mercado analisa riscos de Bolsonaro e Haddad
Em rodadas de conversas nas últimas semanas com representantes de
bancos, fundos de investimentos, corretoras de valores e empresários do setor
produtivo, passei a ouvir ponderações sobre os riscos de vitória de Bolsonaro
ou de Haddad – os dois cenários mais presentes em relatórios e gráficos.
Operadores de São Paulo e do Rio avaliam, com pouca dissonância, que Haddad
traria risco mais imediato de disparada do dólar e reversão de decisões de
investimentos, dada a questão do futuro de Lula.
Para esses agentes, o PT explicitou, mais do que Bolsonaro, a intenção
de dar um cavalo de pau institucional, se preciso, para livrar seu líder maior.
As palavras mais amenas do candidato nos dois últimos dias, depois do
“liberou geral” dos aliados, foram vistas como pouco confiáveis. Sobre
Bolsonaro, o temor maior recai sobre suas condições de saúde e os sinais de
desentendimento no núcleo mais próximo, a começar pelo vice, general Hamilton
Mourão.
O
Estado de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário