Hélio Duque
Ao
comparecer às Zonas Eleitorais, os brasileiros estarão definindo o Brasil que
querem para o futuro. Ante o presidencialismo de coalisão, quem vier a ser
eleito tem um desafio: vai governar para o povo ou vai se submeter ao
fisiologismo do Congresso Nacional. Essa deformação na década de 2006-2016 foi
responsável por um dos piores crescimentos históricos do PIB (Produto Interno
Bruto) “per capita”, em décadas.
Facilmente
comprovável, quando se equipara com o desempenho de outras nações emergentes.
Agravados com descontrole da dívida pública bruta atual de 88% do PIB, que pode
atingir 95% em 2023, de acordo com projeção do FMI. Nos países emergentes a
média é de 40%.
No
período algumas políticas sociais introduziram mecanismos que amenizaram, mas
não resolveram a dramática pobreza brasileira. A questão social é grave pela
concentração da renda, gerando privilégios indecorosos. Na outra ponta a renda
do trabalhador, da classe média assalariada, em processo de redução expressivo.
O desemprego estrutural agrava essa realidade injusta. São temas áridos da
economia, que afetam a vida da maioria da população, mas ignorados nos
programas e debates televisivos dos presidenciáveis.
Diante
dessa realidade, a farra dos privilégios é invencível na vida econômica
nacional. No período de 2003 a 2016 (governos Lula, Dilma e Temer) o grande
capital foi o grande vitorioso, como demonstram os números. Os subsídios
financeiros, desonerações e as renúncias tributárias, benefícios fiscais,
custaram ao país R$ 3,5 trilhões (quase 1 trilhão de dólares). Isto em um
governo que se dizia popular. Em verdade foi o beneficiário de grupos
econômicos e bolsos de quem menos tem necessidade de favores oficiais, afetando
diretamente o desenvolvimento, impactando a modernização produtiva e reduzindo
a criação de um emprego. A rigor, a administração pública brasileira, em
diferentes governos, vem sendo capturado e elevando ano após ano a renúncia
fiscal como política econômica de Estado. A elevada carga tributária brasileira
é, também, consequência desses privilégios.
No ano
passado o déficit público nominal, diferença entre receitas e despesas,
incluindo os juros da dívida pública, atingiu R$ 562 bilhões. Os brasileiros,
pela ação do governo e visão parcial da mídia jornalística, omitem o “déficit
nominal” e dão destaque somente ao "déficit primário” (excluindo os juros)
que foi de R$ 155 bilhões. Em 2019, quando assumirá o novo presidente da
República, as renúncias e benefícios tributários crescerão em 8%. Atingirão R$
306 bilhões, agravando ainda mais a situação econômica no primeiro ano do novo
governo. Os grupos de interesses, formalizado no Congresso nas suas
corporativas frentes parlamentares, não abrem mão dos seus privilégios.
Resta
indagar: esse viés de política econômica não é um dos responsáveis pela
desigualdade da renda nacional? Um exemplo dessa deformação tem o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico) como protagonista. Entre 2008 e 2015, o
Tesouro Nacional captou a preços de mercado R$ 500 bilhões, emprestado a
grandes empresas (a exemplo da JBS) a taxas de juros subsidiados, a TJLP, muito
inferior à Selic. Quem paga o subsídio implícito é a sociedade. Acrescente que
poderosas empresas, a exemplo da indústria automobilística, usam largamente de
incentivos tributários e redutíveis ao longo das últimas décadas.
Trabalho
do Instituto Fiscal Independente constatou que, somente com empréstimos e
financiamentos, o governo federal tem a receber R$ 1.545 trilhão. Os dois
principais devedores são o BNDES, com R$ 636,3 bilhões e os Estados e
Municípios no total de R$ 577,0 bilhões. São questões dramáticas que serão
enfrentadas por quem venha a ser eleito.
Se
renascidos de volta ao mundo temporal, Jesus, Maomé ou Moisés, eleitos
presidente da República, teriam desafios satânicos e diabólicos para colocar o
Brasil em nível civilizatório na sua administração pública. Ajuste fiscal,
equilíbrio das contas públicas, abertura comercial, desconcentração da renda e
justiça social seriam frentes de combate permanente. Valendo dizer que nenhum
governo terá êxito se não adotar essas reformas fundamentais para o futuro
brasileiro. A situação fiscal do Brasil é insustentável.
catve.com
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