Murillo de Aragão
A
denúncia “tabajara” do procurador geral da República, Rodrigo Janot, contra o
presidente Michel Temer, o afastamento temporário do senador Aécio Neves do
mandato e a condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Sergio Moro aprofundaram
ainda mais a confusão em que o país está metido. O que vai acontecer? Algumas
tendências estão desenhadas.
A
reforma previdenciária, apesar de urgente e essencial, ficou prejudicada.
Poderá voltar em uma versão “light” se houver empenho bastante do governo. A
denúncia de Janot deve ser rejeitada pela Câmara, salvo se ocorrer, de hoje até
a semana que vem, algum fato novo. Acho que não, mas todo cuidado é pouco.
Coisas improváveis acontecem no Brasil, como país, e no Botafogo, como time.
A
segunda denúncia de Janot, sobre a qual ele disse não ter pressa de soltar,
deve ter igual destino. Afinal, não funcionou a bala que ele e o empresário
Joesley Batista, da JBS, fabricaram e o ministro Edson Fachin, do Supremo
Tribunal Federal, endossou.
A
condenação de Lula, amparada em excessivas duzentos e tantas páginas, deve ser
mantida, mas já causou o efeito de colocar Lula como candidato presidencial. É
o que resta a Lula: incluir a narrativa de perseguido por Moro em seu
currículo. Somente os incautos podem acreditar em tamanha baboseira. O Brasil,
como sabemos, é um país de incautos.
No
final, acho que Lula, para o bem das esquerdas, vai ser impedido de disputar as
eleições em 2018. O ideal seria que o aparato “lulopetista” e quejandos
apoiasse o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, fraco e “poseur”, porém
menos arcaico que os demais. Só um pouco melhor.
Se o
povo soubesse da real necessidade de fazer a reforma previdenciária, ela já
teria sido aprovada. Sem mexer na Previdência, o Planalto passa o tema para a
agenda prioritária do próximo governo. Seja ele qual for.
Se
sobreviver – o que é provável –, Temer terá uma nova maioria que deverá, contudo,
ser menor do que aquela que apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff. A fracassada bala de prata de Janot destruiu a base e, como efeito
colateral, antecipou as preocupações com as eleições.
Os
“cabeças pretas” do PSDB, preocupados com o patrulhamento da mídia, debandaram
e não estão dispostos a salvar Temer. Pensam que serão justiçados pelas urnas.
É natural que pensem dessa forma, pois temem não se eleger. Não sabem que a
grande mídia pode destruir alguns, mas não a maioria, que se elege de carona no
quociente eleitoral dos outros.
A
questão vai ser resolvida, como sempre, na caneta. E a caneta de Temer ainda
tem muita tinta, mesmo em meio à crise fiscal. Paradoxalmente, a tinta da
caneta do presidente pode ter o condão de eleger muitos.
Uma
palavra sobre Lula e o PT: ao invés de fazerem uma viagem para o futuro, ambos
estão de volta ao passado. Apoiam, inacreditavelmente, o regime de Nicolás
Maduro na Venezuela e não aceitam fazer uma autocrítica. Vivem no autoengano.
Um horror para as forças verdadeiramente progressistas – se é que elas existem
por aqui – e para o futuro.
O PT
resolveu disputar a vaga do rebaixamento no ranking das forças políticas
retrógradas. Pau a pau com o PSOL e o deputado Jair Bolsonaro. Não devo
esquecer-me de mencionar Aécio Neves, uma decepção para muitos.
A
certeza que fica é que o segundo semestre será tenso e emocionante. Tanto pelos
fatos em si quanto pela evidente intenção de quem noticia transformar tendência
ou hipótese em realidade.
Diário do Poder
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