Cristovam Buarque
Ser moderno é servir aos interesses
do público
Apolítica
brasileira sofre de apego ao passado. Até mesmo as forças progressistas deixaram
de ser portadoras do novo. Mas nunca foi tão urgente imaginar o futuro desejado
e como construí-lo.
O novo
está mais no dinamismo decorrente da coesão social, do que na disputa de
interesses de grupos, corporações e classes: empresários precisam entender que
há um interesse nacional comum a todos brasileiros; os trabalhadores precisam
perceber que a luta sindical não deve sacrificar a estabilidade nacional, nem o
bem-estar do conjunto do povo. Ser moderno é servir aos interesses do público,
seja com instrumentos estatais, privados ou em parceria.
O novo
exige que a economia seja eficiente, que a moeda seja estável e que o seu
excedente seja usado para cuidar dos serviços públicos com qualidade e respeito
aos usuários. O novo está na educação de qualidade capaz de construir uma
sociedade do conhecimento, da ciência, da tecnologia, da inovação, da cultura.
O novo
não é mais a proposta da igualdade plena na renda, que, além de demagógica, é
autoritária, ineficiente e não respeita o mérito, o empenho e as opções
pessoais. O novo está na tolerância com uma desigualdade na renda e no consumo
dentro de limites decentes, entre um piso social que elimine a exclusão e um
teto ecológico que proteja o equilíbrio ambiental. Entre estes limites, é
preciso a escada social da educação que permita a ascensão das pessoas,
conforme o talento e o desejo de cada um.
O novo
não está mais na ideia de uma economia controlada sob o argumento de ser justa,
mas no entendimento de que o seu papel é ser eficiente sob regras éticas nas
relações trabalhistas, no equilíbrio ecológico e na interdição de produzir bens
nocivos. O novo está na definição ética do uso dos resultados da economia
eficiente para construir a justiça, com liberdade e sustentabilidade,
especialmente garantindo que os filhos dos brasileiros mais pobres terão
escolas com a mesma qualidade dos filhos dos mais ricos.
O novo
não está na riqueza definida pelo PIB, a renda e o consumo, mas na evolução
civilizatória, por exemplo; não está no número de carros produzidos, mas na
eficiência como funciona o transporte público. O novo não está na velocidade
como se destroem florestas e sujam-se os rios, mas na definição de regras que
permitam oferecer sustentabilidade ecológica e monetária. O novo não está na
segurança de mais prisões para bandidos, mas na paz entre os cidadãos.
O novo
não está mais no excesso de gastos e de consumo, mas na austeridade que permita
sustentabilidade e bem-estar. A política nova não está apenas na democracia do
voto, mas também no comportamento ético dos políticos, em eleições com baixo
custo, espírito público sem corporativismo, e na apresentação de propostas para
o futuro nos atuais tempos de mutação, mesmo que isso implique em suicídio
eleitoral, porque em tempos de mutação, os portadores do novo correm o risco de
solidão.
Mesmo
assim, é preciso dizer: o novo está na educação.
O Globo
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