Raphael Di Cunto
(*)
Conservador
nos costumes, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado em pesquisas
para a Presidência em 2018, está longe do pensamento liberal da direita na
economia. Ele admite entender pouco do assunto e adota posições públicas contraditórias.
Como
deputado, tem posições corporativistas, combate o ajuste fiscal e o
"Estado mínimo". Ferrenho adversário dos petistas, esteve mais vezes
alinhado ao PT em votações do que seu discurso agressivo deixa transparecer.
Contradição
marca ideário econômico de Jair Bolsonaro
Conservador
nos costumes, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado em
pesquisas de intenção de voto para a presidência da República em 2018, está
longe do pensamento liberal da direita na economia, área que admite dominar
pouco e onde sua atuação e posições públicas são por vezes contraditórias.
Militar
de carreira, marcou seus mandatos por uma postura corporativista e de combate a
projetos de ajuste fiscal, é contra a liberação da venda de terras para estrangeiros,
não concorda com o conceito de "Estado mínimo" e a venda de todas as
estatais e critica o uso da taxa de juros para controlar a inflação. Ferrenho
crítico dos petistas, esteve mais vezes alinhado ao PT em votações do que o
discurso radical deixa transparecer.
Em meio
a maior recessão da história do país, o Valor conversou com aliados, familiares
e o próprio Bolsonaro ao longo das últimas semanas para entender o que pensa o
presidenciável. Também fez um levantamento de vídeos em suas redes sociais,
onde tem 4,4 milhões de seguidores, declarações em eventos e do histórico de
votações nos seus sete mandatos na Câmara.
O Valor
não é o único a procurá-lo. Com o crescimento nas pesquisas, agentes do mercado
e empresários tentam conhecer suas ideias para tirar o país da crise.
"Semana passada um grupo de grandes banqueiros queria falar comigo. Adiei
a conversa", conta. "O cara falou: querem te ouvir sobre economia.
Falei: você está de brincadeira. Eu é que tenho que ouvir os banqueiros sobre
economia", relata. "É a mesma coisa que eu ir no [hospital] Albert
Einstein e ensinar medicina".
Bolsonaro,
porém, já participou de três reuniões com agentes do mercado em São Paulo e no
Rio. E não se constrange ao falar que não domina a área. "Se sou candidato
a presidente, tenho que entender economia com profundidade? Então tenho que
entender medicina também porque vou indicar o ministro da Saúde. E tem que ser
PhD em português porque, afinal de contas, vou indicar o ministro da
Educação", diz, desviando a conversa para sua zona de conforto - segurança
pública, acusações contra o PT e movimentos LGBT.
Mas,
segundo aliados, o deputado ficou especialmente incomodado com entrevista em
maio à rádio "Jovem Pan" com o historiador Marco Antônio Villa, que o
acusou de não entender nada de economia. Brigaram ao vivo por 45 minutos.
Depois da discussão, Bolsonaro passou a tratar mais do tema e pediu indicações
de economistas e estudiosos. Reestudou o atlas para citar de cabeça dados sobre
Estados, geografia e jazidas minerais do país.
O
deputado disse ao Valor que já tem o apoio de um economista de peso, que não
revela o nome, e que consulta antes de entrevistas. "Porque depois vai vir
uma palavra errada minha sobre economia e vão ficar em cima daquilo para tentar
me desgastar. Não vou cair nessa", afirma. Questionado se defende o
liberalismo econômico, rebate que "hoje você fala em ser liberal mais para
diminuir o assédio do Parlamento sobre as estatais".
Um de
seus filhos, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), é apontado por
aliados como uma influência mais à direita e é autor, por exemplo, de projeto
para quebrar o monopólio dos Correios sobre serviços postais. Terceiro da
linhagem, ele faz pós-graduação sobre o pensamento econômico da escola
austríaca no Instituto Mises Brasil, batizado em homenagem ao fundador dessa
linha de pensamento, Ludwig Von Mises, defensor radical do liberalismo. Na
visão do filho, o pai ficou com a pecha de corporativista e estatizante por
causa de um segundo momento do regime militar, com a criação de estatais como a
Embrapa. "Mas ele é o candidato perfeito para o mercado", sustenta.
Deputado
é a favor de flexibilizar a legislação trabalhista, mas faltou quando a Câmara
aprovou a terceirização
O pai
minimiza. "Ele é garoto, ele é garoto. Você tem que diminuir a influência
do Estado sim, mas não é abrir as porteiras", pontua. O pré-candidato
defende que parte das 148 empresas estatais do governo federal deve ser
extinta, "por serem cabides de emprego", e parte privatizada, mas o
setor de energia, especialmente, deve ser preservado. Ele ainda não sabe dizer
qual o destino que daria para cada uma. "Isso vou decidir junto com o
BNDES. Quem sou eu para dizer o que tem que fazer com a estatal X?", questiona.
Apesar
do discurso forte e decidido, na prática sua atuação se mostrou, muitas vezes,
contraditória. Defensor de regras trabalhistas mais flexíveis, Bolsonaro se
ausentou nas duas vezes em que a Câmara votou e aprovou a regulamentação dos
serviços de mão de obra nesta legislatura. Em um vídeo, alegou que
"tomaria pau" da imprensa e da população não importasse qual fosse
sua posição no assunto.
Mesmo
pregando a redução do Estado, ele nunca esteve alinhado à agenda de contenção
de gastos nesses sete mandatos de deputado. Pelo contrário, atuou em grande
parte do tempo para defender corporações do funcionalismo, em especial os
militares, sua base eleitoral, a favor de reajustes salariais, pensões e
questões relacionadas as carreiras.
Crítico
ferrenho dos petistas e da esquerda, o parlamentar não hesitou em se aliar ao
PT na luta contra as reformas de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ganhou nota
9 de 10 do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) pela
atuação "pró-trabalhadores" no período. Os demais deputados de seu
partido na época, o PP, tiverem média 1,5.
Bolsonaro
foi favorável ao texto principal de um dos marcos da gestão FHC, a Lei de
Responsabilidade Fiscal em 1999. Mas votou com os petistas em cinco das oito
emendas para desidratar a proposta, que elevariam o limite de gastos com
pessoal, impediriam que novas despesas tivessem que ser compensadas com cortes
em outras áreas ou aumento de receitas e que o contingenciamento orçamentário
excluísse o pagamento da dívida pública.
O pacote
de ajuste fiscal proposto pela ex-presidente Dilma Rousseff em seus dois
mandatos também foi combatido pelo deputado - que, contudo, usou pouco a
tribuna da Câmara para expor suas opiniões. Bolsonaro, já de saída do PP para o
PSC com a intenção de concorrer à Presidência, votou contra todas as medidas
provisórias, de restrições a benefícios trabalhistas e previdenciários até as
de aumento de impostos.
A
oposição intransigente ao PT ocorreu mesmo em contradição com seu discurso.
AoValor, o deputado criticou a reforma da Previdência Social proposta por Temer
e, como alternativa, afirmou que era preciso "expor" os bancos em vez
de tirar sangue dos aposentados. "Cadê o sacrifício do sistema
financeiro?", pergunta. Mas, no governo Dilma, ele foi o único do PP a
votar contra o aumento na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para
bancos. O Valor tentou falar com ele sobre essa divergência, mas não teve
retorno.
Em
outras ocasiões, Bolsonaro afirmou ser favorável à redução da carga tributária,
e nesse ponto sua atuação sempre foi na mesma linha. Foi um dos dois deputados
do PP a votar contra a prorrogação da Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira (CPMF) no governo Lula e também contrariou o partido na
gestão de Dilma, contra o fim da desoneração da folha de pagamentos e aumento
de outros impostos.
Pré-candidato
defende manter parte das estatais como públicas e discorda da política de
controle de inflação
Ao
Valor, o pré-candidato discordou da política monetária do governo. "Taxa
Selic alta é a política de controle da inflação do doutor Henrique Meirelles
para fazer você comprar uma TV na Casas Bahia e pagar por duas", afirma.
Para ele, essa é uma ideia errada e desestimula investimentos no setor
produtivo. "Se taxa de juros servisse para conter inflação, com
honestidade, por que no Japão a taxa de juros é negativa? Lá a inflação devia
ser 500%. E não próxima de zero", defende. A Selic só tem caído, sustenta,
porque os próprios bancos estão com medo de calote devido aos altos juros.
As
posições contra um ajuste fiscal que penalize o funcionalismo público
continuaram sob Temer. Bolsonaro votou contra o plano de recuperação proposto
pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para seu Estado, o Rio, que vive
situação calamitosa nas contas públicas. O governo local ficará até seis anos
sem pagar a dívida com a União em troca da venda de estatais, aumento de
alíquota previdenciária, contenção de despesas pela inflação.
Também
criticou, ao longo de semanas, a proposta de emenda à Constituição (PEC) do
Teto de Gastos, que limitou o crescimento das despesas do governo federal à
inflação. Dizia que isso congelaria por 20 anos os salários e pensões dos
servidores e que o correto era o corte de juros. "Muito triste é ver o governo
apunhalar as Forças Armadas de forma mais que draconiana", acusou.
No dia,
contudo, votou a favor da PEC e se explicou nas redes sociais num vídeo de um
minuto em que defende, de forma sucinta, que o projeto permitirá a retomada do
emprego. Metade da gravação é dedicada à sua categoria: diz que acertou com o
governo que a proposta não atrapalhará a revisão da carreira dos militares.
A
intenção de atrair investimentos externos é confrontada com uma postura dura
contra iniciativa da bancada ruralista de permitir a venda de grandes áreas de
terras para estrangeiros. Nesse ponto, fala mais alto a veia militar e a defesa
do território nacional. "Nossa segurança alimentar vai ficar na mão da
China, assim como nossa segurança energética. Vamos ser turistas no Brasil",
diz. Por outro lado, ele se alia aos ruralistas pela flexibilização do
licenciamento ambiental e nos ataques a índios e quilombolas.
A veia
militar também surge na promessa de que tocará as grandes obras com a ampliação
dos batalhões de engenharia do Exército. "A corrupção está concentrada no
Ministério dos Transportes", pontua, ignorando que, com o aumento das
obras nas mãos de militares, cresceram também denúncias de irregularidades na
corporação.
Do
governo Temer, elogia a reforma trabalhista, que "achava até que tinha que
ser mais profunda". Cita Paraguai e Estados Unidos, dois países que
pretende visitar até o ano que vem, como exemplo de onde menos direitos teriam
dado resultado. "Aqui [Brasil] é o país dos direitos, mas o povo está
insatisfeito. Nos Estados Unidos não tem direitos, não tem férias, mas então
por quê um monte de gente quer trabalhar lá?", questiona.
A
flexibilização dos direitos para os trabalhadores da iniciativa privada já era
defendida por ele na década de 1990, quando votou para que a negociação entre
sindicatos e empresas prevalecesse sobre a legislação - o que passará a valer
agora com a reforma. Bolsonaro repete frase, que atribui a empresários, de que
a população deve decidir sobre "menos direitos e emprego ou todos os
direitos e desemprego". Faz questão de reforçar que a frase não é sua,
"que tentaram usa-la para desgastá-lo", embora não deixe clara qual sua
opinião.
Valor Econômico
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: defesa das empresas estatais.
Este é um tema que encontra muita ressonância nas FFAA.
- O nacionalismo desenvolvimentista.
Isto começou com Getúlio Vargas.
- Investir em estatais, independente
do controle da inflação e do aumento da dívida. Geisel fez isto e quebrou o
país. Só voltamos a respirar em 1994 com o Plano Real.
Um candidato que não tem opinião
formada sobre economia e defende a implantação de empresas estatais, é uma
temeridade. Empresas estatais só podem ser aceitas, se forem administradas como
toda empresa privada é: com eficiência e respeito aos acionistas. A primeira
providência é a proibição absoluta da prática do empreguismo; todos seus funcionários sob a legislação da CLT; do apadrinhamento
nos cargos de diretoria e gerencia; da interferência dos políticos na sua
administração. Políticos tem que ser proibidos
de adentrar nos escritórios da empresa.
Se isto for conseguido, pode haver
empresas onde o governo é acionista majoritário.
Capitalismo Social: por estas e outras
que defendo o fim dos partidos políticos e a livre participação dos cidadãos como
candidatos aos cargos eletivos.
http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2017/05/706-sistema-eleitoral.html
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