Russel Kirk
“A mazela que afeta os adolescentes perpétuos
de nossa ‘Civilização do Espetáculo’ criou gerações de criaturas que temem
encontrar a Verdade e não reconhecem, deliberadamente ou por ignorância, a
existência do Bem e do Belo, preferindo a ilusão confortante oferecida tanto
pelas falsas promessas de ideólogos ou demagogos quanto pelos ilusórios
confortos medíocres.
Entorpecidos
pelo ópio da ideologia ou embriagados pelo absinto do hedonismo relativista, os
homens (e mulheres) ocos de nossa época são netos da ‘Idade da Razão’ e filhos
da ‘Era da Informação’. Fundado nas percepções reducionistas da ideologia do
cientificismo, durante a Idade da Razão houve um gradativo processo de
substituição do ideal de sabedoria proposto pela Filosofia Clássica por um tipo
de conhecimento prático que deu ensejo para que esse mesmo saber utilitário,
posteriormente, fosse subjugado pela informação, que veio a se tornar o
instrumento de dominação dos manipuladores e o entretenimento dos manipulados.
Na Era
da Informação a promessa de aproximar as pessoas por meio das novas
tecnologias, paradoxalmente, está afastando os seres humanos ao criar o novo
vício de indivíduos conectados ao mundo virtual, mas desconectados da
realidade.
Nesta
terra desolada, em que a mente dos homens (e mulheres) ocos é inebriada por
ideologias ou pelo relativismo, não há possibilidade de compromisso
intelectual com a Verdade, apenas com a opinião da maioria; aí a informação
pode ser apropriada e manipulada como melhor aprouver aos desejos subjetivos.
Nesse
contexto, a moralidade perde qualquer relação com os absolutos morais, com as
noções de certo e errado cuja aplicação passa a ser uma mera questão de
preferência e de escolhas individuais; a linguagem perde o sentido,
transforma-se na ‘novafala’ do politicamente correto, em que palavras passam a
significar o que deseja o arbítrio de quem as profere, fazendo com que os
debates sobre qualquer temática não mais se submetam à razão e aos fatos
objetivos, que são substituídos por opiniões subjetivas expressas em jargões;
e, também, a lógica argumentativa, na maioria das vezes, cede espaço às ofensas
pessoais e ao sentimentalismo.
Nessas
circunstâncias, vemos desvencilhados, na produção artística, os padrões
estéticos objetivos da ‘grande arte’, acusados de elitismo, são substituídos
por critérios subjetivos, justificados ideologicamente pela nova classe dos
críticos de arte ou pelas demandas mercadológicas das massas, muitas delas
criadas artificialmente.
Guiado
pelo reformismo pedagógico, o propósito da educação deixa de ser a busca pelo
autoconhecimento e pelo entendimento do sentido das coisas, essenciais ao
ordenamento da alma e da comunidade política, e passa a assumir, confusamente,
um caráter ideológico de adestramento voltado à promoção pessoal, treinamento
técnico, sociabilidade, socialização, certificação profissional e interesses
dos políticos governantes.
Igualmente,
os bons costumes aprendidos no exercício disciplinado das virtudes, sustentadas
pelo senso religioso e pelo espírito de cavalheirismo, nutridos pela imaginação
moral e pela educação liberal, são descartados como moda ultrapassada e
dão lugar ao barbarismo.
O
necessário equilíbrio político entre direitos e deveres bem como a meritocracia
são substituídos pela ideologia do democratismo, que transforma a comunidade de
cidadãos num aglomerado massificado de indivíduos apáticos, preocupada, apenas,
com as mesquinhas vantagens da barganha com o Estado, transformado num poder
onipotente, controlado por políticos corruptos e inescrupulosos e pela
burocracia opressora, que passa a regular todos os aspectos da vida social”.
Russell Kirk
“O
Peregrino na Terra Desolada”
Thoth3126
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