quarta-feira, 19 de julho de 2017

Oposição venezuelana anuncia Governo paralelo e greve geral

EWALD SCHARFENBERG

Assembleia Nacional também nomeará novos juízes para o Supremo Tribunal

A oposição venezuelana anunciou nesta segunda-feira, um dia depois de conseguir um apoio maciço entre seus concidadãos em um referendo simbólico, que na quarta-feira lançará as bases para forjar um Governo de unidade – com a incógnita de se incluirá chavistas críticos – e convocou uma greve geral para quinta-feira. A Assembleia Nacional também nomeará novos juízes para o Supremo Tribunal na terça-feira, segundo o anúncio do deputado de oposição Freddy Guevara.

Quase à meia-noite de domingo, os responsáveis pela inédita consulta informaram que, com 95% dos votos apurados, 7,2 milhões de pessoas tinham atendido ao chamado da oposição para expressar sua rejeição à futura Assembleia Nacional Constituinte, que o Governo de Nicolás Maduro promove, e apoiar por sua vez a formação de um Governo de unidade. “Na quarta-feira anunciaremos os preparativos para formar um Governo de unidade nacional”, disse Guevara em uma entrevista coletiva. No domingo se especulava que um Governo paralelo ou na sombra contaria de antemão com o reconhecimento de potências internacionais e de outros Governos da região.

“Na quinta-feira nos preparamos para uma greve cívica nacional de 24 horas”, acrescentou. As medidas anunciadas pela Mesa da Unidade Democrática (MUD) buscam transformar o referendo em um ultimato ao regime chavista. “A consulta de domingo é uma coisa que não tem parâmetros nem antecedentes”, diz a analista política e professora da Universidade Simón Bolívar (USB) de Caracas, Colette Capriles. “Era algo entre uma eleição e um protesto, algo que talvez pudesse ser chamado de protesto eleitoral, que, no entanto, não pode ser medido com os critérios de uma nem do outro. Às coisas que são feitas é preciso dar um contexto, mas a verdade é que ninguém se atreveu a dar um enquadramento adequado à manifestação da oposição no domingo, nem sequer a dar sinais em termos de gestão das expectativas; ainda no sábado ninguém dava um tostão pelo que aconteceria no domingo”.

Espera-se que, ao completar a contagem, seja alcançado o total de 7,5 milhões de participantes. É um número robusto, maior do que os votos obtidos pelo candidato Henrique Capriles nas eleições presidenciais de 2013 e inferior apenas ao da clamorosa vitória da oposição nas eleições parlamentares de dezembro de 2015, quando esta obteve 7,8 milhões de votos contra 5,6 milhões do partido no poder. Mas tampouco foi a goleada que a MUD queria em um cenário ideal: o objetivo, então, teria sido superar com folga os 7,5 milhões de votos com os quais Nicolás Maduro obteve a presidência em abril de 2013.

Dificuldades logísticas
Conseguiu igualar esse número, o que obrigou o comando da oposição a comunicar o resultado de maneira didática, matizando-o com a enumeração de todas as dificuldades logísticas que o evento teve de superar para acontecer com êxito: apenas duas semanas de organização, um número de lugares de votação que representa apenas uma fração daqueles disponíveis nas eleições regulares e a censura total nos meios de comunicação oficiais, entre outros.

“Acredito que os resultados têm um significado tático e outro estratégico”, diz a analista Capriles, que não tem parentesco com o líder da oposição. “O primeiro é que a Assembleia Nacional, tão golpeada, recupera sua legitimidade para retomar suas competências e promover a nomeação dos novos membros do Supremo Tribunal e do Conselho Eleitoral. O outro é o mandato para formar um Governo de unidade nacional”.

Qualquer novo passo adquire contornos de urgência à medida que se aproxima o dia 30 de julho, data na qual as autoridades eleitorais, aliadas do Governo, marcaram as eleições para escolher os deputados que comporão a Assembleia Nacional Constituinte. Esta é vista por seus proponentes e adversários como uma reviravolta definitiva que o regime chavista tentará para fechar a possibilidade de alternância no poder. A MUD, que deu a esse dia um caráter de data-limite, anunciou que a consulta popular de domingo também marcou o início de uma contagem regressiva para evitar que a Constituinte seja realizada. Assim, a MUD intensifica a pressão que vem colocando nas ruas desde abril, quando começou uma onda de protestos nos quais uma centena de pessoas já morreu.

EL PAÍS

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